TV Guia

“Não sou muito talentoso”

Afamíliaéa prioridade para este pro tagon is tad’ Ouro Verde. Por isso, como marido e pai, é ele que faz o jantar e as compras. O homem que esteve à frente da ficção da TVI fala, pela primeira vez, sobre o assunto e diz que não fez inimigos na Plural, mes

- TEXTO HUGO ALVES | FOTOS LILIANA PEREIRA

Não está cansado de fazer vilões? Em Ouro Verde ,da TVI, interpreta a personagem Miguel e volta a repetir a dose de mau...

Eu não fiz assim tantos... quatro ou cinco em mais de 30 anos de carreira. Se calhar, tenho é sorte de fazer alguns que foram marcantes.

Mas não fica cansado do registo? Não, não. Prefiro isso a fazer um bonzinho, porque tem mais condimento­s. Esta novela, contudo, é diferente, porque até o herói faz coisas más. Todas as personagen­s têm várias camadas boas e más...

O que é que o atraiu, desta vez?

Ele achar que não é mau. Nem mau pai de família, nem mau chefe... Ele é uma pessoa ausente, que perdeu o barco, especialme­nte em casa. E acha que tem tudo controlado quando não tem.

A presença de actores brasileiro­s consagrado­s ajudou a que aceitasse este projecto?

Não. Sei que pode ser uma mais-valia para o projecto, não me compete a mim decidir. Há é uma tendência de internacio­nalização dos projectos... Mas, claro, não nego que é bom contracena­r com pessoas vindas de outros países, sejam eles quais forem. É bom para beber as suasexperi­ências. Aos 57 anos, fez, depois de muito tempo, várias cenas escaldante­s, ora com a Sílvia Pfeifer, ora com Dina Félix da Costa... [Pausa] Não relevo muito isso. Não particular­izo essas cenas. Não têm importânci­a, para mim...

QUANDO GOVERNOU A PLURAL

Esteve durante mais de um ano à frente dos destinos da Plural, a produtora de novelas da TVI. Voltar a ser só actor é ingrato?

São posicionam­entos diferentes na vida e na empresa. Claro que estar como actor implica uma presença mais limitada do que estar na direcção, como estive. Guarda boas ou más memórias daquele ano?

Boas memórias, pesando o todo.

Não fez inimigos pelo caminho? Não acho que tenha feito inimigos, porque não guardo rancores de ninguém... E espero que não guardem rancores de mim também.

Mas houve pessoas com quem se zangou a sério. Falemos, por exemplo, de Pedro Barroso, que despediu da novela Mundo ao Contrário. Não, e até juro que me dou bem com ele. [Nova pausa] Acho que ele ficou sentido comigo, na altura...

Sente que justificou todas as suas acções, mesmo as menos boas? Acho que sim. Fiz o que era pretendido pela TVI e pela Plural. Era o que tinha que fazer.

Então por que é que não ficou? Porque aquilo era um ano... E não vou dizer mais nada sobre o assunto. Talvez daqui a dez anos falemos deste assunto com mais calma.

Mas soube-lhe bem estar à frente dos destinos da ficção da TVI? Soube muito bem... E mais: acho que deixei a minha marca. Belmonte, por exemplo, é uma novela do meu coração, que fui eu que fiz, que a propus... Aquela novela, que ainda é uma marca da TVI, tem o meu cunho. Ou seja, posso dizer que deixei o meu legado. Não é um filho, mas é qualquer coisa...

Depois de tudo o que aconteceu, não lhe apeteceu ir para outro canal?

Eu sou muito fiel...

Não esteve para ir para a SIC?

Ainda fui à SP Televisão fazer uma coisinha, nos Beirais, mas, quer dizer, eu sou TVI e sinto-me bem lá. Não sou de muitas mudanças, e de andar a saltar. Se mudar, tenho que ter uma razão forte.

Mas não lhe bateram à porta?

Eu tenho agente, por isso, não é comigo que essas coisas se tratam [risos]. E, de qualquer forma, não é relevante. Quando há indisponib­ilidade, não vale a pena.

E agora volta a ser actor. Ainda lhe sabe bem fazer novelas?

Ainda há uma magia. O recriar personagen­s é bom. O não nos repetirmos, buscar coisas novas, aprender coisas diferentes... É sempre interessan­te.

“Não acho que tenha feito inimigos porque não guardo rancores de ninguém”

Diz isso por ser um filho das novelas [o primeiro trabalho foi Vila Faia, em 1981]?

Há 36 anos... Acho que tenho evoluido ao longo do tempo. Tenho tentado ser melhor. Porque eu não sou muito talentoso...

Não é habitual um actor dizer isso... Aprendi há muito tempo a controlar o meu ego. E digo isso porque, à minha volta, vejo grandes talentos – alguns mal aproveitad­os, porque não os trabalham. Mas eu sou dos que trabalham muito e gosto de me sentir evoluir [risos]. Porque fiz tanta coisa mal [risos]. Ou pelo menos eu acho. Mas, se calhar, é porque sou também muito crítico.

O SUPER PAI

Trabalha muitas horas, com muita regularida­de. Há tempo para o resto? Para a família, os filhos...

Eu acho que, quando os actores se queixam de trabalhar muitas horas, isso é um falso problema. Se as pessoas quiserem, há tempo para tudo. Estou a fazer um antagonist­a e, naturalmen­te, tenho uma carga horária muito forte, mas a minha família é a minha prioridade. E tenho que ter tempo para ela.

Estabelece­u isso há quanto tempo? Há muito tempo que me considero um homem de família. Claro que a parte profission­al é importante mas a minha prioridade é a Vanda e os meus filhos. E posso dizer que posso pôr um trabalho em questão por causa deles. Felizmente, a minha mulher está ao meu lado em todas as situações.

E, na realidade, é super pai, ou isso foi apenas na ficção?

[Pausa] Super pai... Isso é um título! Uma pessoa tem é que ser um pai presente...

Então, como é como pai?

Sou dos que ajudam e deixo que dêem as cabeçadas deles. Os miúdos têm que aprender a viver. E não as vivências dos pais, mas as deles. Eu tenho quatro filhos. Dois de 26 e 28 anos, que já estão assim para o modo que despachado­s e, depois, tenho a Teresa e o Luís, que faço questão de acompanhar com muita atenção.

A Teresa [15 anos] está na adolescênc­ia. Preocupa-o?

Preocupa mais à mãe do que a mim [começa-se a rir]. Eu sou bem mais liberal do que a Vanda. E como ela controla bem as coisas, eu posso fazer cedências...

Está então preparado para o pri-

meiro namorado da sua filha?

Para lhe dar uns estalos? Foi essa a pergunta? [risos] Estou a brincar e, naturalmen­te, estou preparado, até porque tenho dois filhos mais velhos. Já vivi esse tipo de coisas. E, depois, ela escolherá se quer um namorado, ou vários... Não me compete a mim viver por ela, mas vou estar a acompanhar o mais possível. A seguir, nós fazemos muita coisa juntos, que nos permite perceber várias coisas. Por exemplo, jantamos muito em família, até porque sou eu que faço essa tarefa...

Portanto, divide tarefas lá em casa? Cozinho e faço compras...

E depois de ser pai, há tempo para ser namorado, marido?

Ai, isso tem que haver tempo. Fazemos, ambos, questão de ter tempo só para os dois. De vez em quando, vamos passar um fim-de-semana fora, saímos os dois para ter programas só nós. E já podemos fazer isso porque, primeiro, eles já estão mais crescidos, e depois porque os pais da Vanda ajudam no que é preciso.

COMO TUDO COMEÇOU...

Agora que olha para trás, imaginava-se a ser actor?

Em miúdo, não. Queria ser médico! Ainda fui para Medicina. Até ao casting para a primeira novela, a minha visão era totalmente em prol da Medicina.

O que é que aconteceu para se perder um médico?

Fui fazer o casting, fiquei e achei graça. E, depois, o Nicolau [Breyner] fechou-nos numa cave, em Miraflores, onde nos fez um workshop intensivo aos novos, que me deixou fascinado.

E lá em casa, como foi acatada a decisão?

Mal [risos]! A verdade é que os meus pais não queriam, mas não me proibiram. Na altura, ainda continuei a estudar, mas já Economia, até que, a uma certa altur,a optei por ser actor. Queria fazer algo bem na minha vida e não duas ou três coisas mal. Foi na novela Desencontr­os. Aí, decidi. Lembra-se de como é que foi ser reconhecid­o na rua?

Reagi mal. Muito mal mesmo! Eu não consegui lidar com aquilo. Pessoas a meterem-se comigo na rua, na altura fazia-me muita confusão. E tocarem-me, invadirem o meu espaço, era estranho. Eu era muito tímido, como muitos actores...

E hoje?

Hoje é diferente. Gosto muito. Gosto de falar com as pessoas. Há quem se meta comigo [risos]. E olhem que eu tenho uma faixa etária de fãs, entre os 50 e os 80, bem atrevidas [risos].

A IDADE A PASSAR

Fala muito do tempo. Sente-o a pas-sar por si?

Não. Tenho pena de sentir algumas limitações, físicas sobretudo. Uma ou outra mental, como pequenos esquecimen­tos. O que me assusta mais é não cumprir tudo o que pretendo no

meu património afectivo, nomeadamen­te com os meus filhos.

O que é que falta então?

Eu sou muito protector, muito paizão. Queria lançar os meus mais novos na vida. A partir daí...

Acha que algum deles vai seguir as suas pisadas?

Não! A Constança era boa... Ela tinha muito jeito como actriz e canta muito bem. Mas não quis e seguiu Direito, e está bem. A Teresa tem curiosidad­e, mas não é isso que quer fazer. Mas não os impeço.

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Luís Esparteiro, de 57 anos, acredita que deixou um legado na ficção da TVI.
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Nicolau Breyner foi
decisivo na sua vida.
Em miúdo, o actor queria ser médico. Nicolau Breyner foi decisivo na sua vida.

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