E o que é que tu podes fazer pelo teu País?
TU. SIM, TU. Gostas da democracia em Portugal, mesmo com todos os seus defeitos? Gostas da liberdade de expressão e da liberdade de associação? Da separação de poderes? De sermos, em princípio, todos iguais perante a lei? Achas que a democraciamocracia e o Estado de direito são conquistasonquistas que, tendo chegado tarde, precisam de ser cuidadas e reforçadas?as? Então, está na altura de deixares a indife-indiferença e a apatia. É hora de participarparticipar politicamente.
Muito se fala e escreve so-bre a abstenção e a apatiaa dos portugueses em atoss eleitorais e na política em geral. Em especial, esta conversa é muitas vezes dirigida aos mais jovens. Perdemos horas a discutir o que é que os partidos estãoão a fazer mal e onde é que os polí-olíticos erram: o problema da linguagem que não é acessível; a falta de representatividade, em que a maioria dos protagonistasas são homens de meia-idade;e; a falta de literacia sobre comomo o sistema funciona; a formarma como as juventudes partidáriasidárias se comportam e porque é quee não são atrativas para a maioria; a opacida-opacidade; o cacique; a falta de tempo livre das pessoas que, entre a precariedade laboral e os salários baixos, não conseguem dedicar-se a muito mais para além da sua sobrevivência e da sua família. Tudo isto é muitíssimo relevante. Devemos, sim, olhar e criticar o sistema e imaginar formas de melhorar a adesão e atenção popular à política partidária. Contudo, por pudor e, sim, por sermos politicamente corretos, pouco se analisa a questão no sentido inverso. Embora saibamos que são precisos dois para dançar o tango.
Não posso deixar de notar que observo muita gente à minha volta, de todas as idades, demasiado distante da política, não por falta de tempo nem por iliteracia, mas porque, pura e simplesmente, não querem saber. Numa era de profundo individualismo, em que cada vez mais somos movidos pelo nosso próprio bem-estar e conforto, ligar à política dá muito trabalho. É uma seca. Uma inércia que advém do conforto de viver num País livre e democrático: as liberdades básicas já estão asseguradas, agora os outros que se entretenham com o resto.
Esse crescente individualismo faz-nos perder, progressivamente, o sentimento de pertença a uma comunidade, social, económica e política. A independência do indivíduo nunca foi tão absoluta. Hoje, uma pessoa pode perfeitamente sobreviver – e até prosperar – sem interagir com outros seres humanos, coisa que nunca antes foi possível. Vivemos, como nunca, na era do “eu”. A política, em democracia, é quase o oposto disto – é a gestão da nossa vida coletiva, definindo o que é, a cada momento, o “interesse público”; é o equilíbrio dos vários interesses em presença através da capacidade de olhar o outro e compreender a sua vivência e a sua perspetiva.
Sim, quer saber de política dá trabalho. É, realmente, uma chatice ligar a televisão de vez em quando e prestar atenção às notícias. Subscrever um ou dois jornais ou revistas online ou comprá-los nas bancas, para ler alguns artigos sobre a atualidade e as decisões que estão a ser tomadas em nossa representação todos os dias. É ainda mais chato estar num partido ou numa associação subordinada a uma causa. Ter reuniões fora do horário de trabalho, pensar sobre os temas,mas, estuestudar, ler, formar uma opiniãonião devidamentedevi fundamentada. John F. Kennedy proferiu, em 1961, 19 a sua famosa frase: “NãoN perguntes o que é que o paísp pode fazer por ti; pergunta-te o que é que tu podes fazer pelo teu país”, que foi posteriormente capturada por narrativas nacionalistas e conservadoras. Julgo que agoraagor é hora de os democratas resgatarem esta ideia e responsabilizarem todos os cidadãos pela defesa da democracia, que se avizinha urgente e necessária.
Não Nã é um exagero – estamos perante uma ameaça à democracia. Todos os democratas são, neste momento, chamados a participar. A observar, a estarem aatentos, a pensar, a ler, a escrever e a debater. Depois não digam que não vos avisei.
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