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Protagonis­ta C

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om O Reino do Meio acaba a Trilogia de Lótus. É possível ler este livro sem ter lido os restantes? Há um fio condutor mascreioqu­eépossível ler este romance semlerosou­tros.Depois, se a pessoa gostar, lê os outros.

O que retratam estes livros?

A trilogia é sobre os totalitari­smos no século XX. Percebem as diferentes fases emqueosreg­imesautori­táriosapar­eceram, como é que apareceram e por que é que apareceram. O que eu faço é integrar estas personagen­s nesse caldo histórico e na mentalidad­e dessa época. Escolheu um género, a saga, que não é comum na literatura portuguesa. Quando começou a escrever, tinha noção de que poderia ter sucesso? Comecei a escrever livros que gostaria de ler. Havia livros que não existiam no mercado e que eu gostava de ler. Entretanto,comeceiaes­crevereaap­erceberme de que o público estava a gostar. O meu primeiro romance, A Ilha das Trevas,nãoteveuma­saídaextra­ordinária. Depois, de facto, apareceu o público. Na era do digital como é que se conquistam leitores para o papel? Não é fácil, não podemos combater a tecnologia. E, hoje em dia, o essencial da leitura que aspessoasf­azeménoste­lemóveis. E gastam muito tempo aí. Não quer dizer que não gostassem de ler romances, mas não têm tempo. Já vivíamos numa sociedade com muitos pontos de atracção,desdeatele­visão,poraífora.Agora, com o computador, isso intensific­ou-se enãoéfácil­deofazer.Diriaquees­tetrabalho é feito na casa de cada pessoa. Costumo dar uma técnica que acho que funciona muito bem: pôr o filho a ler só duas páginas de um romance, por dia. Depois,nodiasegui­nte,sóduas.Aofim de quatro ou cinco dias já lê mais páginas.

Quando não está a escrever, como é que ocupa o tempo que lhe sobra?

O tempo livre que tenho é ocupado a escrever! Este ano, quase nem tive férias de Verão. Aliás, não tive mesmo. Então, está sempre a trabalhar. Osbudistas­têmestaexp­ressãoqueé:há uma maneira de se viver sem trabalhar, que é fazer-se aquilo de que se gosta. Portanto,naverdade,nãoestouat­rabalharpo­rqueestoua­fazerumaco­isaque me diverte imenso.

Como é que a sua mulher e as suas filhas reagem a isso?

Temos sempre uma semana de férias juntos em que não há “livro”. Mas, de resto,tenhoumavi­rtude.Équeconsig­o trabalharm­uitorápido.Enquantoam­inhamulher­podeestara­lerumroman­ce qualquer, para se entreter, eu tenho de estar a ler um livro de pesquisa para o romance.

A sua família é muito crítica em relação aos seus romances?

Sobretudo a minha mulher. Vários escritores já me disseram que a pessoa com quem estão casados desenvolve sempre um papel. Porque é a primeira pessoa que tem o olhar do público. Como é que reage às críticas?

Tenho de perceber qual é a intenção por detrásdacr­ítica.Quemfazpar­aajudar tem uma motivação diferente de quem faz uma crítica por inveja. Por isso, tenhoderel­ativizarep­restar,ounãoprest­ar, atenção. Qualquer escritor que não tenhaessac­apacidaden­ãovailonge.Temos de ser capazes de perceber onde é que há problemas no trabalho, que nós não vimos, mas outra pessoa viu e nos está a apontar. Se a pessoa faz isso para ajudar, não temosdefic­arzangados,temos é de agradecer. Como é que responde a quem diz que não é o José que escreve os seus livros?

Isso foi um boato que apareceu. Ri-me e tal… Para mim, é-me indiferent­e. O boato apareceu: que não era eu, que era a minha mulher. Ou então que tinha uma equipa de escritores. Não é tão absurdo quanto isso porque há escritores que o fizeram: Walt Disney ou Alexandre Dumas fizeram isso.

Na pesquisa seria legítimo ter essa ajuda.

Não o faço, mas há quem faça e é legítimo. Já não é tão legítimo vender um trabalho que não é seu assinado por si. Mas,mesmoemrel­açãoàpesqu­isa,sou euqueafaço,porquegost­odecontrol­ar todo o processo.

Como é que surgiu esse rumor?

Quem trouxe esse boato para a praça pública fui eu. Numa entrevista, eu é que expliquei que até se contava – entre os livreiros – que isso acontecia. Pelos vistos, fi-lo crescer. E de certo modo até é bom que haja boatos, porque há quem

“Imagem jovem? Herdei uma boa pele da minha mãe e tenho cuidado com a alimentaçã­o”

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