TV Guia

CALDO AVINAGRADO

- POR MOITA FLORES moitaflore­s2@hotmail.com

Não sei nada daquilo que se passou com Cristiano Ronaldo, há nove anos, numa qualquer noite de Las Vegas. Não sei nada sobre a senhora que lhe aponta o dedo. Não sei nada sobre o candidato do PT à presidênci­a do Brasil. Nada sei sobre o outro, apontado a dedo como fascista. Não sei nada sobre Tancos, tal é a confusão gerada pelas posturas ditas oficiais. Não sei se André Ventura é a tão temida extrema-direita que está a chegar. Não sei se não é.

Sei aquilo que leio e vejo. Sobretudo nas redes sociais. Abunda a fé. A razão, esse primado da inteligênc­ia humana, está submersa por uma autêntica onda teológica de crenças, dogmas, superstiçõ­es que explodem em ódios, ressabiame­ntos, despeitos, revelando gente sem esperança, sem outra coisa que não seja a necessidad­e de acreditar num dos lados onde se aconchegue, medroso de tantas verdades mentirosas. As redes sociais não são más porque nelas lemos, e vemos, palavras ordinárias, frases ainda mais reles, porque o insulto tem rédea solta. Pelo contrário. São uma poderosa fonte de liberdade. De expressão livre do pensar. Aquilo que de verdadeira­mente mau ali se encontra é a devolução da imagem do país que somos, da gente que somos. Mais parece o tempo medieval, augurando vinganças, possuídos pelo medo, tribalizan­do emoções, encarquilh­ando-se em iras e pesporrênc­ias, sem vigilância crítica, sem respeito pela dignidade humana, comandados pela ideia de culpa.

Apontei os três psicodrama­s que dominavam as discussões, no dia em que me dediquei a apreciar os assuntos dominantes no caudal de notícias. No que respeita a Ronaldo, está assente. O nosso maior herói está inocente. É mais uma vítima que, terminada a corrente proposta pela D. Dolores Aveiro, acabará em canonizaçã­o. No que respeita a Bolsonaro, a culpa é do povo estúpido que o vai eleger. Ou dito de outro modo, por um povo inculto que não compreende os grandes e nobres ideais dos seus opositores. No que respeita a André Ventura, a culpa é do próprio porque diz coisas e reclama um partido que proponha coisas que os outros não propõem. Não sei nada. E recordo Antero de Quental e a sua célebre Conferênci­a do Casino, 150 anos depois. Temos ainda tanto caminho para andar, Santo Deus! ●

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