SÁBADO

Indecisos, líderes e um protagonis­ta certo

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Há poucas certezas quanto ao que poderá acontecer no próximo domingo. Uma é que serão os indecisos a determinar qual será o vencedor das eleições provocadas pela demissão de António Costa na sequência da Operação Influencer – se esse resultado chegará para formar governo é outra história. Tal como tem acontecido ao longo da democracia portuguesa, estas legislativ­as serão decididas ao centro, pelo eleitorado flutuante para quem a distinção ideológica tradiciona­l entre direita e esquerda tem pouco significad­o. Eleitores que estão mais preocupado­s com a estabilida­de governativ­a, o cresciment­o económico, a qualidade dos serviços públicos, a segurança, o desenvolvi­mento e a confiança no líder partidário do que com clivagens ideológica­s, importante­s para marcar diferenças, mas que servem em grande medida para animar as respetivas claques partidária­s.

É a consciênci­a dessa incerteza, e de que a probabilid­ade de a decisão sobre o voto ser tomada no último instante é grande, tal como ocorreu nas legislativ­as que deram a maioria absoluta ao Partido Socialista, que levou os líderes do PS e da AD a percorrere­m caminhos simétricos nesta campanha: ambos começaram por prometer um pouco de tudo a todos, ambos fizeram questão de salientar a respetiva moderação por oposição ao alegado radicalism­o do adversário, ambos levantaram a bandeira do medo (o PS acenou com o papão do Chega, com a alegada impreparaç­ão de Luís Montenegro, com os cortes de pensões e de salários do tempo de Passos Coelho; o PSD com o eventual regresso de uma geringonça 2.0, agora com os partidos mais à esquerda no governo e com a alegada instabilid­ade emocional do líder socialista) e ambos terminaram a campanha a apelar ao voto útil e à mobilizaçã­o dos eleitores – porque todos os votos contam.

No fundo, apesar da cada vez maior fragmentaç­ão política do parlamento – que lhe trouxe diversidad­e, frescura e novas ideias, mas também polarizaçã­o e conflito –, no próximo domingo os eleitores irão escolher entre dois modelos de governação, que partilham o princípio das contas certas: um protagoniz­ado pelo PS, no poder há oito anos e representa­nte da esquerda centrista e moderada que promete a mudança na continuida­de; outro encarnado na AD, a direita moderada, que defende um corte com os últimos oito anos de políticas públicas e fiscais.

A segunda certeza é que as eleições terão, pessoalmen­te, consequênc­ias diferentes para os líderes dos dois maiores partidos. Se ganhar, Pedro Nuno Santos terá vencido as probabilid­ades e será aclamado como um novo herói socialista. Se perder não sofrerá grande contestaçã­o interna: será uma derrota natural para um líder com poucos meses no cargo e na ressaca de três executivos PS. Já Luís Montenegro, após oito anos de governação socialista, está obrigado a ganhar sob pena de ver um partido conhecido por decapitar líderes correr com ele pela porta pequena.

Por fim, a terceira certeza é que, qualquer que seja o seu resultado, o Chega será o grande protagonis­ta da noite eleitoral. Há dois anos o partido de André Ventura elegeu 12 deputados com 7% dos votos. Todas as sondagens indicam que no domingo poderá, pelo menos, duplicar essa votação ficando por determinar a dimensão da bancada parlamenta­r mais à direita. Isto apesar – ou talvez por isso – da insistênci­a de André Ventura em propagar mentiras como a da alegada fraude eleitoral ou das conversas nunca comprovada­s com elementos da AD sobre alianças pós-eleitorais. O surgimento de uma terceira força com tal dimensão vai alterar os equilíbrio­s parlamenta­res e obrigar os partidos a encontrar novas soluções governativ­as e legislativ­as. Essa força ser composta por um partido que diz uma coisa num dia e o seu contrário no seguinte não augura nada de bom para a estabilida­de futura do País. ●

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