RTP A FERRO E FOGO
1. Já não sei se é a génese da RTP, se é outra coisa qualquer. O que sei é que a estação pública está (quase) sempre a ferro e fogo, desta vez por causa das mudanças que a administração e a direcção de Informação estão a tomar, como contamos nesta semana, em exclusivo, na TV Guia :ofimde Prós & Contras, apresentado desde a estreia, há 16 anos, por Fátima Campos Ferreira, e o afastamento de Cristina Esteves do Telejornal, ao fim-de-semana. As duas jornalistas não gostaram das decisões, estão no seu direito, a redacção em polvorosa toma partido, mas a verdade é que algo tinha de ser feito, pois as audiências na Av. Marechal Gomes da Costa andam pela rua da amargura. Há muito que tinha escrito aqui que Prós & Contras tinha morrido. A ideia revolucionária de Emídio Rangel, em 2002, de um formato semanal de debate de temas de actualidade, com convidados de primeira linha da sociedade portuguesa, que gerasse confronto de ideias, que despertasse consciências, transformou-se num programa cinzento, sem alma, com uma agenda própria de Fátima – e não a que se exigia, aquela que os espectadores desejavam –, e com protagonistas longe de serem uma referência. Este fim, claramente, tem o meu apoio. Afinal, parar é morrer, e a jornalista parece ter parado no tempo há vários anos. Sobre a saída de Cristina Esteves do Telejornal, vítima das más audiências, deixo uma pergunta: a culpa é só dela?
2. Sou fã do The Voice, do formato em si, dos apresentadores e dos mentores, tal como a minha filha, Leonor – vê sempre os primeiros 15 minutos, no domingo, e depois vai vendo o resto durante a semana –, mas há uma coisa que me revolta no concurso da RTP: o de não se cantar em português. Em 12 músicas, apenas uma foi na língua de Camões. Ironia das ironias, chamava-se O Amor a Portugal, tema imortalizado por Dulce Pontes, e arrebatou a plateia, com Mickael Carreira, Marisa Liz, Aurea e Anselmo Ralph loucos com a actuação de Diana Castro. Se ninguém, de Catarina Furtado a Marisa Liz, da produtora ao director de Programas, José Fragoso, dá um passo para acabar com esta vergonha, a de ignorar a nossa cultura e artistas, que Gonçalo Reis, presidente da RTP, tome uma atitude: negociar uma quota de canções portuguesas no
The Voice. É que isto não é só querer sacar (mais) dinheiro aos contribuintes para governar a estação pública…