De Bosch ao deboche musical
O universo do pintor Hieronymus Bosch – o dos SetePecadosMortais e do Jardim das Delícias – invade o CCB a 21 de Abril e contamina os Dias da Música. O programa está repleto de (boas) tentações
Primavera sem os Dias da Música no Centro Cultural de Belém não é Primavera. Mesmo quando esta Primavera em Lisboa tem tido mais chuva do que o mais recente Inverno. Talvez lá de cima já se soubesse que a programação deste ano seria inspirada no trabalho de Hieronymus Bosch (1450-1516), integrada no ciclo que decorre durante o mês de Abril no CCB dedicado ao pintor, “Tirai os Pecados do Mundo”, que envolve conferências, documentários, filmes e, claro, os Dias da Música (de 26 a 29 de Abril), este ano antecedido pelo Festival Jovem (no sábado, 21). Belém irá ser ocupado por Bosch, as diversas portas do CCB servirão de entrada para diferentes leituras da sua obra e os Dias da Música surgem com uma programação que materializa a ideia de tríptico, formato familiar na obra do pintor e que é logo assumida no subtítulo do evento: Castigo, Culpas e Graças Divinas.
Mas antes de explicar isso tudo, as crianças. Ou, melhor, os jovens. O Festival Jovem deste ano conta com cinco orquestras sinfónicas e quatro escolas de música que beberão do mesmo copo. Ou seja, Bosch, Bosch, Bosch. No sábado, 21 de Abril, o dia arranca pelas 13h com um programa intitulado O Fantástico na Ópera (Grande Auditório – GA), pela Orquestra Sinfónica Juvenil, com direcção musical de Christopher Bochmann, onde não poderiam faltar as aberturas de A Flauta Mágica de Mozart, de Hänsel Und Gretel de Engelbert Humperdinck ou de O Navio Fantasma de Wagner. O imaginário de Bosch é riquíssimo e a natureza da sua obra expande-se para lá daquilo que lhe é circunscrito. É possível viajar para o antagónico e que se vá à procura do mito de Atlântida, que, segundo muitas teorias, está a olhar de baixo para o arquipélago dos Açores. É daí que é natural Fernando Marinho, que vai dirigir a OJ.COM pela história e destruição de Atlântida em Quadros de Uma Exposição (GA, 15h), a partir das obras de Mussorgski e Antero Ávila.
O programa prossegue com Danças Macabras às 17h (GA), com a Orquestra Sinfónica Ensemble e Raúl da Costa no piano a interpretar Mussorgsky, Liszt e Camille Saint-Säens, dirigidos por Cesário Costa, Bruxas e Goblins, às 19h (GA), com a Orquestra Sinfónica APROARTE a percorrer trabalhos de Dvorák e Verdi, com a direcção de Carlos Garcés, e termina às 21h, (GA) com a Jovem Orquestra Portuguesa, com Vas- OS DIAS DA MÚSICA SURGEM COM UMA PROGRAMAÇÃO QUE MATERIALIZA A IDEIA DE TRÍPTICO, FORMATO FAMILIAR NO PINTOR
co Dantas ao piano e dirigida por Pedro Carneiro, num modo de Alegres Travessuras pela obra de Strauss e Rachmaninoff. A programação, contudo, não se fica por aqui: a Sala Poente também acolherá concertos que terão lugar nas horas pares, com o primeiro espectáculo às 14h e o último às 20h. O signo de Bosch pairará com toda a força na semana seguinte com uma programação centrada na ideia do Tríptico. O arranque acontecerá no dia 26, pelas 21h, no Grande Auditório, abrindo-se a Portada:
A Expulsão do Paraíso desta intensa aventura com A Criação, de Haydn, interpretada pela Orquestra da Câmara Portuguesa e dirigida por Pedro Carneiro. No dia seguinte, sexta, 27, começa a viagem pelos painéis do Tríptico com uma descida aos infernos:
O Inferno e os Seus Castigos. Começa-se com Gil Vicente e o seu Auto da Barca do Inferno (Sala Almada Negreiros, 19h30), com Sara Barros Leitão, João Castro e o Toy Ensemble, e logo a seguir termina com o Fausto de Goethe via Berlioz: A Danação de
Fausto (GA, 21h) juntará solistas de renome – como Béatrice Uria-Monzon ou Philippe Rouillon –, a três coros e à Orquestra Sinfónica Portuguesa. O palco vai parecer pequeno para tanta gente. Sábado, 28, é dia do painel central do Tríptico: Pecados e Tentações Terrenas. O programa arranca às 14h30 e prolonga-se até ao início da noite, pelas diversas salas do CCB. Os destaques vão para Os Sete
Pecados Mortais, de Kurt Weill (GA, 19h), pela Orquestra Sinfónica do Sul, dirigida por Rui Pinheiro, Vayamos al Diablo, de Astor Piazzolla (Sala Almada Negreiros, 21h), pelos Escualo 5, e uma viagem à Divina
Comédia de Dante, por Gianni Schicchi de Puccini (GA, 21h), interpretado pela Orquestra de Câmara Portuguesa e Deutsches Kammerorchester Berlin. Domingo não é dia de descanso e estará também preenchido com muita música em volta do tema As
Graças Divinas e a Reconquista do Paraíso. Arranca ao início da tarde com a Orquestra Gulbenkian dirigida por Ton Koopman num programa que passa por Rebel, Haydn e Rameau, Do Caos Ao Paraíso (GA, 15h) e termina com A Reconquista do Paraíso (GA, 19h) com Dinis Sousa a dirigir o Coro Gulbenkian e a Orquestra XXI numa interpretação de Das Paradies
und die Peri, op. 50, de Schumann. Aconselha-se leitura atenta do programa (em ccb.pt), para não se perder nada destes dias de deboche de Bosch.