“Em Portugal pensa-se que brincar é coisa de pobres”
Investigador na área da brincadeira e do jogo, que são essenciais no desenvolvimento infantil, e autor do bestseller Libertem as Crianças, culpa a superproteção dos pais e diz que as crianças deviam “andar à luta”.
Há 50 anos que investiga o desenvolvimento motor das crianças e defende a brincadeira como fundamental no crescimento saudável infantil. Autor do livro Libertem as Crianças, que já vai na sexta edição, Carlos Neto, de 72 anos, acusa os pais de sentirem medo patológico. O colunista no site da SÁBADO recorda a infância em que jogava à pedrada.
Porque defende que os parques infantis não são adequados às necessidades das crianças?
Os parques infantis são espaços de brincadeira estruturada: está tudo instalado, as crianças não podem modificar nada. São lugares pensados pelos adultos sobre o que eles pensam que deve ser brincar. E agora, que estamos a viver um futuro incerto, é importante que as crianças vivam experiências alternativas.
Quando é que se deixou de brincar livremente?
Nos últimos 30 anos, as crianças deixaram de jogar e brincar livremente. Em Portugal há um preconceito: pensa-se que brincar é uma coisa de pobres, algo desnecessário, uma perda de tempo. No norte da Europa, brincar é prioritário. A sociedade portuguesa também se tornou adversa ao risco, há uma superproteção parental que inibe as crianças de se confrontarem com o risco e isto é fundamental.
Como é que isso aconteceu?
Há medos que se instalaram na cabeça dos adultos que resultam de grandes mudanças de natureza social e laboral. Primeiro desapareceram os corredores verdes e os automóveis ocuparam os espaços que eram das crianças, fruto de um planeamento urbano caótico. Os automóveis geraram um medo generalizado de deixar as crianças na rua e a escola da rua desapareceu: o ter a oportunidade de conhecer todas as ruas e becos do local onde vivemos dava lugar a grandes descobertas. Isso existia no meu
“Há uma superproteção parental que inibe as crianças de se confrontarem com o risco”