TV Guia

“Ela é a MULHER da minha vida”

- TEXTO HUGO ALVES I FOTOS RICARDO RUELLA

Aos 41 anos, o actor de Alma e Coração diz-se feliz e realizado. Tem a família perfeita e só não vai ao terceiro filho porque o País está longe de ser o ideal. O “Mini-Atleta”, como é conhecido entre os amigos, confessa ainda que a sua altura já lhe abriu portas, apesar de nunca lhe terem dado um papel de protagonis­ta

Como é que subitament­e se tornou malabarist­a na novela Alma e Coração? Eles precisavam de um macaquinho e resolveram que o melhor para isso era eu, Miguel Costa [risos]. Foi uma proposta muito tentadora por parte da SIC e da SP [Televisão]. Primeiro, porque o Rui é uma personagem de composição, um homem que nasceu, cresceu e vive no circo; e segundo, porque ia ter de me preparar a sério em artes circenses… Como é que se preparou? O que fiz foi ter cursos intensivos de malabarism­o e trapézio com a Cláudia [Vieira] e o Rui M.Silva. Além disso, aprendi a fazer modelismo de balões, porque, a certa altura, ele vai animar festas de crianças... E a realidade é que me senti mais preparado para o papel do que nunca. Tanto é que o malabarism­o hoje faz parte do meu diaa-dia. Não há dia nenhum que não pratique para dar mais credibilid­ade às cenas.

Foi fácil aprender?

Havia dias que era um desespero [risos]. Mas acaba-se sempre por conquistar alguma coisa. E nódoas negras? Várias. A fazer malabares levei com objectos na boca, porque eles batiam uns nos outros e acabavam por vir ter à minha cara. No trapézio fiquei todo negro e arranhado! Aquilo é duro. O que percebi também é que as pessoas que trabalham no circo perdem muito a sua vida pessoal… tal como o meu Rui. O bigode é ideia de quem? É um misto de inspiração no meu professor de malabarism­o, que se chama Mica, que tem um bigode gigante, e eu achei que aquilo era giro. O coordenado­r de projecto também achou e desafiou-me a fazer algo parecido.

E a sua mulher, Joana Rosa, achou piada?

Ela já está habituada a ter um maluco em casa, que, de vez em quando, aparece ou com o cabelo descolorad­o ou com a barba gigante... Eu até lhe digo que ela dorme com um marido dife- rente de tantos em tantos meses [risos]. Mas, voltando a esta mudança, além do bigode, furei as orelhas. No filme Linhas de Sangue, usei uns de íman, mas eles caíam muito, e aqui achei que tinha de entrar mais na personagem. E como o meu professor, o Mica, tinha as orelhas furadas, furei as minhas. Quando cheguei a casa, as minhas filhas ficaram radiantes porque também querem furar.

DA ECONOMIA AO AMOR

O Miguel tem feito diversos papéis, tanto na RTP como na SIC, mas nem sempre de forma regular. Assustou-o que subitament­e ficasse sem trabalho? [Pausa] A instabilid­ade hoje preocupa-me muito. Em qualquer área. Nunca estive parado, o que é um privilégio. Antigament­e, vivia muito menos preocupado com isso, porque não tinha filhos, tinha menos responsabi­lidades. Hoje,p reocupa-me muito mais. Mas também não sou de ficar à espera. Por isso, quando estou fora de antena, ando sempre a criar outras coisas e a batalhar.

Lembra-se quando é que quis ser actor? Aos 18 anos, fui atrás dos meus amigos, como ia em quase tudo desde os 12 ou 13, porque sempre gostei de ter amigos à volta, e fui parar a Economia. E rapidament­e percebi que não era nada daquilo que queria. Ainda para mais, parti a mão direita, na altura a fazer desporto, e não podia escrever, a ponto de ter de fazer os meus exames a ditar... Acabei a chumbar aquasetudo­no1.º ano. No2.º, depois, senti-me culpado porque os meus pais pagavam as propinas. Aí comecei a estudar, mas, no fim, e mais uma vez por causa de um amigo, fui fazer um curso de Verão de Expressão Dramática... E apaixonei-me perdidamen­te por isto. Entretanto, comecei a estudar na área, mas a trabalhare­m parttimep ar apagar os estudos. Além disso, acabei o curso de Economia ... Era giro porque tinhafacul­dade que depois me iam ver ao teatro, porque rapidament­e comecei a trabalhar.

Os seus pais não se assustaram?

Não! Mostraram-se um pouco preocupado­s, claro, mas sempre me apoiaram. Queriam era que tivesse a certeza de que estava a fazer a escolha

“Para fazer a novela, tive cursos intensivos de malabarism­o e trapézio. Havia dias que era um desespero. Tive várias nódoas negras e arranhões.

Aquilo é duro”

certa. Hoje, ficam todos orgulhosos, quer me vejam no teatro, na televisão, onde for. E guardam todas as entrevista­s que dou [risos]. Eles gostam que haja reconhecim­ento porque sabem que eu me dedico a isto 100 por cento.

Já que falamos do passado... Está casado há 10 anos...

Sim, há praticamen­te isso. O engraçado é que se conheceram muito antes disso. Sim, aos 13 anos. A Joana tinha 11. Foi numa festa de anos de uma amiga dela, numa matiné de discoteca [risos]. A Joana e a amiga estudavam na altura num colégio só de raparigas e pediram ao irmão deu ma amiga paralev arrapazes, porque, a ver vamos, uma festa só com raparigas não dava nada[ risos ]. E eu fui. Vi a Joana e ela era, sem dúvida, amiúdam ais girada festa. Eu, armado em chico-esperto, pedi-lhe para dançar... Ela deu-me uma nega [risos]. E acabou a festa. Reencontrá­mo-nos mui tomais tarde na Comuna, quando lá trabalhava, numas festas conhecidas. Subitament­e, lá apareceu a Joana com a irmã e eu não me tinha esquecido dela, nem do nome. Daí até namorarmos foi um instantinh­o. E o que posso concluir é que aJoanaéamu­l herda minha vida, a par das minhas filhas.

O que é que vos une?

Somos muito diferentes, mas temos um respeito enorme um pelo outro. E gostamos mesmo a valer um do outro. Não é uma relação perfeita, porque isso não existe... Quem pensar isso, tire o cavalinho da chuva. Temos as nossas discussões, as nossas coisas, mas tem havido uma vontade e um sentimento muito fortes para estarmos juntos. Isto nãoéciênci­a,é gostar e amar.

PAI PRESENTE

Ser pai, para si, era essencial?

Nunca foi algo falado, nem programado. Mas eu e a Joana queríamos muito.

Tem duas filhas, Luísa (6 anos) e Teresa (3). Pensa num terceiro filho? Eh pá, eu e a Joana gostávamos, mas não vivemos no País ideal para isso. Temosduas meninas lindas eperfeitin­h as. Mas o nosso País... O ensino, sabemos como é, os transporte­s públicos têm muito ainda para resolver, o Serviço Nacional de Saúde, que já me salvou avida, também tem muitos problemas… Salvaram-lhe a vida? O que aconteceu?

Ainda a Luisinha não tinha um ano, tive uma pneumonia grave atípica.

Não sabiam bem qual era a bactéria que estava a atacar-me, e por isso fiquei internado durante três semanas. Foi no Hospital de Santa Marta que me salvaram. Esteve em risco de vida? Não estive ligado à máquina, mas, enquanto não se sabia como combater aquela bactéria, não foi fácil. Estive numa ala onde morreram pessoas que estavam ao meu lado. Portanto, não era um brincadeir­a, mas acho que não estive em risco de vida. Felizmente, fui sempre bem tratado e acompanhad­o. Fala muito das suas filhas. Tem tempo efectivo para elas?

Sim, sim. E tento organizar-me para tal. Aprendi com a Rita Blanco e a Cleia Almeida a gerir o meu tempo com os filhos. Por elas, já dei muitos nãos, inclusive a trabalhos, porque sei que o tempo não se multiplica. Preciso de duas ou três horas com elas e com a minha mulher.

É impossível não perguntar como vai ser o vosso Natal?

Cheio! Nós vivemos muito esta época, como é natural. A Teresinha é que não gosta, porque o Natal e o aniversári­o (20 de Dezembro) são juntinhos [risos]. Nós praticamos muito aquela coisa do desapego, mas dá gozo ver as minhas filhas desembrulh­arem presentes [risos]. Mas é uma altura muito feliz.

Família reunida?

Toda! E com muita comida à mistura, como deve ser.

SER FELIZ

Apesar deste ar de miúdo, já tem 41 anos. Custou-lhe a entrada nos entas? Nada. E estou a ser sincero. Gosto muito de fazer anos e não me pesa... Talvez algumas dores como a ciática [risos]. Skate a mais.

Trata mais de si agora?

Mudei alguns hábitos. Não ando tanto de skate, por exemplo. E mudei hábitos alimentare­s, mas nada de transcende­nte.

Isso deve-se a ter um espaço na Internet, o Mini-Atleta, apenas dedicado ao desporto?

Não. Sempre gostei de desporto. Eu acho é que o digital é uma oportunida­de para todos nós... e barata. Tem é de se criar conteúdos originais, produtos

melhores e o segredo é fazer o que se gosta. O meu produto não é para massas, mas dá-me muito gozo fazer. O engraçado é que as minhas filhas adoram entrar nos vídeos. Quando estão doentes ou ficam em casa, por alguma razão, pedem logo para ajudar [risos]!

É feliz?

Tenho os meus dias, mas sou. E tenho motivos para tal: uma família linda, sou saudável, faço o que gosto em termos profission­ais... Mas não o sou todos os dias. Também há dias não! Mesmo assim, regra geral, sou mesmo feliz. ●

“Tive uma pneumonia grave atípica e fiquei internado durante três semanas, em Santa Marta. Estive numa ala onde morreram pessoas que estavam ao meu lado”

 ??  ??
 ??  ??
 ??  ?? Miguel Costa adora o Natal e promete uma época feliz em família. “Dá gozo ver as minhas filhas desembrulh­aremos presentes.”
Miguel Costa adora o Natal e promete uma época feliz em família. “Dá gozo ver as minhas filhas desembrulh­aremos presentes.”
 ??  ?? Em Alma e Coração, da SIC, o actor interpreta Rui, um homem do circo.
Em Alma e Coração, da SIC, o actor interpreta Rui, um homem do circo.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal