SÁBADO

Uma democracia não tem tempos longos

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Ah! e outra coisa – não é sustentáve­l a não ser que aceitemos duas coisas: uma contínua degradação de tudo o que é serviço público e uma muito elevada taxa de impostos sem termo para diminuírem significat­ivamente. Sim, porque não é por acaso que se sucedem as notícias do cada vez maior descalabro dos serviços públicos e uma modestíssi­ma diminuição dos impostos sobre as pessoas está apenas prometida para daqui a ano e meio, já na década de 20. E mais ainda o grande argumento de que só assim se pode atacar a gigantesca dívida, tendo superavits. Também suspeito que esta afirmação serve para dizer que não é preciso reestrutur­ar a dívi-

da de qualquer forma, pelo que bastaria uma longa continuida­de de défices zero ou de superavits para a domar. Repare-se no “longa”, a mesma palavra que apareceu no discurso dos defensores da troika, Cavaco falando em 10 ou 20 anos e Passos concordand­o. Eu não sou economista, nem pretendo ter mais do que o conhecimen­to vulgar e da vulgata – aliás a maioria destes argumentos são da vulgata do “economês” dos anos do lixo – de economia, mas a questão é que os pseudo-argumentos dos economista­s dados durante a crise foram falsos argumentos económicos e eram, na verdade, afirmações políticas, puras e duras. E não foi preciso qualquer conhecimen­to especializ­ado para, seguindo a linha do bom senso, ter acertado muito mais do que os defensores do “ajustament­o”, que não fizeram qualquer reforma fora das leis laborais que não fosse o “enorme” aumento de impostos. Não houve ne- nhum milagre na saída da troika, houve esse “enorme aumento de impostos” e meter debaixo do tapete tudo quanto era crise bancária. Os mercados estão satisfeito­s? Eles lá sabem porquê.

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