SÁBADO

O SÍTIO DO PICA-PAU VERDADEIRO

No Príncipe Real, em Lisboa, o Pica-Pau serve petiscos portuguese­s ao balcão, no terraço ou na sala de jantar. Com o chef Luís Gaspar nos bastidores, este é o novo cartão de visita da cozinha portuguesa na capital.

- Por Ângela Marques

NO FUTEBOL diz-se que as camisolas não ganham jogos. Regra geral, quem o diz é o treinador que, desconfiad­o da hipótese de a equipa que treina planear entrar em campo sobranceir­a, tenta, assim, lembrar os jogadores de que os jogos só acabam quando o árbitro apita e que, até lá, é preciso correr tanto ou mais do que os adversário­s, por mais humildes que estes sejam. No fundo, contudo, toda a gente sabe que, quando um treinador diz isto, normalment­e está a mentir – porque é claro que a camisola ajuda a ganhar jogos. Como ajuda a este Pica-Pau o facto de ter, na génese, inspiração no receituári­o de Maria de Lourdes Modesto. Combinemos: todo os gastrónomo­s portuguese­s admitirão que Maria de Lourdes Modesto é o Benfica da cozinha tradiciona­l portuguesa.

Apesar de ter um chef aos comandos, o Pica-Pau abdicou de um perfil autoral e apostou numa lógica de comida para todos os dias, sem conceitos ou interpreta­ções

A confissão é do próprio Pica-Pau e do seu chef, Luís Gaspar (distinguid­o em 2023 com o Prémio Chef de L’Avenir, Chefe do Futuro, atribuído anualmente pela Academia Internacio­nal de Gastronomi­a); o Pica-Pau tem alma de petisqueir­o dos pés à cabeça.

Na entrada, para tentar os clientes que queiram picar alguma coisa enquanto esperam por mesa (ou até para quem quiser ficar por ali), o balcão tem uma vitrina à antiga, com salgados como rissóis de leitão ou pastéis de bacalhau, pratinhos de salada de orelha ou de polvo, a camarão da costa ou os queijos e enchidos da praxe.

A carta principal repete o mantra “sem invenções, interpreta­ções ou reinvençõe­s”, com pratos como bacalhau à Brás (€16), bochechas de porco com puré de batata (€16) ou arroz de tamboril e camarão (€18). Há também o prato do dia – à segunda-feira serão servidos de pescada com arroz de tomate, à terça carne de porco à alentejana, à quarta açorda de gambas, à quinta é dia de cozido à portuguesa e a semana fecha com arroz de cabidela (sempre por €15). Ao fim de semana sobem ao palco o bacalhau à minhota (€18) e ao domingo o cabrito com arroz de forno (€20).

Antes, porém, de escolher o que vai ser a sua refeição, um desafio: resista àquele que pode bem ser o melhor couvert da cidade (simples, guloso, praticamen­te um tratado sobre preliminar­es): pão de Mafra, manteiga Rainha do Pico e molho do pica-pau (€3,50). Quem diz resistir diz “tente guardar espaço para o que há de vir”. ●

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A sala interior do restaurant­e, que tem ainda um terraço e uma sala para grupos pequenos
 ?? ?? Ao lado os peixinhos da horta (€8), em baixo o pica-pau que dá nome à casa (€19)
Ao lado os peixinhos da horta (€8), em baixo o pica-pau que dá nome à casa (€19)
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• R. da Escola Politécnic­a, 27, Lisboa
€25 (preço médio)
PICA-PAU • R. da Escola Politécnic­a, 27, Lisboa €25 (preço médio)

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