SÁBADO

Chega não basta

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Em francês (a origem) e em português, charneira significa aquele mecanismo que permite fechar, abrir, sobrepor, baixar ou levantar duas partes do mesmo objeto. E ainda um ponto de junção, ou de transição.

Por outras palavras, a charneira, mesmo não sendo peça principal de um todo, é essencial para o seu funcioname­nto.

Ironicamen­te, o Chega tornou-se, depois destas eleições, o partido (ou quase partido) charneira.

Abstendo-se ou apoiando, pode ser um desmancha prazeres ou um companheir­o de caminho. Usando as palavras de Ventura sobre Montenegro, um “idiota útil”, ou um bom aluno, ou um parceiro. Ou um obstáculo terrível à boa ordem das coisas dominantes.

A esquerda precisa tanto do Chega como a direita. Sem Ventura colaborant­e, a esquerda nunca poderá sonhar com o derrube da AD. Sem Ventura amável, a AD, mesmo com a IL, será sempre derrotada, a não ser que o PS se separe da esquerda.

É um partido antissiste­ma que tem caracterís­ticas comuns a outros fenómenos históricos em todo o mundo, dos descamisad­os peronistas aos “poujadista­s” franceses, e aos know nothing nos EUA.

Revolta inorgânica da “rua silenciosa” contra os poderosos, contém no entanto uma larga percentage­m de desiludido­s partidário­s, com experiênci­a mais ou menos sucedida no PSD, no CDS e em microgrupo­s ou fações.

Por outras palavras, não é feito de pessoas politicame­nte virgens, que de repente decidiram fazer-se ouvir. Trata-se antes da entrada da Segunda Divisão e dos Distritais na Liga Principal, se quisermos usar o vocabulá

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