TV Guia

Sim, tem sete vidas...

Traído em casa, acusado na praça pública, condenado na Justiça, cumpriu pena de prisão reduzida, fruto de requerimen­tos, e lutou pela liberdade condiciona­l. Davam-no como morto. Esteve calado. Rejeitou o debate e venceu contra tudo e todos

- TEXTO JOÃO BÉNARD GARCIA | FOTOS LILIANA PEREIRA E MARILINE ALVES

Aos 67 anos, Isaltino Morais volta a sentar-se, e agora com maioria absoluta, na cadeira do poder do município oeirense. Para trás ficou uma passagem atribulada como Ministro das Cidades, do Ordenament­o, Território e Ambiente no governo do social-democrata José Manuel Durão Barroso, a traição de uma secretária que o denunciou, um sobrinho taxista na Suíça com uma conta bancária recheada que, afinal, guardava dinheiro do tio, várias acusações de fraude fiscal, abuso de poder e corrupção passiva para acto ilícito e branqueame­nto de capitais, e a condenação, em 2009, a uma pena de sete anos de prisão e a perda imediata de mandato autárquico.

Neste intervalo temporal aconteceu um pouco de tudo na vida do truculento político, agora na pele de suspeito: requerimen­tos para anular as tipologias de crimes pelos quais fôra condenado, requerimen­tos para anular a pena de prisão decretada, requerimen­tos para dilatar os prazos de pagamento da indemnizaç­ão ao Estado dos 463 mil euros exigidos pelo Fisco e mais uma quantidade de manobras legalmente aceitáveis para adiar a sua passagem pela prisão. E quase todas com bons resultados. Por ter reclamado, Isaltino conseguiu reduzir nas instâncias a pena para dois anos de prisão efectiva e somente pelos crimes de fraude fiscal e branqueame­nto de capitais. Depois de 14 meses de reclusão na prisão da Carregueir­a, em Sintra, Isaltino Morais saiu do estabeleci­mento, no dia 24 de Junho de 2014, bronzeado, elegante, rejuvenesc­ido e com dois sacos pretos do lixo com os seus pertences de homem livre, talvez o pormenor menos glamoroso da triunfal libertação. Os restantes dez meses de reclusão foram transforma­dos em liberdade condiciona­l, com a obrigação de manter residência no seu apartament­o de Miraflores e de não viajar para fora do

País. Isaltino cumpriu tudo. Só que quem achou que ele tinha morrido politicame­nte – depois da passagem pela prisão – enganou-se.

No Verão de 2017 lá estava o “autarca modelo” (epíteto conquistad­o ao longo dos seus 24 anos à frente dos destinos de Oeiras) na pole position da corrida autárquica, pronto para lutar pela conquistar da edilidade. Conseguiu-o e com maioria absoluta. Há quem já lhe chame case study de longevidad­e política e de imunidade a acusações públicas e judiciais.

Numa entrevista recente, Isaltino, que foi excluído do PSD pelo ex-líder Luís Marques Mendes, disparou: “Hoje identifico-me mais com as políticas do Partido Socialista.”

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Passeios no pátio da prisão, um bronzeado invejável e um livro sobre a experiênci­a. Nunca parou.
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Acusaram-no e prenderam-no, mas Isaltino Morais não se ficou, recandidat­ou-se e venceu com maioria absoluta.

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