SÁBADO

Péter Eötvös (1944-2024)

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Compositor, maestro e professor, foi uma das personalid­ades mais influentes da música europeia. Dirigiu a Orquestra Sinfónica da BBC e esteve associado à Casa da Música

Székelyudv­arhely. É assim que se chama a aldeia húngara onde nasceu, em 1944, Péter Eötvös. Nesse tempo, em plena II Guerra Mundial, a localidade fazia parte da Hungria ocupada, mas hoje é território romeno. No pós-conflito, a família mudou-se para Budapeste, onde o rapaz começou a estudar música, em especial as obras de Béla Bartók.

Péter acompanhav­a a mãe (pianista) em diversos encontros musicais da cidade, tendo também aprendido a tocar piano e a escrever pequenas peças. Aos 11 anos foi premiado num concurso musical e foi motivo de notícia ao nível nacional. O interesse despertado levou-o a entrar para a Academia de Música Franz Liszt.

Em 1958, com 14 anos, passou a acompanhar projeções de filmes ao piano e no órgão e, por altura da maioridade, o talentoso músico passou a escrever músicas para filmes e peças de teatro. Terá sido por esses anos que aperfeiçoo­u o sentido de tempo e de sincroniza­ção, bem como a importânci­a do ruído na composição musical.

Colónia, na Alemanha, foi a paragem seguinte. Ao mesmo tempo que estudava, trabalhava em estúdios de gravação, acedendo assim à tecnologia mais avançada da época. Iniciou então uma carreira profission­al que o levou a entrar para um dos coletivos musicais mais revolucion­ários do século XX, o Stockhause­n Ensemble, divulgador da sonoridade eletrónica. Foi Karlheinz Stockhause­n quem o convidou para engenheiro de som, entre outras funções, como de maestro, por exemplo, em atuações no teatro La Scala de Milão ou em Covent Garden, a casa da Ópera Real, em Londres, de que fez parte de 1968 a 1976, ao mesmo tempo que explorava outras propostas. Dessa forma, fundou o Oeldorf Group, conhecido pela música eletrónica ao vivo, e, no fim da década de 70 aceitou o cargo de diretor e maestro do Ensemble InterConte­mporain, projeto de música contemporâ­nea parisiense.

Entre 1985 e 1988, chegou a maestro principal da Orquestra Sinfónica da BBC, em Londres, tendo-se também destacado pela composição de óperas como

Três Irmãs (1988) e Amor e Outros Demónios (1998).

A sua última ópera ( Valuska) estreou em dezembro de 2023, em Budapeste.

STOCKHAUSE­N CONVIDOU-O PARA ENGENHEIRO DE SOM, ENTRE OUTRAS FUNÇÕES, COMO DE MAESTRO

Versatilid­ade é uma caracterís­tica apontada à sua obra, combinando diversos estilos musicais. Assim o classifico­u a crítica, encontrand­o influência­s que vão de Frank Zappa a Igor Stravinsky, alimentada­s pela manipulaçã­o eletrónica e pela amplificaç­ão sonora. Na sua relação com Portugal, onde atuou por diversas vezes, destaca-se a associação que teve à Casa da Música, no Porto. Foi compositor, maestro e grande contribuid­or para a divulgação e a excelência da música na cidade. Para o mês de maio está prevista a estreia de um concerto para harpa deste compositor, uma parceria com orquestras de Viena, Paris, Berlim, Genebra e Tóquio. Além do contributo em estúdio e nos palcos, Eötvös, que orientou a Orquestra Sinfónica do Porto, deixa também uma notável herança como pedagogo, tendo fundado escolas de formação e institutos em nome próprio e levado várias gerações de jovens para carreiras de maestros e compositor­es, sempre destacando a música contemporâ­nea. Péter Eötvös morreu no passado domingo, aos 80 anos, em Budapeste, após um longo período doente. ●

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LUIS GRAÑENA

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