As PERGUNTAS da Globo
Onde se compara o preconceito de muitos decisores do jornalismo em Portugal às perguntas objectivas, mas agressivas, dos apresentadores que entrevistaram Jair Bolsonaro no dia a seguir às eleições
Em Portugal, parte do jornalismo televisivo tem um problema: muitas vezes, as decisões editoriais baseiam-se nas convicções, e não na realidade dos factos. É por isso que os canais generalistas e as suas emissões de notícias conseguem mobilizar grandes operações de televisão para cobrir tragédias anunciadas, que muitas vezes nem sequer se concretizam, e falham redondamente quando se trata de reagir a acontecimentos relevantes, em cima da hora. É o pecado capital do jornalismo televisivo. Pulula por aí, nas redações, e voltou a acontecer nas eleições brasileiras. Domingo passado, SIC, TVI, e também, um pouco, a RTP colocaram as suas pedras no terreno, na expectativa do caos que iria resultar da previsível vitória de Bolsonaro. Os respectivos canais de notícias, incapazes de interromperem as emissões para reagirem a fogos, intempéries ou outras emergências em Portugal, desta vez artilharam-se por antecipação. A contagem dos votos numa noite pacífica, apenas com ligeiras escaramuças, deixou a nu um certo tom de desilusão. É o resultado do excesso de opinião nas decisões do jornalismo televisivo português. Muito desses decisores deviam ver com todo o cuidado o vídeo da entrevista do Presidente eleito ao Jornal Nacional, da Globo. William Bonner e Renata Vasconcelos talvez tivessem razão de queixa de Bolsonaro, que ameaça perseguir o jornalismo incómodo. Os pivôs sublimaram toda a agressividade. As perguntas, contidas, foram directas ao osso. São 13 minutos que aconselho a todos os leitores. Está no YouTube. Uma autêntica lição de jornalismo. ●