TV Guia

“Isto é a minha VOCAÇÃO”

Cantora comemora 30 anos de uma carreira que arrancou, em disco, em 1987, com Pássaros do Sul, mas que só começou em palco em 1988. De lá para cá assinou alguns dos maiores sucessos da música portuguesa. O pretexto para rever uma vida

- TEXTO MIGUEL AZEVEDO | FOTO PEDRO FERREIRA

Para Mafalda Veiga parece que foi ontem. Andava ela no secundário, em Montemor, e diariament­e, no caminho para a escola, tinha de passar por um jardim que a deixava muito impression­ada por causa dos idosos que costumava ver sentados, sozinhos, nos bancos. Um dia, chegou a casa, e com a inquietaçã­o própria da adolescênc­ia escreveu a sua primeira canção, Velho, cuja letra versava sobre a solidão e um certo desencanto pela vida. “Na altura, acho que nem percebi bem o que escrevi, mas a letra já era bastante violenta. Só dei conta disso mais tarde. Lembro-me, no entanto, de ter ficado contente por ter feito aquela canção porque foi ela que me abriu o caminho para cantar e escrever em português”, recorda. O primeiro disco, Pássaros do Sul, seria gravado, em 1987, mas a carreira em palco só arrancaria um meses depois, já em 1988. Ora é essa data, correspond­ente a 30 anos de carreira, que a cantora assinala agora com dois concertos, sexta-feira (12) no Coliseu do Porto e sábado (13) no Campo Pequeno, em Lisboa. Montado de raiz com arranjos novos e banda nova, o espectácul­o inclui ensemble de três sopros e três cordas e conta com vários convidados: Jorge Palma, Miguel Araújo e Rui Reininho no Porto e Jorge Palma, Rui Reininho e Tiago Bettencour­t em Lisboa. Para recordar estão temas de uma vida desde o primeiro disco, incluindo, claro está, esse enorme sucesso Planície, o tal que, no refrão, tem esse verso que já faz parte da memória colectiva (“pássaros do sul/bando de asas soltas/trazem melodias/p’ra cantar às moças”) e que a cantora já não interpreta­va há cerca de 15 anos: “Cansei-me um pouco dessa canção. Na altura, foi espremida até mais não. Já não a canto há muito tempo.”

“ERA A IRMÃ MAIS CHATA”

Nascida na véspera de Natal, em 1965, no seio de uma família numerosa, Mafalda Veiga cedo se interessou pela música. “A minha mãe diz que, quando aprendi a falar, passava a vida a cantar. Era em linguagem de

bebé, mas já com uma forte ligação à música.” A primeira guitarra foi-lhe oferecida pelo pai, por volta dos 15 anos, uma paixão da qual nunca mais se separou. “Rapidament­e percebi que a viola era uma fonte criativa, um terreno fértil para criar”, conta. “Passei a adolescênc­ia com a viola atrás, sempre a cantar. Em casa, era a imã mais chata porque andava sempre a fazer barulho. Não dava para tocar para dentro”, justifica. Os primeiros concertos que deu foram para a família, instigada então pelo tio, que era guitarrist­a de fado. “O meu tio começou a tocar muito novo e, como precisava de alguém que cantasse, lá ia eu. Lembro-me de ter uns 8 ou 9 anos e de o meu tio me ensinar uns fados, mas eu acho que não tinha jeito nenhum.”

Com 13 discos gravados, entre originais, registos ao vivo e parcerias, Mafalda Veiga é um dos nomes incontorná­veis da música portuguesa e uma das poucas mulheres na área do cantautori­smo. “Ainda hoje há poucas a escrever e a compor as suas próprias canções, mas já vão existindo algumas”, diz. O segredo sempre esteve no trabalho, mas sobretudo na inspiração. “Acredito que, sim, é importante o trabalho, mas a inspiração tem de lá estar. Muitas das minhas canções eu fi-las em pouco tempo, porque parece que eram coisas que já vinham feitas. Acho mesmo que isto é a minha vocação.” ●

“É muito importante o trabalho, mas a inspiração tem de lá estar”, defende

Mafalda Veiga.

 ??  ?? Mafalda Veiga ainda bebé ao colosua mãe, Maria da Conceição. da A cantora na festa de aniversári­o dos seus 2 anos com a mãe. Em 1987, quando lançou o disco Pássaros do Sul.
Mafalda Veiga ainda bebé ao colosua mãe, Maria da Conceição. da A cantora na festa de aniversári­o dos seus 2 anos com a mãe. Em 1987, quando lançou o disco Pássaros do Sul.
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal