SÁBADO

Chegadistr­ibui tachosnaAR eautarquia­s

O partido contrata desde 2022 jotas e candidatos autárquico­s para assessoria na AR e em municípios. Em Loures, Bruno Nunes contratou um deputado municipal.

- Por Alexandre R. Malhado Os “deputados” A contradiçã­o

Na Câmara de Loures, onde é vereador, o deputado Bruno Nunes contratou a empresa do deputado municipal do Chega Nuno Pardal para a sua assessoria

André Ventura prometeu na semana passada, na Guarda, que “os tachos vão acabar”. “Eles [os outros partidos] têm medo do Chega porque sabem que os tachos vão acabar”, disse o presidente do partido, em plena campanha eleitoral. São palavras que contrastam com a contrataçã­o de boys do Chega para gabinetes em autarquias e no parlamento.

Em Lisboa, quatro membros do gabinete municipal do Chega foram candidatos autárquico­s ou são militantes do núcleo da capital. A assessora Flávia Reis Lopes foi a cabeça de lista para a câmara da Golegã, ficando em último lugar com 2,58%, 81 votos. Perdeu, mas a formada em Fashion Design pela Escola Superior de Artes Aplicadas ganhou quatro meses depois uma avença de “apoio administra­tivo à atividade do grupo municipal do Chega na Assembleia Municipal de Lisboa”, lê-se no contrato de prestação de serviços, firmado a 25 de fevereiro de 2022. Já tinha concorrido a assistente técnica no município da Amadora, sem sucesso – mas agora pela porta do Chega, conseguiu-o por ajuste direto. Ficou previsto ganhar 500 euros por mês, mas foi aumentada 100 euros este ano.

O mesmo aconteceu com José Maya, que em Lisboa tinha sido cabeça de lista para a assembleia do Areeiro em 2021, e Tânia Morgado, candidata na lista pela junta de Campo de Ourique. Falharam até a eleição para membros de freguesia, mas ganharam uma avença de 900 euros para “assessoria no âmbito de apoio/técnico para apoio à atividade do grupo municipal do partido Chega na Assembleia Municipal de Lisboa”. Ambos foram aumentados para 1.050 euros mensais, mas só Tânia Morgado viu o seu contrato renovado este ano. No mesmo gabinete estava ainda Érica Reis Ricardo, destacada militante da concelhia de Lisboa.

Mas não são apenas os que falham a eleição que arranjam trabalhos – também os eleitos. Nuno Pardal é membro da Assembleia Municipal em Lisboa, mas foi contratado por 1.725 euros por mês para assessorar o vereador do Chega em Loures, o deputado Bruno Nunes. A 8 de fevereiro de 2023, Pardal firmou através da sua empresa Promoauto um contrato para “prestação de serviços, em regime de avença, de assessoria técnica nas áreas da comunicaçã­o, relações públicas e organizaçã­o de eventos”, com vigência até ao fim do atual mandato autárquico. À SÁBADO, fonte oficial da câmara de Loures confirma que os serviços de “trabalhado­r municipal” servem de apoio ao “gabinete político do vereador eleito pelo partido Chega”. “O contrato foi celebrado de acordo com a necessidad­e identifica­da e manifestad­a pelo gabinete político do Chega”, explicou a autarquia.

O contrato com Nuno Pardal surgiu quatro dias depois de o jota João Campos ter pedido para cessar funções. Era ele que prestava esse serviço. A 26 de janeiro de 2023, o militante e designer havia firmado um contrato de 1.000 euros mensais para “assessoria técnica de design, redes sociais e comunicaçã­o para o gabinete político do Chega” em Loures, mas pediu para sair dias depois. Não seria caso único de jota contratado: Nuno Beirão, o vereador do Chega em Odivelas, escolheu em março de 2022 o dirigente da jota Ricardo Reis para seu assessor. A avença foi de um ano, no valor de 18.167 euros (cerca de 1.500 euros por mês). O contrato já terminou,

Bastidores

Segundo o vereador ex-Chega de Sesimbra, Márcio Souza: “Chegaram a propor-me nomear uma assessoria vinda de Lisboa” mas a experiênci­a ficou.

Hoje em dia, João Campos trabalha para o grupo parlamenta­r, apesar de não ter qualquer nomeação. O vínculo laboral é com o partido: “João Campos é funcionári­o do partido e nesse âmbito presta apoio na área da comunicaçã­o e imagem a todos os órgãos”, afirmou fonte oficial do partido na AR.

Será que Nuno Pardal, que é visto no hemiciclo diversas vezes, está contratado pela Câmara de Loures, mas presta serviços a Bruno Nunes na AR? À SÁBADO, o Chega não comentou nenhum dos casos, remetendo para as estruturas locais, que também não respondera­m. “No Chega, as orientaçõe­s nacionais são para que as contrataçõ­es sejam feitas pelo mérito e pela capacidade de trabalho. Aliás, o grupo parlamenta­r do Chega contratou várias pessoas sem vínculo ao partido e até outras vindas de outros partidos, prova evidente de que não há boys and girls.” De facto, vários membros do gabinete parlamenta­r do Chega vieram da estrutura administra­tiva do CDS-PP, por exemplo, mas também tem boys do partido. Além de João Campos, o vice-presidente da jota Frederico Tropa é assessor político. ●

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André Ventura tem dito durante a campanha legislativ­a que com o Chega “os tachos vão acabar”. Contudo, o partido que lidera tem feito precisamen­te o mesmo
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O vereador do Chega em Odivelas contratou por ajuste direto o jovem Ricardo Reis, dirigente da jota, para prestar apoio. Ganhava cerca de 1.500 euros por mês
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Um dos funcionári­os do Chega na Assembleia Municipal de Lisboa é Flávia Reis Lopes, que foi candidata do Chega à Câmara Municipal da Golegã. Estudou Fashion Design
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Pelo menos dois jotas trabalham para o gabinete parlamenta­r do Chega. Um é o assessor político Frederico Tropa, vice da juventude do partido, e o designer João Campos

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