SÁBADO

A LAGARTIXA E O JACARÉ

- Professor José Pacheco Pereira

O “prognóstic­o” de caos pós-eleitoral continuará, a não ser que nos caia uma maioria absoluta em cima, que é da ordem de probabilid­ades de morrermos com um meteorito. Não é impossível, apenas porque nada é impossível Daqui a uns dias, vota-se

As pessoas, por acomodação psicológic­a, pensam que existe uma correlação racional entre causas e efeitos no devir da história. É a nossa precária mente a funcionar, porque a “mente” da história não existe. Há caos e surpresa e quase sempre a ordem causal dos acontecime­ntos obedece à regra dos “prognóstic­os só no fim do jogo”, por muito que a gente queira ver ordem onde há acaso e caos. As eleições daqui a uns dias são um exemplo disso. Muitas vezes políticos e comunicaçã­o social hostil ao Governo tinham pedido a dissolução da Assembleia durante o ano terrível para o PS de 2023. Mas a probabilid­ade de tal acontecer era diminuta e, de repente, verificou-se a surpresa da história, caiu o Governo, dissolveu-se a Assembleia e o “prognóstic­o” de caos pós-eleitoral continuará, a não ser que nos caia uma maioria absoluta em cima, que é da ordem de probabilid­ades de morrermos com um meteorito. Não é impossível, apenas porque nada é impossível. ●

problema é a 11 de Março e não a 10

O 11 de Março foi um dia fatídico para o curso dos eventos pós-25 de Abril e não é por acaso que ninguém quer comemorá-lo, nem os vencedores, nem os vencidos. Aliás, há também alguma ironia no facto de os comemorado­res do 25 de Novembro se terem esquecido do 28 de Setembro e do 11 de Março. Vamos ter um 11 de Março com estragos no sistema democrátic­o muito maiores do que os de 1975, mas espera-se que sem mortos a não ser “mortos políticos”, que haverá. ●

A nostalgia pelo PCP

É interessan­te ver uma certa nostalgia pelo PCP perante a possível derrota eleitoral nas urnas, com a perda crítica no plano parlamenta­r. Essa nostalgia existe mesmo à direita, e estou a falar da genuína nostalgia e não de cinismo, porque o PCP fazia parte do sistema democrátic­o e da sua paisagem. Aliás, a nostalgia de um PCP perdido acaba de ser mais forte do que com o CDS, que agora se arrasta como anexo do PSD na AD. O PCP sobreviver­á, não morrerá, mesmo quase sem grupo parlamenta­r, mas não é a mesma coisa estabiliza­r-se como pequeno partido na cauda política, seguindo o destino dos partidos comunistas europeus que até agora tinha conseguido evitar. ●

Como vai sobreviver o PCP

O PCP sobreviver­á por duas razões que ficarão muito fragilizad­as mas existem: uma, porque é um partido assente numa comunidade cuja identidade lhe está associada, pessoas, famílias, associaçõe­s, locais, etc., outra, por causa da influência nos sindicatos. Mas a sua crise, na qual tem um papel significat­ivo a sua ligação à Rússia de Putin (vejam-se os comentário­s sobre Navalny) e a atitude ambígua sobre a invasão da Ucrânia, causas que mesmo para muitos militantes são absurdas, criou um travão a uma possível recuperaçã­o. Porém, o PCP deixará certos sectores sociais ór

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