NO PAÍS DO VALE TUDO

A novela A Herdeira é um caso que merece ser estudado como imagem dos tempos que correm: mais do que líder de audiências, tornou-se uma referência para o público do Despacito – sim, o que chega ao fim-de-semana e adora dar um pezinho de dança ao som de um regaton e de uma kizomba, depois de um jantar com casais amigos. É a forma de cada um se sentir vivo. É disso que trata A Herdeira e daí o seu sucesso: tem vida, tem cor, tem uma estrela linda de morrer (Kelly Baily, entenda-se) com o cabelo que todas as mulheres desejam, tem salero, tem sonho – uma espécie de La Cucaracha a piscar o olho a Narcos. Depois não tem mais nada: as cenas não “colam” umas com as outras, falta continuidade, as chacinhas só atingem alguns, enfim, nem vale a pena começar a falar em tudo senão esta novela tão alegre transforma-se num drama. Tão grande que chega a ser constrangedora para alguns actores ali estarem“embrulhados”. Mas virá daí mal ao mundo? É pela falta de lógica que a novela deixa de ser um sucesso? Claro que não! Porquê? Porque em Portugal eficácia não é, de todo, sinónimo de qualidade. Longe disso, até. No País do “parecer”, onde Maria Vieira escreve livros graças às polémicas que cria nas redes socias e parece já ter esquecido o seu trabalho ao longo de anos, no País que tem tempo para insultar famosos nas redes sociais, no País onde a diretora de Conteúdos da SIC anuncia que entrou na menopausa em comunicado oficial divulgado pela sua agência de comunicação – e que começa por falar em preservação da privacidade... Bom... neste país... tudo é possível. É possível Isaltino ganhar eleições depois de passar uma temporada atrás das grades, é possível A Herdeira liderar porque “é muito gira” embora esteja cheia de erros (e Moniz não os emendar a tempo), é possível haver conversas diárias em programas de grande audiência sobre “pilinhas” e “pipis” em linguagem infantilóide. Portugal infantilizou ou estupidificou?

Vale tudo? Pois pelos vistos, para ter likes, audiências e ser famoso, sim...