AMOR E DINHEIRO
Os últimos dois acontecimentos criminais que despertaram o País, e causaram uma forte onda de indignação, são em tudo semelhantes. Quase parece que um copiou o outro
Refiro-me à morte de Luís Grilo, assassinado perto do Carregado, e da professora que foi morta no Montijo. São crimes com o mesmo padrão. Os presumíveis autores teriam uma relação afectiva com as suas vítimas, no primeiro caso a esposa e no segundo a filha, e o móbil aparente foi apropriarem-se dos bens que eram património da família. Por outro lado, nos dois casos, estarão envolvidos os homens que as duas amavam. Estão os quatro presos preventivamente.
Não se trata da tradicional e histórica violência doméstica, onde o impulso da cólera, o delírio do álcool, o machismo impenitente surgem como motivo para matar a companheira, ou o pai, ou o filho. Este tipo de crime é sobejamente conhecimento, está socializado no que respeita à compreensão dos factos criminosos, de tal forma habita a nossa memória profunda, que só nas últimas décadas começou a emergir vários tipos de militância cívica contra tal flagelo.
Aqueles dois homicídios fogem a esta regra. A relação psicoafectiva surge como vínculo e posição privilegiada para consumar os homicídios, no entanto, o fim foge à regra geral. Não é posse, não é ciúme, não é despeito. É avidez.
A integração de factor material transforma os dois delitos em duas obscenidades, à qual a opinião público reagiu com indignação e atira com este conjunto de presumíveis assassinos para a possibilidade de cumprimento da pena máxima de prisão, permitida em Portugal.
Deve dizer-se, por outro lado, que a eficácia da PJ foi decisiva para a descoberta dos eventuais autores de ambas as barbáries. O que só deixa admirados os que são mais distraídos. Na realidade, é neste território do combate ao homicídio que se gerou o ADN primordial desta polícia. Uma memória acumulada de experiência, de casos resolvidos, que coloca as brigadas de Homicídios no topo da investigação criminal europeia. Esperemos por estes dois julgamentos e, seguramente, vamos assistir a duas histórias tão semelhantes que ficarão como registo negro do ano que agora corre. E que se faça Justiça! ●