SÁBADO

DEPOIS DE AGUERRADOS­TRONOS, VEM A SCI-FI

Depois da fantasia, os criadores de Game of Thrones atiram-se à ficção científica. Há física (e muito dinheiro) nos oito episódios de O Problema dos 3 Corpos, para ver na Netflix. David Benioff e D. B. Weiss juntaram-se ao escritor e produtor Alexander Wo

- Por André Almeida Santos

O QUE FAZER depois de adaptar para televisão uma série de livros que muitos considerav­am inadaptáve­l, tornando-a um fenómeno que revolucion­ou a televisão – e o streaming – e pôs toda a gente à procura da next big thing? Sugestão 1: reformar-se. Sugestão 2: tentar replicar o formato. Sugestão 3: adaptar outra obra desafiante.

David Benioff e D. B. Weiss têm demasiado talento para se reformarem e acreditam que o melhor ainda está para vir. Mais do que isso, são suficiente­mente inteligent­es para saber que a next big thing não depende só deles. Sobra a opção 3, e aqui estamos, em

O Problema dos Três Corpos, nova série de oito episódios da Netflix que rouba o título ao primeiro livro da trilogia Recordação do Passado da Terra, de Liu Cixin.

Depois do sucesso de A Guerra dos Tronos, Benioff e Weiss juntaram-se ao escritor e produtor Alexander Woo para adaptar este fenómeno de ficção científica, editado originalme­nte na China em 2008 e traduzido para inglês seis anos mais tarde. Em 2014 tornou-se o primeiro romance asiático a ganhar o Prémio Hugo para Melhor Romance (que premeia livros de ficção científica e fantasia). Estará a dupla a tentar fazer na ficção científica o mesmo que fez com os mundos fantástico­s? Possível. O que nos leva à sugestão 2 de há pouco: talvez Benioff e Weiss não procurem a next big thing, mas a Netflix terá certamente isso em vista. Dúvidas? A produtora e distribuid­ora abriu a carteira e desembolso­u 146 milhões de euros para o projeto.

Parte da esperança no sucesso é a obra original. É uma obra muitíssimo popular (por cá os dois primeiros livros estão editados pela Relógio D’Água), tem entre os fãs o ex-Presidente norte-americano Barack Obama (que, segundo as notícias, recusou aparecer num cameo na série) e é uma obra alinhada com as

preocupaçõ­es ambientais da atualidade, ainda que o evidencie de forma pouco óbvia.

A história de Liu Cixin é um desafio. Acontece em três tempos diferentes em simultâneo, num passado ficcional, no presente e no futuro, e está num permanente jogo que faz o leitor questionar as linhas ficcionais. A versão para televisão altera e simplifica algumas coisas para tornar o au

O Problema dos 3 Corpos não vai curar a ressaca de GOT, mas vai encontrar aqui boa ficção científica, um género que anda de boa saúde no streaming

diovisual apelativo para o espectador casual, seja mudar a história do presente da China para Londres (embora o passado ainda se situe durante a Revolução Cultural) seja criar ligações mais óbvias entre passado e presente.

O que vemos na série? No presente, vários cientistas têm cometido suicídio. Em certos casos, alguns têm deixado como nota de suicídio um padrão de números (que, saberemos pouco depois, é uma contagem decrescent­e). Em simultâneo, alguns cientistas têm notado acontecime­ntos muito estranhos, que desafiam a ciência – e até a põem em causa –, nas suas investigaç­ões. Além dessas dúvidas, numa noite, o céu pisca (isso mesmo, pisca). No passado vai-se descobrind­o que uma cientista chinesa, como parte de um projeto secreto, conseguiu estabelece­r contacto com uma raça alienígena.

Como é que isto se liga? A raça alienígena, que vive num local próximo da Terra, resolve vir aqui à procura da resolução de um problema: vivem num planeta com três estrelas que orbitam à volta umas das outras. Não temos espaço – nem conhecimen­to – para explicar com dignidade o problema dos três corpos, que é de facto um problema da física e para o qual não há uma solução geral. Precisamen­te por esta não existir é que a raça alienígena vive com um problema derivado da órbita das estrelas, entre períodos que denominam como “eras de caos” (em que faz muito frio ou muito calor) ou “eras de estabilida­de” (com temperatur­as normais) e que não são previsívei­s.

A procura de cientistas terrestres vem com a necessidad­e de encontrar uma solução que possa prever estes ciclos. Como? Colocam-nos no centro da ação, no seu planeta, através de um sofisticad­o aparelho de realidade virtual. Claro que há muito mais a acontecer do que é possível contar em dois parágrafos, mas isso cabe ao espectador descobrir. Não vai curar a ressaca de GOT, mas vai encontrar aqui boa ficção científica, um género que anda de boa saúde no streaming nos últimos dois anos.

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O ator John Bradley e a atriz Jess Hong interpreta­m as personagen­s Jack Rooney e Jin Cheng A incursão na ficção científica de David Benioff e D. B. Weiss acontece depois do enorme sucesso de Game of Thrones
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O orçamento da série é avultado: a Netflix investiu 146 milhões de euros Yu Guming (esq.ª) e Zine Tseng também integram o elenco
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Já disponível
O PROBLEMA DOS 3 CORPOS • Netflix Já disponível
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