SÁBADO

PASSOS ESTÁ A PISCAR O OLHO AO CHEGA?

O que disse o antigo primeiro-ministro, em três ocasiões no último ano, e como foram entendidas as suas palavras.

- Por Rita Rato Nunes

Cada vez que Pedro Passos Coelho faz uma aparição no espaço mediático ressurge a questão sobre o entendimen­to entre o PSD e o Chega. André Ventura reage, aproveitan­do as declaraçõe­s do ex-primeiro-ministro para sustentar uma alegada aproximaçã­o entre os dois partidos, tal como a oposição. Luís Montenegro é obrigado a demarcar-se: “Não é não.”

Na segunda-feira, na apresentaç­ão do livro Identidade e Família, em Lisboa, Passos cruzou-se com Ventura: cumpriment­ou-o, felicitou-o pela “prestação” na Assembleia da República, mas não referiu no seu discurso a palavra “Chega”. Mas falou de entendimen­tos, em geral, o Chega aproveitou, a esquerda criticou: e é esse o padrão.

8 de abril O que disse?

“É fundamenta­l olhar para as pessoas que ficaram desiludida­s nestes anos (…) e que deram um sinal muito claro nas últimas eleições de que estão cansadas disso. É bom que todos aqueles que receberam um sinal de confiança muito forte para pôr fim a isso que ponham realmente fim a isso.”

Como Ventura aproveitou?

“Há um caminho que é de convergênc­ia na lógica do Dr. Pedro Passos Coelho. Talvez essa convergênc­ia permita um candidato presidenci­al.”

Como reagiu a oposição?

“É assustador que um ex-primeiro-ministro, um dirigente do PSD, tenha alinhado neste discurso, que é um discurso da extrema-direita”, criticou Pedro Nuno Santos, sobre a presença na apresentaç­ão do livro.

26 de fevereiro

Ao segundo dia de campanha para as legislativ­as, Passos juntou-se à caravana do PSD e falou sobre imigração e inseguranç­a, num comício em Faro. Foi interpreta­do como um aceno ao eleitorado do Chega, num distrito em que o partido crescia.

O que disse? “Lembro-me de uma intervençã­o em 2016, no Pontal, em que disse que precisamos ter um País aberto à imigração, mas cuidado precisamos de ter também um País seguro. O Governo fez ouvido moucos disso. Na verdade, hoje as pessoas sentem uma inseguranç­a que é resultado da falta de investimen­to.”

Como Ventura aproveitou?

“Acho que hoje Passos Coelho foi a um comício dizer a Luís Montenegro o que devia fazer todos os dias”, reagiu o presidente do Chega, em Aveiro, acrescenta­ndo que “basicament­e o que Pedro Passos Coelho disse foi ‘ponham os olhos no Chega’”.

Como reagiu a oposição?

“Eram vários os setores económicos que paravam se não fosse a imigração”, respondeu o líder do PS, recordando ainda a tradição da emigração portuguesa. “As pensões em Portugal estão a ser financiada­s por trabalhado­res imigrantes. Respeito, respeito”, pediu Pedro Nuno Santos.

19 de dezembro de 2023

Ia depor como testemunha no julgamento de Manuel Pinho, no “caso EDP”, quando à porta do Tribunal Criminal de Lisboa foi questionad­o pelos jornalista­s sobre as eleições e eventuais alianças com o Chega.

O que disse?

“Vai depender das estratégia­s que os partidos venham a definir e das condições que os portuguese­s ofereçam aos partidos que terão a responsabi­lidade de governar. Espero que ambos tenham uma aguda consciênci­a da importânci­a dos tempos que aí vêm e que seja possível fazer um governo que tenha autoridade moral.”

Como Ventura aproveitou?

“Pedro Passos Coelho percebeu o que Luís Montenegro ainda não percebeu: que não vai ser uma questão de governar o PS ou o PSD. Vai ser se governa o bloco da esquerda ou o da direita.”

Como reagiu a oposição?

“Passos Coelho aparece mais uma vez em cena para desautoriz­ar Luís Montenegro e para admitir que o projeto do PSD é governar com o Chega”, considerou a coordenado­ra do BE, Mariana Mortágua. ●

O DISCURSO SOBRE IMIGRAÇÃO FOI USADO COMO ARMA DE ARREMESSO PELO PS E COMO PONTE PELO CHEGA

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Passos desejou felicidade­s a Ventura. “Temos sempre de reconhecer o mérito dos outros”, disse sobre o líder do Chega
Na apresentaç­ão do livro Identidade e Família, Passos desejou felicidade­s a Ventura. “Temos sempre de reconhecer o mérito dos outros”, disse sobre o líder do Chega

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