Kenneth Mitchell (1974-2024)
O ator canadiano participou em Star Trek: Discovery e Captain Marvel. Morreu no sábado, depois de há cinco anos e meio lhe ter sido diagnosticada esclerose lateral amiotrófica
Kenneth Mitchell nasceu em novembro de 1974 em Toronto, no Canadá. O pai, David, era empreiteiro e a mãe, Diane, enfermeira. Levou a vida normal de uma criança na província de Ontário e demonstrou desde cedo gosto por atividades físicas (como futebol e andar a cavalo) e pela vida ao ar livre. Daí ter entrado para o Kilcoo Campo, um acampamento de verão para rapazes no Lago Gull, em Halliburton. Primeiro, como simples campista, depois como monitor de jovens, função que ocupou durante oito anos. O acampamento, fundado em 1932, acabou por se tornar tema de discussão quando, no fim dos anos 90 e início do século XXI, foi associado a casos de abuso sexual, mas Mitchell não esteve no rol de suspeitos ou de vítimas.
Foi nessas férias que Kenneth ganhou curiosidade pelo mundo do espetáculo, mas o futebol continuava a ter um papel importante na vida dele. Durante os cinco anos que frequentou a Universidade de Guelph, em Ontário, além de terminar o curso de Arquitetura Paisagística foi jogador da equipa universitária – era atacante e tinha jeito para marcar golos. No quarto ano do curso foi estudar para a Austrália e, no regresso, resolveu tentar a sua sorte na paixão que teimava em não desvanecer: a representação. Em Toronto, juntou-se às aulas de teatro do ator e produtor David Rothenberg, ao lado de futuras estrelas como Scott Speedman e Rachel Adams, entre outros.
Em 2004, foi escolhido para entrar no filme Milagre, com Kurt Russell, interpretando um jogador de hóquei no gelo da década de 1980. Seguiram
-se as séries Jericho (2006 a 2008) e The Astronaut Wives Club (2014), até que o universo Star Trek entrou na sua vida. Entre
2017 e 2021 representou três personagens Klingon (Kol, Kol-Sha e Tenavik) e deu corpo a Aurelio, uma personagem que andava de cadeira de rodas.
E havia uma explicação para isso: em 2018, Mitchell foi diagnosticado com esclerose lateral amiotrófica (ELA), uma doença neurológica degenerativa que, com o correr dos dias, se tornou cada vez mais incapacitante. O ator manteve-se profissionalmente ativo até 2022 (foi Joseph
“QUANDO MORRER QUERO TORNAR-ME UMA ÁRVORE: GINKO, PINHEIRO, JACARANDÁ, LIMOEIRO, CARVALHO...”
Danvers em Capitão Marvel), mas em 2020, numa entrevista à revista People, confessara que não podia, nem queria, esconder mais o diagnóstico: “Pensei que, em vez de me resguardar em casa – o que, se for essa a escolha de cada um também está bem – sinto que é tempo de sair e fazer ouvir a minha voz.” E continuou: “Quando tomei conhecimento, foi uma descrença total, um choque. Penso que há algo que posso oferecer e quero ser parte disso. Se puder inspirar nem que seja uma pessoa, isso significará muito para mim.”
Em agosto de 2021, perdeu a capacidade de falar e todo o processo degenerativo levou à sua morte no passado dia 24 de fevereiro (tinha 49 anos). Deixou a mulher, Susan, a filha Lilah e o filho Kallum, além de uma mensagem, escrita pelo próprio, em forma de poema – “Quando morrer, quando deixar esta vida, quero tornar-me uma árvore, ginko, pinheiro, jacarandá, limoeiro, cedro, carvalho, murta ou ácer. Quero ser enterrado sob as raízes para poder ser absorvido, toda a minha matéria, a minha energia, o meu amor, o meu riso, as minhas lágrimas e quero chegar ao topo pelos ramos e tocar o céu noturno.” ●