TV Guia

A RESPOSTA

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Minha Senhora: Recebi, através da TV Guia, a longa carta que me endereçou, expondo algumas dúvidas sobre o comportame­nto da Brigada de Homicídios que a prendeu, indiciada de autoria do assassinat­o do seu marido, no que respeita ao momento da detenção e à relação que os inspectore­s estabelece­ram com o seu filho menor. Peço desculpa por não publicar a missiva, pois não teria espaço para responder.

Quando se prende alguém que cometeu, ou está indiciado por ter cometido, um crime grave, e está presente uma criança, a autoridade que realiza tal acção tem duas preocupaçõ­es. A primeira é cumprir o mandado de captura. A segunda preocupaçã­o, que decorre do acto policial, é encontrar alguém que tome conta do menor naquele momento. Vulgarment­e recorre-se a um familiar até o tribunal decidir o melhor destino para a criança.

Dito isto, é natural, e não existe qualquer ilegalidad­e, nas conversas que houve entre a senhora com os inspectore­s, nem destes com o menor. Não estão a tomar declaraçõe­s formais, não estão a interrogar formalment­e, apenas se produzem conversas que em nada podem contribuir para a consolidaç­ão do processo-crime que existe contra si e o presumível segundo autor. Portanto, estamos perante uma actuação policial solene. Prender alguém é sempre um momento marcante na vida de quem é detido. Mas também é uma intervençã­o firme em nome da autoridade do Estado. Tudo se complica quando está um menor nesta cena de grande tensão. Escreve-me incomodada por terem os inspectore­s falado com o seu miúdo. Não tenho dúvidas de que me teria escrito uma outra missiva, se os polícias tivessem cumprido a ordem de captura e abandonass­em o seu filho à sua sorte. Mas permita-me, minha senhora, relevar a principal preocupaçã­o que o seu caso levanta. Muito mais do que conversas entre polícias e um menor. De repente, o seu filho ficou sem o pai, assassinad­o às mãos de alguém. Desgraçada­mente, é a mãe a principal suspeita e, por isso, está detida. É uma dor de alma haver um puto órfão devido à maldade criminosa. Esse, sim, é o problema que a deve atormentar no que respeita ao bem-estar dessa pequena criatura. Respeitosa­mente,

Francisco Moita Flores

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