CÁTIA MOREIRA DE CARVALHO
A ironia dos 50 anos do 25 de Abril
50 ANOS DEPOIS, TEMOS, IRONICAMENTE, 50 DEPUTADOS DE UM PARTIDO DE DIREITA RADICAL POPULISTA NO PARLAMENTO
A EXCLUSÃO SOCIAL ENVOLVE SENTIMENTOS DE ALIENAÇÃO E INFERIORIDADE
Cresci a ouvir que o 25 de abril trouxe liberdade de expressão e política, direito ao voto, igualdade e inclusão. Mas, 50 anos depois, temos, ironicamente, 50 deputados de um partido de direita radical populista no parlamento. Um partido que está a mudar as regras do jogo: a tornar aceitável o inaceitável, a normalizar a discriminação contra minorias e a disseminar falsidades em nome de uma agenda oca.
Cinquenta anos depois do 25 de Abril assistimos não só em Portugal, mas no resto do mundo à ascensão de movimentos radicais de direita. Alguns que tocam a linha do extremismo e que são um ataque direto à democracia. Mas, mesmo não havendo um ataque direto, os movimentos radicais atentam contra os valores democráticos, a igualdade e a inclusão, e isso é inegável. São movimentos que tendem a acreditar que há pessoas com mais direitos do que outras, e isso reflete-se no seu discurso, cada vez mais higienizado para atrair públicos mais amplos. Uma das consequências desta narrativa é a exclusão social de grupos sociais minoritários e vulneráveis.
Cinquenta anos depois do 25 de Abril a exclusão social está ainda bastante presente em Portugal. Movimentos de direita radical populista tendem a exacerbá-la e isso é o que já está a acontecer, com pessoas a sentirem-se intimidadas a falar ou a expressar-se como são. Isto porque exclusão social não é só pobreza. É o estado em que as pessoas estão incapazes ou lhes é impedido participarem plenamente na vida social, política, cultural e económica, bem como o processo que leva a esse estado e o perpetua. A participação também é limitada quando as pessoas não podem expressar as suas opiniões e quando os seus direitos não são igualmente respeitados. Portanto, a exclusão social envolve sentimentos de alienação e inferioridade. Por isto mesmo é que partidos e movimentos de direita radical ou extremista tendem a exacerbar a exclusão social, porque contribuem para acentuar diferenças entre grupos sociais e a normalizar a tolerância a esta diferença.
Cinquenta anos depois do 25 de Abril – 50 anos de democracia! – é aterrador assistir a este fenómeno. Não tenho uma forma mágica para o resolver. Já cá está. Mas entre várias medidas possíveis, penso que honrar o 25 de Abril passaria por combater estes movimentos localizando a origem e traçando o caminho do dinheiro que os alimenta e que pretende destruir os valores que revoluções como o 25 de Abril trouxeram às muitas pessoas que acreditam na democracia. ●