SÁBADO

SUSAN SONTAG: TUDO SOBRE AS MULHERES

Foi uma das mais poderosas pensadoras do século XX, escreveu sobre as mulheres e o lugar que elas demoravam a ocupar no mundo. Sobre as Mulheres é um livro de ensaios que não perdeu pertinênci­a com o tempo. Sobre as Mulhe res é a compilação essencial do

- Por Ângela Marques

NAS PRIMEIRAS décadas do século XXI (em que temos o prazer de viver para aprender), os famosos são famosos por tudo, mas sobretudo por nada. Ao contrário, nas últimas décadas do século XX, ser-se famoso implicava, no mínimo, ter uma obra para apresentar. Susan Sontag começou a desenhar a sua nos anos 60 – e, com ela, tornou-se famosa por pensar, mesmo sendo mulher. Sobre as Mulheres, agora editado pela Quetzal, é uma amostra do seu pensamento.

Sontag pensou muito sobre a “questão da mulher”. Só que a questão da mulher, como este exemplar nascido em 1933, em Nova Iorque, sempre soube, não é uma – é uma miríade.

Professora, ativista pela defesa dos direitos das mulheres (e, por conseguint­e, dos direitos humanos em geral), ficcionist­a e ensaísta premiada, Susan Sontag (1933-2004) concentra, neste livro, sete ensaios e entrevista­s (além de uma troca de argumentos pública) escritos desde a década de 70 até ao início dos anos 2000 – mas que se mantêm excecional­mente relevantes até hoje, ou seja, durante 50 anos.

Questões como a forma como as mulheres são punidas por envelhecer­em, a relação entre as lutas das mulheres e a luta de classes, a ideia de beleza como aspiração, o compromiss­o com o feminismo, o fascismo e o cinema são por ela abordados com uma pertinênci­a contemporâ­nea – nenhuma ideia de Sontag perdeu valor ou validade com o tempo.

“O desejo de se ter a ‘idade certa’ reveste-se de uma especial urgência para uma mulher que nunca possui para um homem. Uma parte muito maior da sua autoestima e do prazer que retira da vida é ameaçada quando deixa de ser nova. A maioria dos homens vive o envelhecim­ento com pesar e apreensão. Mas a maioria das mulheres vive-o de uma forma ainda mais dolorosa: com vergonha”, explica Susan Sontag na primeira grade reflexão do livro.

E vai mais longe, com a acutilânci­a que lhe é reconhecid­a: “Porventura por já serem seus opressores há tanto tempo, poucos homens gostam realmente das mulheres (embora adorem mulheres específica­s), tal como poucos homens chegam realmente a sentir-se confortáve­is ou à vontade ao pé de mulheres.” São lições, senhores, são lições.

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Susan Sontag teve um filho, David Rieff, e viveu os últimos 15 anos da sua vida com a fotógrafa Annie Leibovitz
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€15,93
SOBRE AS MULHERES • Editora Quetzal €15,93

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