“Ainda tenho AMIGOS que conheci”
O actor de Jogo Duplo continua reservado e a deixar a vida íntima... escondida. Prefere antes falar de como foi chegar aqui como actor e no empenho que teve na adolescência para que os pais confiassem em si. Afinal, todos os dias tinha de ir estudar para
Já tem 12 anos de carreira...
É curioso, porque não sinto esses anos todos “nas costas”! Obviamente, sei que tenho um peso de responsabilidade, mas ainda sinto aquela vontade de fazer mais e melhor do que sentia quando comecei.
O que relembra dos primeiros tempos?
Nervoso era a palavra de ordem. Cada estreia era um turbilhão de emoções! Cheguei a vomitar de nervoso ... Hoje, sinto o mesmo, mas de uma forma mais madura. Consigo gerir muito melhor todas essas emoções.
O que o levou a ser actor?
Comecei a estudar representação aos 15 anos, a sonhar com isto muito novo... Mas não tinha ninguém na família que tivesse seguido esta via profissional, por isso foi uma decisão difícil. Estava descontente com a escolaridade dita normal e precisava de uma mudança, precisava de motivação para estudar, de algo que me completasse. E quando chegou a altura de dar o salto para o 10.º ano, achei, juntamente com a minha família, que era o momento certo para ingressar numa escola profissional. Assim o fiz! Fiz as provas de acesso para a Escola Profissional de Artes e Ofícios do Espectáculo, Chapitô e aí se iniciou um sonho e um objectivo de criança. E toda a motivação voltou.
Cresceu num bairro social. O que recorda desses tempos?
Convivi com realidades diferentes da minha. Nós mudámo-nos para aquela zona, porque surgiu uma excelente oportunidade de negócio, mas sinto que aqueles tempos me fizeram dar valor a muitas coisas. Viveu alguma situação perigosa? Não, de todo. Era um bairro pacífico. Ainda tenho amigos que conheci lá. É curioso que alguns ainda vivem lá, construíram família e nunca quiseram sair, e isso mostra como é um bairro tranquilo.
Diz que teve sempre o apoio dos seus pais. Eles nunca se preocuparam que pudesse ficar sem trabalho?
Qualquer pai se preocupa, e os meus não são excepção, mas a minha base familiar sempre foi fantástica. O que me diziam era: “Filho se não der certo, o pior que pode acontecer é seguires outro caminho e voltar atrás, mas o que ganhaste até agora já ninguém te tira.” Cortar as ambições a um filhoé opior que se pode fazer. Eu tinha motivação, comecei a apresentar boas notas, apesar de ir todos os dias de Oeiras para Lisboa sozinho. Eles apoiaram-me e eu nunca lhes dei motivos para não acreditarem que tinha feito a escolha certa.
Hoje, que olha para trás, sente que cresceu? Estudava a 25 km de casa, fazia esse caminho diariamente sozinho, fui obrigado afastar-medos meus amigos de escola por falta de tempo, sair da minha zona de conforto e tive que assumi ruma responsabilidade maior do que a maioria dos miúdos de 15 anos. Isso fez-me crescer, fez-me perceber o peso da responsabilidade. A minha família tinha-me apoiado e, por isso, não os queria desapontar. Nem a eles, nem a mim. Hoje, sinto-me mais maduro, essencialmente, sinto que o meu passado me trouxe armas para enfrentar o que for preciso.
A NAMORADA SECRETA
Tem 31 anos. Já se sente um adulto? Há responsabilidades às quais não posso nem quero fugir. Mas espero ter sempre aquele brilho nos olhos de um miúdo quando recebe aquele presente que sempre quis, por exemplo.
Tem sido sempre muito discreto na sua vida pessoal. No entanto, namora com a Rita [Sardinha] há muito tempo. Como é que se conheceram?
Sempre protegi a minha vida privada. Ela merece o seu espaço e a sua privacidade. E, por isso, irei gentilmente escapar-me a esta pergunta. O Duarte é actor... Como é em casa, ele fica escondido? É sempre difícil o Duarte actor desaparecer, tal como um médico será sempre um médico, seja onde for. Ma seu não vejo uma conotação negativa nisso, somos sempre aquilo que fazemos. Mas tento trazer o mínimo de problemas do trabalho para casa. Há que relativizá-los também.
Eé romântico? Comoé que isso se traduz?
Não me considero um romântico puro, mas tenho rasgos que se podem cons ide--
“Cada estreia era um turbilhão de emoções. Cheguei a vomitar de nervoso. Hoje, sinto o mesmo... mas de uma forma mais madura”
rar de romantismo, que os traduzo em acções, surpresas, por exemplo, escapa din de fim-de-semana ...
Nos trabalhos que tem feito, muitas vezes acaba por ser o sex-symbol. Sente-se como tal?
Sei que fiz personagens que acabaram por me atribuir essa conotação, mas eu não o sinto, mas também não vejo nada de negativo nisso.
O que lhe dizem as fãs mais atrevidas? É muito abordado? Já ouvi, por exemplo, algumas vezes um “casava-me ”. Acho que isso é bom, é uma união para a vida (risos). Contudo, durante O Beijo do Escorpião, foi um dos ídolos da comunidade gay. Como se sentiu?
Sinceramente, senti que o meu trabalho foi bastante valorizado. Houve muitas pessoas que tiveram uma história muito idêntica à do Miguel, de O Beijo do Escorpião, e fizeram qu estão dep artilhar isso. Eé isso que valorizo. A mensagem foi passa dada forma mais correcta possível.
Diz muitas vezes que é tímido. Como venceu essa timidez? Usei algumas vezes o termo tímido, mas re serva do éa palavra mais correcta. Sou mais observador do que falante. Já lutei mais contra isso do que o faço agora. Actualmente, até o consigo ver como uma qualidade (risos). Sei que, a nível pessoal, quando são ultrapassadas algumas barreiras, esse lado fica imediatamente posto de parte.
CENAS ESCALDANTES
Como estão a correr as gravações de Jogo Duplo?
O Diogo é, de facto, uma personagem fascinante. Para os seus traços gerais, tive que ir buscar um ritmo que não tenho em mim naturalmente, um ritmo mais “acelerado”. O Diogo responde e age sem pensar, é reactivo, não mede as consequências das suas acções. Mas está tudo justificado pelo seu passado, eisso é om ais importante, poisa personagem está completamente sustentada. E eu, apesar de não concordar com a maioria das suas acções, consigo sempre encontrar verdade para as mesmas. Foi fácil transformar-se neste rapaz? Recorreu a alguma ajuda?
Foi engraçado o meu processo de construção desta personagem, porque o seu início surgiu por mero acaso. Andava eu à procura dessa amargura, de um sentimento de revolta que ele tem, uma espécie de síndrome do abandono, devido a ter tido um pai ausente, ter perdido a mãe e o seu irmão mais velho e seu “guia” ter emigrado, e, um dia, num
jantar, um amigo meu, por motivos completamente diferentes, teve exactamente a reacção que eu procurava para o Diogo. Olhei para ele e pensei :“É isto, o Diogo de traço modo és tu!” A partir dali, foi só aplicar e moldar aquelas reacções para os acontecimentos do Diogo. Ainda hoje, esse meu amigo não sabe que eu me baseei nele (risos).
O início da novela foi marcado por cenas ousadas. Foram fáceis de fazer? Qualquer cena íntima tema sua complexidade, porque nunca deixamos de estar a trabalhar na nossa pele ena intimida de do outro, maso importante éo que leva aquelas personagens a envolverem-se. Pode ser amor, pode ser interesse, pode ser por solidão, pode ser por uma data de razões. O desafio, então, acaba por ser o porquê, e a partir daí, o resto surge naturalmente.
As que fez nesta novela, comparadas com as d’O Beijo do Escorpião com o Pedro Carvalho, foram menos polémicas...
O objectivo da história do Miguel e do Paulo, em O Beijo do Escorpião, foi desmistifica ruma história de amor iguala tantas outras, mas de pessoas do mesmo sexo. O que me lembro é de uma onda positiva para com o nosso trabalho, sinto que foi um marco naquele momento, conseguimos que muitas pessoas se identificassem com a história e que outras a compreendessem.
Quando Jogo Duplo se iniciou, disse que a sua namorada, Rita Sardinha, não ia ver as cenas... Disse-o em tom de brincadeira. A minha namorada apoia-mein condicional mente, é um acrítica também do meu trabalho e, por isso, vê sempre os meus trabalhos. É espectacular ter alguém em casa que participa activamente no meu processo de trabalho. Inclusive, passamos muitas vezes o texto juntos. Em 12 anos de trabalho, raramente parou. Sente que isto é sorte ou fruto do seu trabalho?
Eu acredito que seja fruto do meu trabalho, acredito verdadeiramente no trabalho, essa deves era nossa bandeira. Mas tambémé sempre preciso um pingo de sorte; para fazer as escolhas certas e para estar disponível e ser o actor que precisam para determinado projecto. É preciso sorte nos timings, porque nem sempre há um outro trabalhointeressante, quando terminamos um projecto. Contudo, nunca lhe propuseram exclusividade. O que falhou?
Um contrato de exclusividade pode ser mais confortável, mas encaro como um estímulo correr atrás de projectos com os quais me identifico.
“Já ouvi de fãs, algumas vezes (quando o vêm), ‘casava-me’. Isso é bom. É uma un ião para a vida”