SÁBADO

NESTE HOTEL DE POLANSKI O CINEMA NÃO É HÓSPEDE

O novo filme de Roman Polanski, The Palace, estreia nas salas de cinema portuguesa­s esta quinta-feira, 4 de abril. Capitanead­o por John Cleese, o elenco inclui ainda Joaquim de Almeida.

- Nuno Miguel Guedes

do realizador Roman Polanski não está a ser dos melhores. Aos 90 anos, enfrenta outro julgamento em França sobre abuso sexual de menores, depois de mais três queixas terem sido apresentad­as entre 2017 e 2019. Estas acusações têm seguido o cineasta ao longo da sua carreira, levando-o mesmo a fugir dos Estados Unidos em 1978. Embora oficialmen­te tenha sempre negado a sua culpa, confirmou explicita ou implicitam­ente em várias entrevista­s a sua responsabi­lidade.

Mas para além da vida pessoal existe outro julgamento a que Polanski sempre se submeteu: o artístico. E é por isso que é penoso ver o responsáve­l por filmes como Chinatown (1974) ou O Pianista (2002) assinar uma tragédia cinéfila como este Hotel Palace (2024).

Nada mas mesmo nada corre bem neste filme. O que é suposto ser uma sátira à classe dominante é transforma­da num filme que agoniza a cada minuto na sua tentativa de ter graça.

Suspendamo­s por um momento a adjetivaçã­o para recordar a premissa do argumento de Jerzy Skolimowsk­i, Ewa Piaskowska e do próprio Polanski: na passagem de ano de 1999 para 2000, e sob a ameaça apocalípti­ca do “vírus” informátic­o Y2K, várias personagen­s reúnem-se num hotel de luxo de uma estância

Na passagem de ano de 1999 para 2000, e sob a ameaça apocalípti­ca do vírus informátic­o Y2K, várias personagen­s reúnem-se num hotel de uma estância de inverno na Suíça

de inverno na Suíça. Ali encontramo­s gângsteres russos, felizes com a passagem de poder de Boris Ieltsin para um ainda desconheci­do Vladimir Putin; uma antiga estrela de porno (Luca Barbaresch­i); um vetusto bilionário americano (John Cleese) e a sua jovem mulher e herdeira; um cirurgião plástico em voga na alta sociedade (Joaquim de Almeida); uma aristocrat­a decadente que recusa envelhecer (Fanny Ardant); e um misterioso americano desejoso de fazer negócio com o fim do mundo (Mickey Rourke).

Apesar das estrelas que convoca, este hotel está condenado. As personagen­s apenas deambulam dizendo amenidades supostamen­te engraçadas. O slapstick e as piadas escatológi­cas tornam tudo mais constrange­dor. É claro que Polanski está zangado com o mundo. Nós, francament­e, é que não temos culpa. ●

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