TV Guia

O EXEMPLO DE EUNICE

- POR PAULO ABREU CHEFE DE REDACÇÃO

Chama-se Eunice Munõz, tem 88 anos, 75 dos quais a representa­r, e voltou a dar uma (boa) entrevista à TV Guia. E se, no palco e na TV, a actriz sempre mostrou estar à frente dos seus colegas, no “jogo” das palavras não fica atrás. Bem pelo contrário, o que deveria servir de manual para muitos “artistas” que andam por aí. Ora vejamos: quando alguns baixam a cabeça às primeiras adversidad­es, Eunice, que teve recentemen­te um cancro na tiróide e foi alvo de uma cirurgia ao coração, mostra ser uma força da natureza: “Para quê lamentar-me? Quando há dias em que não estou tão bem, não me entrego nada a isso. As pessoas que estão ao nosso lado não têm de suportar isso”; quando alguns, ainda de tenra idade, fogem ao trabalho, preferindo ir a festas ou vender o corpo no Instagram, Eunice assume o desejo de voltar à acção: “Espero que a minha voz melhore e espero voltar a representa­r. Não me imagino a fazer outra coisa.”

Mas, nesta entrevista, há mais exemplos de como se deve enfrentar a vida, de forma honesta e íntegra. Quando alguns, após cinco minutos de fama, se armam em vedetas, achando que já não lhes serve qualquer papel, Eunice desarma-nos com a sua humildade: “Se alguém me convida, é, com certeza, porque é um papel interessan­te”; quando alguns mentem, com supostos assédios da concorrênc­ia para retirarem dividendos onde estão, Eunice diz apenas a verdade: “Nunca fui convidada por outra estação”; quando alguns fogem dos fãs e são, até, antipático­s e malcriados no contacto público, Eunice assume essa admiração com amor: “Há muita gente que me vem pedir para dar um beijo. É bonito. Fico contente”;

E podia continuar aqui a elogiar as palavras sábias da actriz, que nos abriu a porta de sua casa e não se esconde, nunca, em lugares-comuns. Nem quando lhe falamos na morte: “Medo? Quando vier, vem. Tenho de aceitar. Não me falta fazer nada. Seria muito ingrata se dissesse que faltava.”

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