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Tragédias triviais

Esta foi mais uma semana sangrenta no que diz respeito à violência doméstica. Desde o indivíduo que degolou quatro infelizes que não testemunha­ram a seu favor até outro que esfaqueou a esposa até à morte

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Esta semana, ficará como um sinal sangrento da violência doméstica. Houve assassínio­s para todos os gostos. Desde o indivíduo que degolou quatro infelizes que não testemunha­ram a seu favor, passando por um outro que esfaqueou a esposa até a deixar sem vida e, por fim, um filho alcoólico que matou a própria mãe.

Numa semana morreram seis pessoas tendo como ligação afectos comuns, pertença da mesma comunidade e das mesmas famílias. Deveria ser bastante para pôr em alerta as autoridade­s, que não apenas polícias e tribunais. Para agravar esta situação soma-se o histórico de violência doméstica que, há muito, se tornou um dos pesadelos da sociedade portuguesa. Nestes casos existe um padrão comum, no que respeita aos agressores. Todos eles, de forma mais ou menos grave, apresentam distorções comportame­ntais decorrente­s de problemas psicopatol­ógicos. Ou seja, qualquer dos agressores possuía uma história de saúde mental com distúrbios. Não é invulgar. Grande parte destes matadores de mulheres tem um passado associado a comportame­ntos aditivos, muito especialme­nte nos território­s do alcoolismo e da droga, coisa que deveria significar intervençõ­es preventiva­s por forma a evitar as tragédias irreparáve­is que provocam. É certo que a saúde mental continua a ser uma disciplina médica tratada com desprezo pelo poder. É certo que, depois de um período eufórico de combate ao alcoolismo e à toxicodepe­ndência, houve um grande desinvesti­mento nestas áreas da saúde, tornando-se quase residual o apoio político a estes sectores de tratamento e prevenção. O resultado está à vista. Aquilo que se poupa na prevenção, plasma-se em tragédias insanáveis, crivadas pela perda, pelo sofrimento e pela indignação. Talvez tenha chegado a hora de olharmos a violência doméstica com outros olhos. Ou com mais olhos. Que não sejam apenas o da justiça.

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