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“Ainda tenho AMIGOS que conheci”

O actor de Jogo Duplo continua reservado e a deixar a vida íntima... escondida. Prefere antes falar de como foi chegar aqui como actor e no empenho que teve na adolescênc­ia para que os pais confiassem em si. Afinal, todos os dias tinha de ir estudar para

- TEXTO HUGO ALVES I FOTOS LILIANA PEREIRA

Já tem 12 anos de carreira...

É curioso, porque não sinto esses anos todos “nas costas”! Obviamente, sei que tenho um peso de responsabi­lidade, mas ainda sinto aquela vontade de fazer mais e melhor do que sentia quando comecei.

O que relembra dos primeiros tempos?

Nervoso era a palavra de ordem. Cada estreia era um turbilhão de emoções! Cheguei a vomitar de nervoso ... Hoje, sinto o mesmo, mas de uma forma mais madura. Consigo gerir muito melhor todas essas emoções.

O que o levou a ser actor?

Comecei a estudar representa­ção aos 15 anos, a sonhar com isto muito novo... Mas não tinha ninguém na família que tivesse seguido esta via profission­al, por isso foi uma decisão difícil. Estava descontent­e com a escolarida­de dita normal e precisava de uma mudança, precisava de motivação para estudar, de algo que me completass­e. E quando chegou a altura de dar o salto para o 10.º ano, achei, juntamente com a minha família, que era o momento certo para ingressar numa escola profission­al. Assim o fiz! Fiz as provas de acesso para a Escola Profission­al de Artes e Ofícios do Espectácul­o, Chapitô e aí se iniciou um sonho e um objectivo de criança. E toda a motivação voltou.

Cresceu num bairro social. O que recorda desses tempos?

Convivi com realidades diferentes da minha. Nós mudámo-nos para aquela zona, porque surgiu uma excelente oportunida­de de negócio, mas sinto que aqueles tempos me fizeram dar valor a muitas coisas. Viveu alguma situação perigosa? Não, de todo. Era um bairro pacífico. Ainda tenho amigos que conheci lá. É curioso que alguns ainda vivem lá, construíra­m família e nunca quiseram sair, e isso mostra como é um bairro tranquilo.

Diz que teve sempre o apoio dos seus pais. Eles nunca se preocupara­m que pudesse ficar sem trabalho?

Qualquer pai se preocupa, e os meus não são excepção, mas a minha base familiar sempre foi fantástica. O que me diziam era: “Filho se não der certo, o pior que pode acontecer é seguires outro caminho e voltar atrás, mas o que ganhaste até agora já ninguém te tira.” Cortar as ambições a um filhoé opior que se pode fazer. Eu tinha motivação, comecei a apresentar boas notas, apesar de ir todos os dias de Oeiras para Lisboa sozinho. Eles apoiaram-me e eu nunca lhes dei motivos para não acreditare­m que tinha feito a escolha certa.

Hoje, que olha para trás, sente que cresceu? Estudava a 25 km de casa, fazia esse caminho diariament­e sozinho, fui obrigado afastar-medos meus amigos de escola por falta de tempo, sair da minha zona de conforto e tive que assumi ruma responsabi­lidade maior do que a maioria dos miúdos de 15 anos. Isso fez-me crescer, fez-me perceber o peso da responsabi­lidade. A minha família tinha-me apoiado e, por isso, não os queria desapontar. Nem a eles, nem a mim. Hoje, sinto-me mais maduro, essencialm­ente, sinto que o meu passado me trouxe armas para enfrentar o que for preciso.

A NAMORADA SECRETA

Tem 31 anos. Já se sente um adulto? Há responsabi­lidades às quais não posso nem quero fugir. Mas espero ter sempre aquele brilho nos olhos de um miúdo quando recebe aquele presente que sempre quis, por exemplo.

Tem sido sempre muito discreto na sua vida pessoal. No entanto, namora com a Rita [Sardinha] há muito tempo. Como é que se conheceram?

Sempre protegi a minha vida privada. Ela merece o seu espaço e a sua privacidad­e. E, por isso, irei gentilment­e escapar-me a esta pergunta. O Duarte é actor... Como é em casa, ele fica escondido? É sempre difícil o Duarte actor desaparece­r, tal como um médico será sempre um médico, seja onde for. Ma seu não vejo uma conotação negativa nisso, somos sempre aquilo que fazemos. Mas tento trazer o mínimo de problemas do trabalho para casa. Há que relativizá-los também.

Eé romântico? Comoé que isso se traduz?

Não me considero um romântico puro, mas tenho rasgos que se podem cons ide--

“Cada estreia era um turbilhão de emoções. Cheguei a vomitar de nervoso. Hoje, sinto o mesmo... mas de uma forma mais madura”

rar de romantismo, que os traduzo em acções, surpresas, por exemplo, escapa din de fim-de-semana ...

Nos trabalhos que tem feito, muitas vezes acaba por ser o sex-symbol. Sente-se como tal?

Sei que fiz personagen­s que acabaram por me atribuir essa conotação, mas eu não o sinto, mas também não vejo nada de negativo nisso.

O que lhe dizem as fãs mais atrevidas? É muito abordado? Já ouvi, por exemplo, algumas vezes um “casava-me ”. Acho que isso é bom, é uma união para a vida (risos). Contudo, durante O Beijo do Escorpião, foi um dos ídolos da comunidade gay. Como se sentiu?

Sinceramen­te, senti que o meu trabalho foi bastante valorizado. Houve muitas pessoas que tiveram uma história muito idêntica à do Miguel, de O Beijo do Escorpião, e fizeram qu estão dep artilhar isso. Eé isso que valorizo. A mensagem foi passa dada forma mais correcta possível.

Diz muitas vezes que é tímido. Como venceu essa timidez? Usei algumas vezes o termo tímido, mas re serva do éa palavra mais correcta. Sou mais observador do que falante. Já lutei mais contra isso do que o faço agora. Actualment­e, até o consigo ver como uma qualidade (risos). Sei que, a nível pessoal, quando são ultrapassa­das algumas barreiras, esse lado fica imediatame­nte posto de parte.

CENAS ESCALDANTE­S

Como estão a correr as gravações de Jogo Duplo?

O Diogo é, de facto, uma personagem fascinante. Para os seus traços gerais, tive que ir buscar um ritmo que não tenho em mim naturalmen­te, um ritmo mais “acelerado”. O Diogo responde e age sem pensar, é reactivo, não mede as consequênc­ias das suas acções. Mas está tudo justificad­o pelo seu passado, eisso é om ais importante, poisa personagem está completame­nte sustentada. E eu, apesar de não concordar com a maioria das suas acções, consigo sempre encontrar verdade para as mesmas. Foi fácil transforma­r-se neste rapaz? Recorreu a alguma ajuda?

Foi engraçado o meu processo de construção desta personagem, porque o seu início surgiu por mero acaso. Andava eu à procura dessa amargura, de um sentimento de revolta que ele tem, uma espécie de síndrome do abandono, devido a ter tido um pai ausente, ter perdido a mãe e o seu irmão mais velho e seu “guia” ter emigrado, e, um dia, num

jantar, um amigo meu, por motivos completame­nte diferentes, teve exactament­e a reacção que eu procurava para o Diogo. Olhei para ele e pensei :“É isto, o Diogo de traço modo és tu!” A partir dali, foi só aplicar e moldar aquelas reacções para os acontecime­ntos do Diogo. Ainda hoje, esse meu amigo não sabe que eu me baseei nele (risos).

O início da novela foi marcado por cenas ousadas. Foram fáceis de fazer? Qualquer cena íntima tema sua complexida­de, porque nunca deixamos de estar a trabalhar na nossa pele ena intimida de do outro, maso importante éo que leva aquelas personagen­s a envolverem-se. Pode ser amor, pode ser interesse, pode ser por solidão, pode ser por uma data de razões. O desafio, então, acaba por ser o porquê, e a partir daí, o resto surge naturalmen­te.

As que fez nesta novela, comparadas com as d’O Beijo do Escorpião com o Pedro Carvalho, foram menos polémicas...

O objectivo da história do Miguel e do Paulo, em O Beijo do Escorpião, foi desmistifi­ca ruma história de amor iguala tantas outras, mas de pessoas do mesmo sexo. O que me lembro é de uma onda positiva para com o nosso trabalho, sinto que foi um marco naquele momento, conseguimo­s que muitas pessoas se identifica­ssem com a história e que outras a compreende­ssem.

Quando Jogo Duplo se iniciou, disse que a sua namorada, Rita Sardinha, não ia ver as cenas... Disse-o em tom de brincadeir­a. A minha namorada apoia-mein condiciona­l mente, é um acrítica também do meu trabalho e, por isso, vê sempre os meus trabalhos. É espectacul­ar ter alguém em casa que participa activament­e no meu processo de trabalho. Inclusive, passamos muitas vezes o texto juntos. Em 12 anos de trabalho, raramente parou. Sente que isto é sorte ou fruto do seu trabalho?

Eu acredito que seja fruto do meu trabalho, acredito verdadeira­mente no trabalho, essa deves era nossa bandeira. Mas tambémé sempre preciso um pingo de sorte; para fazer as escolhas certas e para estar disponível e ser o actor que precisam para determinad­o projecto. É preciso sorte nos timings, porque nem sempre há um outro trabalhoin­teressante, quando terminamos um projecto. Contudo, nunca lhe propuseram exclusivid­ade. O que falhou?

Um contrato de exclusivid­ade pode ser mais confortáve­l, mas encaro como um estímulo correr atrás de projectos com os quais me identifico.

“Já ouvi de fãs, algumas vezes (quando o vêm), ‘casava-me’. Isso é bom. É uma un ião para a vida”

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Vítor Hugo, de 41 anos, fotografad­o em exclusivo para a
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