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“É DIFÍCIL AVALIAR o que escrevo”

Cantor está de volta aos discos, com Entretenim­ento?, um álbum que reflevte muito sobre esta indústria do espectácul­o da qual todos fazemos parte e à qual ninguém consegue passar incólume

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Quando os ‘Trumps’ desta vida dominam a agenda mediática como se fossem rock stars, quando a música serve de banda sonora tanto a campanhas políticas como a pedidos de casamento, quando um artista tanto é visto como ídolo como inimigo público, afinal que papel temos todos nós neste mundo do espetáculo? É possível a quem faz parte desta indústria não ser devorado por ela? Pode tudo ser visto como puro divertimen­to? Afinal de contas, o que é isto do entretenim­ento? “Essa é uma questão que me coloco todos os dias enquanto peão deste jogo. Aquilo que eu faço, que é música, faz parte do entretenim­ento e o que eu me pergunto muitas vezes é quais são as regras deste jogo.” As palavras são de Carlão que, no seu novo disco, Entretenim­ento? (assim mesmo com ponto de interrogaç­ão), se questiona precisamen­te sobre esta coisa da música ser vista apenas como produto de consumo imediato. “O problema é quando tudo é visto como entretenim­ento. Se eu tenho uma música de amor aparenteme­nte inócua e tenho outra a falar de depressão, será que ambas devem ser vistas como entretenim­ento? Eu acho que estas dúvidas estão sempre presentes quando se faz um disco”, adianta. De regresso aos trabalhos discográfi­cos três anos depois da edição de Quarenta, Carlão contou agora com várias colaboraçõ­es, entre as quais, Slow J, António Zambujo e Manel Cruz, ex-Ornatos Violeta. “O Manel é um velho amigo que eu sempre admirei. É uma pessoa muito criativa e singular e a nossa amizade vem da altura dos Da Weasel. Foi engraçado encontrá-lo quase uma década depois numa altura em que ambos já passámos pela experiênci­a da paternidad­e (risos). Hoje eu e ele estamos bastante mais resolvidos em relação a uma série de coisas. O que saiu deste reencontro foi um dos temas mais especiais deste disco, no sentido em que é difícil de rotular, é uma pop esquizofré­nica, misturada com rap, não sei!”, tenta explicar.

O novo registo conta com as colaboraçõ­es de Slow J., Manel Cruz e António Zambujo,

entre outros.

“Já o António Zambujo é uma amizade mais recente. Conheci-o num concerto, fomos beber um vinho, ficámos a conversar e descobrimo­s que tínhamos muito em comum. Daí nasceu logo a vontade de fazermos algo juntos.” Composto por 12 temas originais e mais 4 faixas bónus que faziam parte do EP Na Batalha ,o novo disco inclui ainda um tema (Demasia) que Carlão fez com o irmão João Nobre, uma espécie de regresso ao passado quando os dois faziam parte dos Da Weasel. “Tenho muitas saudades de fazer música com ele, porque é algo que me dá muito prazer. O meu irmão é a razão de eu fazer música. Foi ele que me arrastou para isto e eu andei sempre um bocado a reboque dele. Era o irmão mais velho e eu seguia-o. E depois é uma pessoa muito talentosa. Eu não conheço uma malha má do meu irmão”, diz Carlão. Tendo abraçado nos últimos anos outros projectos como 5:30 ou Algodão (este de cariz mais pessoal), Carlão acabou também por amadurecer na escrita e na palavra. “É muito difícil avaliar aquilo que escrevo, mas se olhar para os primórdios dos Da Weasel, a diferença é de facto abismal, tanto é que eu já nem consigo ouvir esses temas. Quanto mais antigos menos os ouço.” ●

“O meu irmão é a razão de eu fazer música. Foi ele que me arrastou para isto. Era o mais velho e eu seguia-o”

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TEXTO MIGUEL AZEVEDO | FOTO PEDRO FERREIRA
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Carlão seguiu uma carreira a solo depois do final dos Da Weasel,em 2010.NOME ENTRETENIM­ENTO? EDITORA: UNIVERSAL PREÇO12,99€

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