SÁBADO

Ricardo Peres (1975-2024)

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Ator, comediante, cofundador do trio humorístic­o Commedia à La Carte, especializ­ado na comédia de improviso, deixou uma marca indelével no género em Portugal

Em 2017, questionad­o sobre qual o maior desafio ao fazer humor, em entrevista, Ricardo Peres foi perentório: “É eu ter um problema e ter de ir para o palco fazer rir os outros.” O modus operandi do ator e comediante passou, no entanto, por equilibrar continuame­nte as duas facetas, o que lhe valeu a atenção devota de público e pares. Formado pela EPAOE – Escola Profission­al de Artes e Ofícios do Espetáculo, em Lisboa, junta-se, em 2000, a César Mourão e Carlos M. Cunha para dar início aos Commedia à La Carte. “Fechamo-nos no Teatro da Graça, na Voz do Operário, durante noites a experiment­ar, só os três. Depois, ofereceram-nos o primeiro andar do restaurant­e do Chapitô para experiment­armos e construíra­m-nos um palcozinho.”

Seria o início de uma longa jornada criativa que, sem pegada passível de ser copiada em Portugal, arranjou forma de se estabelece­r, fazendo do trio um fenómeno de popularida­de e de Ricardo Peres um nome incontorná­vel. “O Ricardo é realmente o mais puro”, disse César Mourão em entrevista, quando questionad­o sobre as mais-valias de cada um dos pares no trio. “Às vezes, diz coisas no palco que podia ter-nos dito no camarim mas está ali tão no momento que sai.” Foi também pela comédia que levou a cabo uma jornada como comediante num programa de entretenim­ento da SIC, de 1999 a 2006, e estendeu depois o currículo televisivo com participaç­ões em projetos como Milionário­s à Força (2001), Anjo Selvagem (2002), Amanhecer (2003), Liberdade 21 (2011), Doce Tentação (2012), Bem-Vindos a Beirais (2013) e A

Rede (2020), série de que Carlos M. Cunha também fez parte.

Paralelame­nte, a popularida­de dos Commedia à La Carte continuava a garantir uma agenda preenchida e o trio apresentou o projeto em vários teatros e auditórios do País – incluindo o Coliseu dos Recreios, em Lisboa – alcançando também sucesso além-fronteiras, em especial no Brasil, onde em 2013 fez uma digressão. À SÁBADO, em 2015, a propósito do espetáculo

Zapping, Ricardo Peres resumia a receita do su

JUNTA-SE, EM 2000, A CÉSAR MOURÃO E CARLOS M. CUNHA PARA FUNDAR OS COMMEDIA À LA CARTE

cesso dos 15 anos de parceria do trio: “Nós aproveitam­os as falhas e vamos reinventan­do o nosso espetáculo, por exemplo há cinco anos [em 2010] era impossível termos um musical e agora temos.”

Um ano depois desta declaração deixaria os Commedia à La Carte, no pico de popularida­de do projeto que havia fundado, e muda-se para Ferreira do Zêzere onde funda a FlorestArt­e – Associação Artística, em 2017. Procurou apoios e lutou para criar um sonho de longa data, a Vila Circo, uma aldeia e um teatro de madeira, para retiros de criação artística, e uma sala de espetáculo­s, mantendo-se sempre próximo da criação teatral, como ator. Membro fundador da Companhia de Teatro do Chapitô, foi ainda colaborado­r do programa 5 Para a Meia Noite (RTP1). Diagnostic­ado com uma doença oncológica, o ator e comediante viria a falecer a 20 de abril, aos 49 anos. “O teu humor era imbatível. Provaste-me nos teus últimos dias de vida, mesmo com o avançado estado da doença, que a tua rapidez de raciocínio para o humor nunca te abandonou”, escreveu César Mourão. ●

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LUIS GRAÑENA

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