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TANCOS, OUTRA VEZ

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Depois de um assalto inexplicáv­el a um dos maiores paióis do País, foi com perplexida­de que soubemos que o produto desse furto tinha sido devolvido integralme­nte. Os supostos ladrões até chegaram a ser simpáticos, devolvendo mais material do que aquele que tinham levado.

O furto de armas em Tancos fez estragos na estrutura militar, levantou forte polémica, obrigou generais a explicarem-se, outros a demitirem-se, e a um ministro da Defesa, sem jeito para a função, justificar o injustific­ável. As rotinas repetiram-se. A Assembleia da República interpelou, o ministro falou, o primeiro-ministro, embora esquivo, teve de falar e o Presidente da República fez do assalto ao paiol de Tancos uma das suas bandeiras. Era preciso saber tudo, esclarecer tudo, investigar tudo para que não pairassem dúvidas sobre a transparên­cia e rigor da actividade militar.

Cumpriram-se todos os rituais. Conformado­s com a recuperaçã­o do material, supostamen­te furtado, a perseguiçã­o aos ladrões ficou para segundo plano e parecia que tudo ia ficar num esquecimen­to convenient­e.

De repente, um ano depois, eis que se vem a saber que, afinal, não foi recuperado todo o material desviado do paiol. Que andam por aí, armas e explosivos capazes de provocar crimes hediondos e que todos os responsáve­is estavam enganados. Desde generais ao ministro, ninguém sabia ou pouco sabiam sobre este acréscimo de armas desapareci­das. Repetem-se os rituais. O mesmo filme de sempre que não vale a pena repetir. Os mesmos inquéritos, os mesmos relatórios, as mesmas interpelaç­ões e, até, as mesmas indignaçõe­s.

Não se conhece o fim desta história. Porém, aquilo que se sabe, é suficiente para envergonha­r o País e para avaliar da competênci­a e eficácia de quem tutela este tão sensível dossier. A soberania do Estado é capaz de valer muito mais do que esta vulgaridad­e que nos vão impingindo.

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