“TEM SIDO INCRÍVEL. NÃO ESTAVA À ESPERA”
MÚSICO FAZ SOAR A VOZ DE AMÁLIA E A GUITARRA DE CARLOS PAREDES NUM ÁLBUM COM CONVIDADOS DE LUXO
Uma semana após a sua edição, ‘ Bairro da Ponte’ chegou a disco mais vendido nas plataformas digitais e a 4. º lugar no top geral. Com ele esgotou o Lux e já está anunciado para o Alive. Já conseguiu digerir bem este disco?
[ risos] Na verdade ainda não parei desde que comecei a trabalhar neste disco, mas quando consigo abrandar e olho para trás vejo que de facto está a ser incrível. Não estava nada à espera.
O Stereossauro desconstrói aqui todo um universo musical que inclui não só o fado, mas também a eletrónica, o hip hop e a pop. Como é que este disco se começou a desenhar na sua cabeça?
Foi um processo muito longo que envolveu muita experi- mentação, se calhar era um trabalho que eu vinha fazendo de há oito anos para cá. Quando cheguei à fase de começar o disco já tinha uma experiência e umas bases que me ajudaram a tomar algumas decisões e a perceber que alguns padrões de guitarra e alguns ritmos encaixavam melhor do que outros naquilo que eu pretendia fazer.
Em ‘ Bairro da Ponte’ ouvem- se algumas vozes se calhar improváveis: Camané, Ana Moura, Rui Reininho, Paulo de Carvalho ou Ana Moura. Como é que as pessoas foram reagindo ao seu convite? Surpreendentemente foi tudo muito fluido. As primeiras pessoas que contactei foram a Capicua, o Nerve e o Slow J, até porque havia alguns nomes que percebi que faziam todo o sentido para este trabalho. Mas de uma forma geral, em todos os que participaram senti sempre que havia uma enorme vontade de saírem da sua zona de conforto.
No final houve alguma parceria que o tenha surpreendido em particular?
Acho que todas [ risos]. Qualquer uma das colaborações ficou muito acima das minhas expectativas. A música com a Gisela João, por exemplo, foi uma surpresa muito boa. Eu esperava que funcionasse, mas não contava com uma aceitação tão grande.
Para este trabalho teve acesso privilegiado aos arquivos da Valentim de Carvalho. O que é que descobriu por lá? Foi um período muito intenso de pesquisa. Estive lá três dias e nesse tempo recolhi as coi-
STEREOSSAUROJUNTAFADO, HIP HOPEELETRÓNICA EM‘ BAIRRO DAPONTE’, PARAJÁO DISCO DOANO
sas que já levava pré- selecionadas e as que já conhecia do catálogo da Amália. Depois foram vários meses em casa a ouvir e a dissecar tudo.
Mas descobriu gravações inéditas?
Sim, tive acesso a algumas coisas inéditas, mas acabaram por não ser utilizadas por dificuldades de licenciamento. Mas sim, tive o privilégio de as ouvir.
Em algum momento sentiu que pegar no fado para fazer este fusão seria um terreno delicado?
Acho que não. Já foram feitas muitas experiências com o fado e todas elas muito bem sucedidas. As mentalidades já estão muito mais abertas a estas misturas e isso não é uma coisa de 2019. Já passámos essa fase.
E como é que era a sua relação com o fa do an tes de fazer este disco?
As primeiras vezes que comecei a sampler fado foi com o ‘ Verdes Anos’, do Carlos Paredes, há cerca de oito anos e foi mais ou menos nessa altura, ao mesmo tempo que ia procurando samples para usar, que comecei a identificar- me mais com o estilo musical e a ouvi- lo definitivamente.
E como é que se passa um disco como este para palco? Em palco estou com uma formação de banda de quatro elementos, que sou eu e o DJ Ride na eletrónica, nos samplers e teclados. Na bateria temos o Nuno Oliveira e no baixo e teclado o Bruno Fiandeiro. Sempre que possível teremos alguns convidados. E depois temos uma componente vídeo muito forte.
“MENTALIDADES JÁ ESTÃO MUITO MAIS ABERTAS A ESTAS MISTURAS E ISSO NÃO É COISA DE 2019”