TV Guia

“Há dias que NÃO VEJO o meu FILHO”

Divide-se entre a rádio e a TV e trabalha, por isso, de manhã à noite. Sente-se “culpado” pela sua ausência no meio familiar, principalm­ente por não acompanhar mais Tomás, de 2 anos. No The Voice, que estreia domingo, 23, revela que vai chorar

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Eo seu sexto The Voice Portugal, se incluirmos o The Voice Kids. Mesmo assim, ansioso por esta estreia? Muito! Esta edição está renhida. O talento é alto. A picardia, sempre com muito amor, entre os mentores, também está elevada. Vai haver boas surpresas, mais factores de competitiv­idade, num programa que tem um óptimo ambiente. Apesar de ser um programa de televisão, existe uma competição por aquilo queé“meu”,é um concurso! Procura-se a melhor voz de Portugal, qual o mentor eleito o vencedor... No caso da Aurea, ela nunca ganhou, por exemplo, e quer muito ganhar!

No ar há seis anos com o programa, o que é que ainda o consegue surpreende­r?

Conseguir-me surpreende­r com o talento. Enquanto conseguir rir à gargalhada com o que os mentores dizem, enquanto ficar arrepiado com algumas coisas que acontecem, vou fazer este programa! Enquanto continuar a conseguir, como apresentad­or do programa, sentir todas as emoções que os espectador­es, lá em casa, também sentem, vou continuar a fazê-lo. Quando eu achar que isto é mais do mesmo ou que nadam e surpreende, sou o primeiro a dizer que não quero fazer mais. Peço para passarem isto a outro. Porque precisa dessa emoção para trabalhar?

Ano após ano, no primeiro dia de gravações, penso sempre o mesmo: “Quero continuar a sentir isto como se fosse o primeiro”, e a verdade é que isso continua a acontecer. As músicas, as vozes, aquilo que os concorrent­es sentem, as reacções das famílias, a alegria no “sim”, a tristeza no “não”... Acho que este ano foi aquele em que mais me emocionei nas Provas Cegas. Vamos vê-lo a chorar?

Vão! Digo já que sim. A própria Catarina [Furtado] disse-me: “Meu Deus, ele está a chorar. O que é que se passa contigo?” Acho que isto da idade e da paternidad­e altera a nossa química. Foi o ano em que mais me emocionei, mais me revoltei com algumas decisões dos nossos mentores. Aconteceme exactament­e aquilo que acontece ao espectador: “Mas como é que eles não viram as cadeiras?” Mas depois penso que eles têm de tomar decisões. Este programa dá-me muito prazer. Há uma necessidad­e de se reinventar, de ano para ano?

Nem por isso. Neste formato, sou sempre eu próprio. Se o papel principal fosse meu, pensava duas vezes. Aqui o papel principal é dos concorrent­es e de quem tem de tomar decisões. O meu papel é falar antes das provas, estar com as famílias, acalmar um bocadinho os ânimos, festejar... Isso é aquilo que tenho de continuar a fazer. O The Voice não precisa que me reinvente. Tento sempre só não fazer alguma coisa que já tenha feito. Não dar mais do mesmo.

Como é “voltar para os braços” de Catarina Furtado?

Não é bem um reencontro. A ideia que tenho é que nunca deixámos de nos encontrar. Profission­almente, é sempre um prazer incrível trabalhar com aquela mulher. Somos cada vez mais amigos, mais cúmplices. Gostamos cada vez mais um do outro. Temos muito à-vontade, sabemos aquilo que o outro está a pensar. É um prazer incrível trabalhar com aquela mulher. Não só pelo seu valor humano, mas também pelo nível profission­al. Continuo a aprender muito com ela. Ajudamo-nos mutuamente. Estamos lá sempre um para o outro. Dizem que, às vezes, a amizade pode ser prejudicia­l no trabalho... No nosso caso, nunca! Apesar da rambóia e da galhofa, separamos as águas. Quando é para trabalhar, é para trabalhar. Temos de dar sempre o nosso melhor. Nunca relaxamos. As pessoas estão em casa para nos ver. Queremos dar mais, melhor e diferente.

Como apresentad­or mas também radialista, como é ouvir os vencedores do The Voice na rádio?

É um orgulho muito grande. Tenho o exemplo do Fernando Daniel. O ano passado, estava a vir de férias e reconheci a voz na rádio. Até lhe mandei uma mensagem. Fiquei muito feliz. Houve aqui quem confundiss­e o low profile dele com outras coisas. Ele estava sempre na dele, não entrava muito em brincadeir­as… Ele sabia o quanto queria isto. Ganhou e está lançadíssi­mo. Fico feliz e espero que dê animo a futuros concorrent­es. É o melhor de dois mundos: rádio e televisão. E agora ainda apresenta o Joker, em horário nobre, na RTP...

Tem sido uma grande experiênci­a. Aqui, sim, consigo reinventar-me. É um registo diferente do que o Vasco está habituado, mais sério.

Sim, sim. Sou eu a falar com um concorrent­e. São 12 perguntas e, para além disso, tenho de acalmar o concorrent­e. Consigo fazer um Vasco diferente, mas sempre puxando ali um bocadinho para o lado da galhofa. Mas, sim, mais sério. Nunca me esqueço das pessoas que me estão a ver em casa. Tento sempre levar o programa num rumo que o espectador queira parar no canal para ver. O grande desafio neste projecto é realmente ser uma pessoa “mais séria”? É! Não quero que um espectador que me conhece do Sabe ou Não Sabe? ou da Rádio Comercial diga que ali sou apenas mais do mesmo, mas também não quero que digam que não estou a ser o Vasco que já conhecem. Conseguir encontrar um meio termo que mostre um novo Vasco, mas que não seja aquele que as pessoas conhecem, não foi fácil. Precisei de encontrar timings e alturas certas para dizer as minhas piadas… É tudo novo para mim, mas acho que está a correr bem. Sou muito profission­al no que faço. Sente o peso de estar a apresentar um programa em horário nobre? É o horário mais desejado pelos apresentad­ores de TV... Não. Não penso no horário. Sei e não desvaloriz­o, mas não penso muito nisso. Desse a que horas desse, ia encarar o projecto da mesma maneira. Obviamente que fico feliz quando vejo as audiências... Quando vejo que houve picos de 810 mil pessoas fico estupefact­o! Deixa-me feliz. Mas quando estou a fazer o programa não me lembro de nada disso.

Chegar a um programa neste horário era um dos seus objectivos de carreira? Não, não. O meu objectivo de carreira é só um: fazer aquilo que gosto. E quero continuar a ter propostas que me chegam à mesa de trabalho, e que possa dizer sim ou não. Felizmente, são mais as vezes que digo que sim. As pessoas já sabem qual é o meu perfil e adoro projectos que sejam uma mais-valia e que sei que vou conseguir fazer bem.

Neste momento, entra às 07:00 na rádio e a isso juntam-se as gravações do Joker e do The Voice. Como é que se concilia tudo isto com a vida familiar?

“Quando achar que o The Voice é mais do mesmo ou que nada me surpreende, sou o primeiro a dizer que não quero mais”

É muito difícil, mesmo muito difícil. Voltamos à história do objectivo de vida e de carreira. Faço aquilo que gosto. Mas isso não significa que não haja cansaço, porque há! Especialme­nte onde noto muito é a nível da voz. São dias inteiros a começar às 07:00 e a acabar às 21:00, em que não paro de falar. É esse o meu trabalho! É desgastant­e fisicament­e também, mas, ao menos, o Joker é sentado, não tenho de me mexer muito [risos]. É cansativo e a nível de vida pessoal é tramado. A sua mulher compreende?

Sim. Felizmente, tenho em casa uma família que me apoia muito e que percebe. É engraçado que, no fim-de-semana, quando o meu filho acorda e me vê lá, é estranho para ele. Abre os olhos e diz: “Papá!”, com um ar muito surpreendi­do. Há dias que saio de casa, ele está a dormir. Quando chego a casa, ele também já está a dormir. Há dias que não o vejo. Chego, olho para ele a dormir e penso: “Está tão grande!” Esta é a parte chata, tenho pouco tempo para a família.

Não se sente culpado por estas constantes ausências?

Um bocadinho, mas agora penso que é até Novembro. Faço muito esta analogia: surfar a onda enquanto há ondas, porque há um dia que o mar pode ficar calmo. Agora, o mar está porreiro! Consigo surfar uma ondinha ou outra e fico muito tempo dentro de água. Tenho na praia a minha mulher e o meu filho a dizerem-me: “Continua, continua”, e a apoiarem-me.

Ao menos, agora, o Tomás vê-o mais vezes na televisão... Sim, e adora! Dito por ele, deixou de querer ver o canal Panda para ver o “Papá do Joker”. Ele já sofre um bocadinho com o jogo. Bate palmas com as respostas certas, faz “oooooh”, quando perdem. E quando ele o vê ao lado dele e ao mesmo tempo na televisão? Já percebeu! O engraçado é que ele já sabe os anúncios que passam depois do programa! Já canta as músicas. É muito engraçado.

Para além de todos os desafios profission­ais, a paternidad­e tem sido o maior da sua vida?

Tem. Especialme­nte agora que ele está a entrar na fase dos 3 anos. É uma fase muito complicada. Porquê?

Antes era complicado, porque não dormiaou porque tinha cólicas. Agor achegou a fase complicada da perso na lidade.Éafa sedas birras, dos mimos, do “eu quero”, do “é meu” e do “não quero ir dormir ”. Estaéa altura complicada em que ele já percebe as coisas. É preciso estar em cima dele para que perceba que nãoéocent rode tudo, não pode ter tudo o que quer. Esta parte é tramada para um pai. Chego a casa e tenho a minha mulher a dizer: “Tu não estás bem a ver o que é que ele fez hoje…” Aí sinto-me um bocadinho culpado. Penso que devia lá estar, que devia ter feito qualquer coisa. Ele tem de perceber que nãoéocent rodo mundo, não pode nem vai ser. É uma criança como qualquer outra.Éocent rodo nosso mundo, mas não pode ter tudo. A personalid­ade dele é mais parecida com o pai ou com a da mãe?

Tem muito da minha personalid­ade, mas também tem mui toda mãe. O mau feitio é todo da mãe, ela sabe isso. ●

“Ele [o filho] tem de perceber que não é o centro do mundo. Não pode nem vai ser. É uma criança como qualquer outra”

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TEXTO CAROLINA PINTO FERREIRA I FOTOS RICARDO RUELLA
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Vasco Palmeirim, de 39 anos, num dos dias de gravaçõesd­o The Voice.

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