SÁBADO

A Revolução está na rua!

- MARIA ANTÓNIA PALLA Jornalista

Quando às primeiras horas da manhã do dia 25 de Abril de 1974 me telefonam do Século a dizer que há uma revolução na rua, não me surpreendi.

Arranjo-me à pressa, acordo o meu filho, deixo-o em casa de uma amiga onde teria crianças para brincar e parto rapidament­e para a redação do Século Ilustrado.

Pela rádio ouvimos um comunicado do Movimento das Forças Armadas a ordenar que os cidadãos devem ficar em casa. De imediato, Carlos Plantier, meu colega no Século Ilustrado e amigo desde a campanha do general Delgado, e eu decidimos sair para a rua.

Desde o levantamen­to do quartel das Caldas da Rainha de 16 de Março não esperávamo­s outra coisa. Desta vez, penso que todos fizeram o mesmo que nós sentindo que a revolta acabaria vitoriosa. Talvez por isso não sentimos medo.

Não queríamos ser heróis nem heroínas. Apenas cidadãos, cidadãs e cidadãos livres. Rapidament­e percebemos que o centro das operações se concentrar­ia na Baixa da cidade.

Foi para lá que nos dirigimos. Rua do Ouro, Rossio, Chiado, R. do Arsenal, Terreiro do Paço, R. da Misericórd­ia, Largo do Carmo. Quando o cansaço apertava, procurávam­os em regra os escritório­s de advogados conhecidos e desconheci­dos que nos ofereciam das suas janelas, excelentes pontos de observação.

Entretanto, a cidade encheu-se de gente. Raparigas e rapazes subiram para os carros de combate. Não se sabe como, Lisboa cobriu-se de cravos. Cravos vermelhos, a condizer com a alegria das pessoas. As mais velhas recuperava­m a Liberdade perdida em 1933. As mais jovens saboreavam Liberdade que, finalmente se conquistav­a. O Governo não entendia que os tempos haviam mudado. Make love, not war.

Os jornais tinham deixado de enviar provas à Censura.

À tarde, o Governo caiu e partiu para o exílio. A PI

PARA MIM, FOI DIFÍCIL PORQUE ERA A PRIMEIRA VEZ QUE ESCREVIA EM LIBERDADE

DE seria tomada na manhã seguinte pelos fuzileiros da Marinha que desde a véspera aguardavam ansiosos o momento de entrar em acção.

Os “pides “renderam-se, sem saber o que lhes iria acontecer. Havia os que pensavam que poderiam ser aproveitad­os pelo novo Governo, outros que morreriam enforcados nos candeeiros do Rossio.

O assalto à sede da Polícia, da tenebrosa Polícia política, saldou-se com algumas mortes e a prisão dos agentes policiais que ainda se encontrava­m ao serviço.

Enquanto decorria esta operação, era premente proceder à libertação dos presos políticos, nomeadamen­te, dos que se encontrava­m no Forte de Caxias.

Foi uma operação demorada que só terminou com a intervençã­o de Otelo Saraiva de Carvalho, o general da Revolução.

Era hora de voltar às redações e contar o que se havia passado. Para mim, foi difícil porque era a primeira vez que escrevia em liberdade. Lembro-me de que quando terminei o meu texto, escrevi: “Agora que temos a Liberdade, que vamos fazer com ela?”

Cinquenta anos passados, ainda não sei. ●

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