As novas vítimas do dentista da TV
Uma semana depois de a SÁBADO ter denunciado o caso, há mais pessoas a apontar as más práticas de João Espírito Santo. “Não podia comer, e em pouco tempo perdi 11,5 kg”, revelou Ilda Pereira.
José Pereira, emigrante na Suíça, confessou à SÁBADO ter gasto já cerca de 50 mil euros, em supostos tratamentos à boca da mulher. Desses, 32 mil euros terão sido pagos a João Espírito Santo e o restante a médicos suíços para tentarem remediar o mal que terá sido feito na Clínica Medical Art Center, propriedade do dentista que há vários anos tem colaborado com programas da TVI, que o lançaram para o estrelato. O emigrante português mostrou à SÁBADO um raio-X que comprova que os implantes colocados na boca da sua mulher estão tortos, o que terá levado a sucessivas infeções e a mais de um ano de sofrimento. “Arrancaram-lhe os dentes todos, provocando graves hematomas na cara e no pescoço. Foi de tal forma violento que fiz um escândalo na clínica, porque não me deixaram sequer acompanhá-la. Chegaram a proibir-me a entrada. Quando saiu, parecia que estava completamente drogada e espancada”, disse à SÁBADO.
Já de regresso à Suíça confirmava-se o pior dos cenários: a prótese que lhe tinham colocado partiu-se nesse mesmo dia. “A partir daí foi o caos. Eu não podia comer, porque a placa partia-se por tudo e por nada, em pouco tempo perdi 11,5 kg. Cheguei a estar com o meu marido no restaurante e a ouvir aquele barulho: click! Fui à casa de banho e já vinha com as lágrimas nos olhos e ele disse: já partiu? Eu respondi: já. É triste, muito triste”, confessou Ilda Pereira.
Silvina Martins fala, por sua vez, em danos irreversíveis na sua vida, mostrando à SÁBADO parafusos visíveis, sempre que sorri ou abre a boca. “Chegaram-me a dizer: sem dinheiro e sem os seus dentes, vai ter que ficar assim. Chorei muito, já tinha pago cerca de 7.200 euros para ficar naquele estado.” Sem conseguir conter as lágrimas, disse que chegou a ver na clínica muitas pessoas desesperadas, sem saberem o que fazer. “Por isso, decidi dar a cara. Al
guém tem que parar este homem.”
De Amarante chega-nos o caso de Fernanda Saraiva, vendada durante a cirurgia realizada por João Espírito Santo, que lhe arrancou os dentes todos para lhe colocar implantes. “Ele não queria que eu visse o que me estava a fazer e por isso tapou-me os olhos. A dor era insuportável, gritei, pedi para parar, ele gritava comigo, tratou-me com tanta violência que acabei por desmaiar. Sai da clínica toda negra e aterrorizada”, disse à SÁBADO, confessando ter chegado ao ponto de ter pensado em suicidar-se. “Um dia disse isso ao doutor, que mais valia morrer. Sabe o que ele me disse? Que era uma decisão minha. Isto dito por um médico!”
A olhar fixamente para a imagem de Nossa Senhora de Fátima que tem colocada na cómoda do quarto, Fernanda pede todos os dias para que consiga sobreviver ao tormento. Ainda hoje tem dores e infeções por causa do buraco que tem entre a gengiva e a placa. Ao todo já pagou quase 15 mil euros, mas ainda faltam oito meses para acabar com o plano de pagamento acordado com a clínica.
Tribunal dá razão a ex-paciente
Nessa altura, Ana Mogo já tinha pago 14.500 euros de um orçamento de quase 26 mil euros. João Espírito Santo exigiu o restante, ou seja, cerca de 11.500 euros, mas Ana recusou-se a pagar, por considerar que o tratamento não estava concluído. O tribunal acabou por lhe dar razão.
Uma peritagem pedida pelo tribunal judicial de Loulé, decisiva para a sentença, refere o facto de todos os implantes apresentarem um processo inflamatório destrutivo, que afetava a gengiva e o osso à volta do implante. A ocorrência repetitiva de episódios infecciosos devia ter funcionado como um alerta de que algo não estaria a decorrer como o previsto, pode ler-se na sentença. “Ou seja, no fundo esta peritagem veio, no nosso entender, provar que foram cometidos erros médicos desde o início”, disse à SÁBADO Marisa Simões, advogada de Ana Mogo.
Seis anos depois de ser conhecida a sentença, João Espírito Santo nunca chegou a cumprir a decisão do tribunal. “Para acatar a sentença, o médico teria de dizer o plano de tratamento que ia ser feito e quem era o médico que o ia fazer, já que me recusava a ser tratada por João Espírito Santo. Nunca nos foi dada essa resposta”, concluiu Ana Mogo. Questionada pela SÁBADO, a TVI não confirmou se irá manter a colaboração do médico no Programa Dois às Dez, apresentado por Cristina Ferreira e Cláudio Ramos. ●