A ESTÁTUA de Ronaldo
Naquela noite, pouco depois das 21:00, no meio da redacção, mesmo os que olhavam para o computador, como era o meu caso, sentiram de imediato, pelo bruá colectivo, que alguma coisa de especial tinha acontecido. Quando olhei, no televisor em frente, o jogo estava parado, porque os jogadores do Real celebravam um golo. À minha volta, os telespectadores mais atentos continuavam a emitir sons de espanto. A atenção estava conquistada. Eis que a repetição demonstra o milagre a que, desgraçadamente, como vimos, não assisti em directo: tinha acontecido o golo que constrói a estátua imortal de Cristiano Ronaldo, aquele que, de entre todos os futebolistas que vi jogar, considero o melhor de sempre. E, sim, tenho idade para ter assistido ao Mundial de Maradona, em 1986. O aplauso operático que se seguiu, como se uma qualquer soprano tivesse finalizado uma área brilhante perante uma plateia rendida, funcionou como um autêntico “bravo” colectivo, que se espalhou pelo planeta, percebeu-se de imediato, através do directo
televisivo global. CR7, sempre tão bélico no festejo dos seus golos, fruto, talvez, do sentimento de injustiça que vem das raízes da vida de pobre, na Madeira, transmutou o rito guerreiro em agradecimento, primeiro com um aperto no coração, e logo depois de mãos postas, em prece, com uma leve vénia em que, também ele, agradeceu a magia com que aquele público culto aplaudiu um génio à sua frente. Por mais anos que passem, jamais esqueceremos aqueles minutos de televisão.
A principal razão para os directos serem momentos tão especiais de televisão é que, a qualquer momento, pode acontecer algo inesquecível. Foi assim com o golo de bicicleta