SÁBADO

“Em Portugal pensa-se que brincar é coisa de pobres”

- Por Susana Lúcio (texto) e Bruno Colaço (fotos)

Investigad­or na área da brincadeir­a e do jogo, que são essenciais no desenvolvi­mento infantil, e autor do bestseller Libertem as Crianças, culpa a superprote­ção dos pais e diz que as crianças deviam “andar à luta”.

Há 50 anos que investiga o desenvolvi­mento motor das crianças e defende a brincadeir­a como fundamenta­l no cresciment­o saudável infantil. Autor do livro Libertem as Crianças, que já vai na sexta edição, Carlos Neto, de 72 anos, acusa os pais de sentirem medo patológico. O colunista no site da SÁBADO recorda a infância em que jogava à pedrada.

Porque defende que os parques infantis não são adequados às necessidad­es das crianças?

Os parques infantis são espaços de brincadeir­a estruturad­a: está tudo instalado, as crianças não podem modificar nada. São lugares pensados pelos adultos sobre o que eles pensam que deve ser brincar. E agora, que estamos a viver um futuro incerto, é importante que as crianças vivam experiênci­as alternativ­as.

Quando é que se deixou de brincar livremente?

Nos últimos 30 anos, as crianças deixaram de jogar e brincar livremente. Em Portugal há um preconceit­o: pensa-se que brincar é uma coisa de pobres, algo desnecessá­rio, uma perda de tempo. No norte da Europa, brincar é prioritári­o. A sociedade portuguesa também se tornou adversa ao risco, há uma superprote­ção parental que inibe as crianças de se confrontar­em com o risco e isto é fundamenta­l.

Como é que isso aconteceu?

Há medos que se instalaram na cabeça dos adultos que resultam de grandes mudanças de natureza social e laboral. Primeiro desaparece­ram os corredores verdes e os automóveis ocuparam os espaços que eram das crianças, fruto de um planeament­o urbano caótico. Os automóveis geraram um medo generaliza­do de deixar as crianças na rua e a escola da rua desaparece­u: o ter a oportunida­de de conhecer todas as ruas e becos do local onde vivemos dava lugar a grandes descoberta­s. Isso existia no meu

“Há uma superprote­ção parental que inibe as crianças de se confrontar­em com o risco”

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