ESPIONAGEM DE PULITZER
A nova série de Park Chan-wook (Oldboy, Decisão de Partir) para a HBO adapta um romance premiado e é uma magnífica história de espionagem. Fernando Meirelles ( Cidade de Deus) é um dos realizadores.
Quando a série arranca, Captain está na prisão a relatar o que lhe aconteceu – só que, percebe-se logo, tem o hábito de contar várias versões da mesma história
AS PRIMEIRAS quatro a cinco cenas de The Sympathizer são essenciais para a relação que se irá construir entre espectador e o protagonista, que responde apenas por Captain (Hoa Xuande). A dado momento começam a surgir dúvidas sobre quais são as motivações da personagem e se se deve acreditar em tudo o que nos diz. Mais importante do que isso, a nova série do sul-coreano Park Chan-wook, realizador dos filmes Oldboy – Velho Amigo (2003) e Decisão de Partir (2022) – e que, desta vez, trabalha a meias com o escritor e cineasta canadiano Don McKellar – é um belo exercício sobre espionagem.
Sete episódios que pode começar já a ver na HBO Max.
A verdade é que o material-base da minissérie já era assim. O escritor Viet Thanh Nguyen ganhou o Pulitzer de Ficção por O Simpatizante (Elsinore) em 2016, uma história sobre um espião de sangue francês e vietnamita, que em meados da década de 70 se infiltra nos quadros militares dos vietnamitas do sul (apoiados pelos norte-americanos). Trabalha para os comunistas, os vietnamitas do norte, e nem sempre o que tem de fazer está em linha com as suas crenças. Já no livro, a vida de Captain era dura.
E essa é a vida que nos conta, ou que supomos que nos conta (é bom existir dúvida), na série. Quando a história arranca, Captain está na prisão e a escrever detalhadamente o que aconteceu. Só que, percebe-se logo, tem o hábito de contar várias versões da mesma história até contar uma que se aproxime de uma verdade em que os seus carcereiros acreditem. E o que nos conta? O primeiro episódio leva-nos aos últimos dias em Saigão, antes de Captain fugir com uma série de outros militares para os Estados Unidos.
Segue-se então a vida nos Estados Unidos. Continua a trabalhar como espião e esta vida dupla frustra o desejo de ter uma vida normal. No elenco estão Sandra Oh e Robert Downey Jr. (que é também um dos produtores), este a interpretar quatro personagens diferentes, com destaque para Claude (grande figuração), um agente da CIA que é o mentor de Captain, e para o professor Hammer, um orientalista que encarna com muito humor aquela época. Os episódios são realizados por Park Chan-wook, pelo cineasta brasileiro dos filmes Cidade de Deus (2002) e O Fiel Jardineiro (2005) Fernando Meirelles e pelo britânico Marc Munden. Muita qualidade aqui mas, sobretudo, uma grande – e divertida – história de espionagem. Há poucas assim, ainda por cima bem acomodadas em sete episódios. ●