SÁBADO

Guardem as vossas rosas, só queremos direitos

- Advogada

PARA AS MULHERES feminis-feministas, é muito irritante receberebe­r uma flor ou um voucher paraa ir ao ca-cabeleirei­ro no dia 8 dee março. Não é porque somos chatas, é porque somos cultas.

Esta sexta-feira, dia 8 de março, celebramos o Dia Interna-acional da Mulher. O con-texto histórico desta dataa é ignorado por muitos, pelo que convém relembrá-lo. O dia da Mulher foi assinalado pela primeira vez a 28 de fevereiro de 1909, por ini-ciativa do Partido Socialista­lista Americano, para comemorar a greve das costureira­s na cidade de Nova Iorque, três anos antes, em 1906.

Na Conferênci­a Inter-nacional das Mulheres So-Socialista­s de 1910, em Cope-penhaga, a líder dos Sociais-ais- -Democratas alemães – sauda-saudades de quando estas designaçõe­ssignações políticas correspond­iamam real-realmente às posições dos partidos políticos – e secretária da Organizaçã­o Internacio­nal das Mulheres Socialista­s, Clara Zetkin, propôs que se celebrasse todos os anos, na primavera, um Dia Internacio­nal da Mulher para homenagear o movimento pelos direitos das mulheres e apoiar a sua luta pelo sufrágio universal. A proposta foi acolhida por unanimidad­e e com entusiasmo. Os objetivos eram claros: melhorar as condições de trabalho e de vida das mulheres da classe trabalhado­ra, igualar os direitos de cidadania, incluindo o sufrágio universal e o direito de ocupar cargos públicos e lutar pelo direito das mulheres ao emprego, à formação profission­al e ao fim da discrimina­ção no local de trabalho.

Um ano depois, a Organizaçã­o Socialista Internacio­nal das Mulheres celebrou o primeiro Dia Internacio­nal da Mulher, envolvendo manifestaç­ões de mais de 1 milhão de pessoas na Áustria, Alemanha, Suíça, EUA e Dinamarca. Até ao início da I Guerra Mundial, em 1914, o Dia Internacio­nal da Mulher era celebrado pelo movimento socialista e social-democrata das mulheres em cada vez mais países para manifestar publicamen­te as suas reivindica­ções.

Durante a revolução russa de fevereiro de 1917, as mulheres aproveitar­am o Dia Internacio­nal da Mulher para manifestar, protestar e fazer greve por “Pão e Paz” a 8 de março. Quatro dias depois, o czar abdicou e o Governo Provisório Mencheviqu­e concedeu às mulheres o direito de voto. Desde então, o dia 8 de Março foi comemorado por movimentos de mulheres socialista­s e comunistas como a data central do Dia Internacio­nal da Mulher. Hoje, o dia é conhecido pela sigla internacio­nal “8M”.

O 8M serviu, ao longo do último século, como um dia para celebrar as conquistas sociais, políticas, económicas e culturais das mulheres. É também uma oportunida­de para fazermos, coletivame­nte, um ponto de situação sobre a igualdade de género e refletir sobre o que falta conquistar. Em todo o mundo existem marchas – recomendo, a quem tiver simpatia pela causa, que se junte a umauma deladelas, cá em Portugal –, encontros,contros, conferênci­as, exposições,ções, festfestiv­ais e palestras subordindi­nados a este tema.

A causa deixou de ser das mumulheres “socialista­s e comumunist­as” do início do século XX, mas não deixou de ser da causa feminista. Em virtude da crescente popularida­de do Dia da Mulher, há quem julgujulgu­e que a data serve para celecelebr­ar a “existência” da mulher (?) e assinale o dia com a oferta de uma flor, símbolo da delicadeza e beleza que tradiciona­lmente orienta o “ideideal feminino” ou com piroserose­iras como vouchers para tratamento­s de beleza. Caso alguns leitores tenham cometido um destes faux pas no passado, peço que poupem a carteira.teira. GuardemGua­r as vossas rosas, as mulheres das vossas vidas só queremrem direitodir­eitos. ●

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