ARTES PLÁSTICAS
Enquanto se viviam os últimos anos da ditadura e da guerra colonial, alguns artistas portugueses experimentavam uma nova linguagem estética, a Pop Art. Os seus “desvios” podem ser vistos na Gulbenkian
Pós-Pop. Fora do Lugar-Comum, a nova colectiva da Gulbenkian, mostra respostas europeias à pop-art americana
Surgiu em Inglaterra nos anos 50, mas foi na década seguinte, do outro lado do oceano, que se afirmou como movimento artístico – a Pop Art. O movimento pegou no quotidiano e fez dele objecto artístico (seguindo as ideias anteriores, de Marcel Duchamp e do dadaísmo). O exemplo mais célebre será a reprodução colorida de uma sopa da marca Campbell, a mesma que Andy Warhol, o autor, comia com a mãe em situações de aperto financeiro – a obra chama-se Campbell’s Soup
Cans, é de 1962, e põe 32 latas em fila. Seguiu-se a multiplicação de ícones da época: Marilyn Monroe, Elvis Presley, Muhammad Ali e Elizabeth Taylor. Também a ilustração, a banda desenhada e a publicidade, ou qualquer outro meio passível de reprodução em série, se tornaram obras de arte – e embora no início se destinas- sem ao grande público, acabariam por se tornar objectos para a elite.
A exposição que inaugurada no Museu Gulbenkian, em Lisboa, a 20 de Abril, com o título Pós-Pop. Fora do lugar-comum, assinala a resposta portuguesa e inglesa aos valores do movimento da Pop Art. Tem como subtítulo Desvios da “Pop” em Portugal e Inglaterra, 1965-1975 ,e curadoria de Ana Vasconcelos e Patrícia Rosas. “Em algumas delas [obras], nota-se uma unidade que tem a ver com a divergência bem-humorada em relação ao lugar-comum proposto pela Pop Art. No caso dos artistas portugueses, verdadeiros trânsfugas da mediocridade que se vivia em Portugal, encontramos um laço comum que foi o terem procurado inspiração e incentivo no estrangeiro, em Paris, e, sobretudo, em Londres, verdadeira meca dos anos 60”, escre-
OBRAS DE RUY LEITÃO, TERESA MAGALHÃES, BERNARD COHEN, MENEZ OU JOSÉ DE GUIMARÃES VÃO ESTAR EM EXPOSIÇÃO
vem ambas na apresentação da mostra que integra nomes como Bernard Cohen, Tom Phillips, Jeremy Moon, Allen Jones, Teresa Magalhães, Ruy Leitão, Eduardo Batarda, Menez, Nikias Skapinakis, Fátima Vaz, Clara Menéres, João Cutileiro ou José de Guimarães.
A acentuada influência britânica – que resultou da ida de vários artistas para o estrangeiro – fez-se notar. Ruy Leitão, por exemplo, é um dos artistas que está em destaque no Museu Gulbenkian, depois de ter exposto os seus desenhos no Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão entre Julho de 2004 e 2 de Janeiro de 2005. Foi aluno de Patrick Caulfield, um pioneiro da Pop Art que considerava o português como um dos seus mais talentosos alunos, na Chelsea School of Art.
A par de Leitão, Pós-Pop. Fora do Lugar-Comum aproveita para dar a conhecer a obra quase inédita que a pintora Teresa Magalhães realizou em finais dos anos 60. Bolseira da Fundação Calouste Gulbenkian entre 1976 e 1979, fez parte do grupo 5+1, com Sérgio Pombo, Virgílio Domingues, João Hogan, Júlio Pereira e Guilherme Parente.
“Os artistas portugueses reagem à situação anacrónica do País, à guerra colonial que começa em 1961 e se arrasta até ao 25 de Abril de 1974, data que lhe põe fim e instaura a democracia em Portugal”, lê-se na mesma apresentação. A exposição inclui ainda programação complementar com visitas guiadas (21/4, 16h; 4/5, 12/5, 1/6, 23/6 e 6/7, 15h), uma conferência sobre a ligação da Pop Art ao design (23/5, 18h30), e encontros temáticos dedicados a assuntos como a política, a banda desenhada, o cineclubismo, o feminismo, a música e o jazz (sempre aos sábados à tarde).