“Ela é a MULHER da minha vida”
Aos 41 anos, o actor de Alma e Coração diz-se feliz e realizado. Tem a família perfeita e só não vai ao terceiro filho porque o País está longe de ser o ideal. O “Mini-Atleta”, como é conhecido entre os amigos, confessa ainda que a sua altura já lhe abriu portas, apesar de nunca lhe terem dado um papel de protagonista
Como é que subitamente se tornou malabarista na novela Alma e Coração? Eles precisavam de um macaquinho e resolveram que o melhor para isso era eu, Miguel Costa [risos]. Foi uma proposta muito tentadora por parte da SIC e da SP [Televisão]. Primeiro, porque o Rui é uma personagem de composição, um homem que nasceu, cresceu e vive no circo; e segundo, porque ia ter de me preparar a sério em artes circenses… Como é que se preparou? O que fiz foi ter cursos intensivos de malabarismo e trapézio com a Cláudia [Vieira] e o Rui M.Silva. Além disso, aprendi a fazer modelismo de balões, porque, a certa altura, ele vai animar festas de crianças... E a realidade é que me senti mais preparado para o papel do que nunca. Tanto é que o malabarismo hoje faz parte do meu diaa-dia. Não há dia nenhum que não pratique para dar mais credibilidade às cenas.
Foi fácil aprender?
Havia dias que era um desespero [risos]. Mas acaba-se sempre por conquistar alguma coisa. E nódoas negras? Várias. A fazer malabares levei com objectos na boca, porque eles batiam uns nos outros e acabavam por vir ter à minha cara. No trapézio fiquei todo negro e arranhado! Aquilo é duro. O que percebi também é que as pessoas que trabalham no circo perdem muito a sua vida pessoal… tal como o meu Rui. O bigode é ideia de quem? É um misto de inspiração no meu professor de malabarismo, que se chama Mica, que tem um bigode gigante, e eu achei que aquilo era giro. O coordenador de projecto também achou e desafiou-me a fazer algo parecido.
E a sua mulher, Joana Rosa, achou piada?
Ela já está habituada a ter um maluco em casa, que, de vez em quando, aparece ou com o cabelo descolorado ou com a barba gigante... Eu até lhe digo que ela dorme com um marido dife- rente de tantos em tantos meses [risos]. Mas, voltando a esta mudança, além do bigode, furei as orelhas. No filme Linhas de Sangue, usei uns de íman, mas eles caíam muito, e aqui achei que tinha de entrar mais na personagem. E como o meu professor, o Mica, tinha as orelhas furadas, furei as minhas. Quando cheguei a casa, as minhas filhas ficaram radiantes porque também querem furar.
DA ECONOMIA AO AMOR
O Miguel tem feito diversos papéis, tanto na RTP como na SIC, mas nem sempre de forma regular. Assustou-o que subitamente ficasse sem trabalho? [Pausa] A instabilidade hoje preocupa-me muito. Em qualquer área. Nunca estive parado, o que é um privilégio. Antigamente, vivia muito menos preocupado com isso, porque não tinha filhos, tinha menos responsabilidades. Hoje,p reocupa-me muito mais. Mas também não sou de ficar à espera. Por isso, quando estou fora de antena, ando sempre a criar outras coisas e a batalhar.
Lembra-se quando é que quis ser actor? Aos 18 anos, fui atrás dos meus amigos, como ia em quase tudo desde os 12 ou 13, porque sempre gostei de ter amigos à volta, e fui parar a Economia. E rapidamente percebi que não era nada daquilo que queria. Ainda para mais, parti a mão direita, na altura a fazer desporto, e não podia escrever, a ponto de ter de fazer os meus exames a ditar... Acabei a chumbar aquasetudono1.º ano. No2.º, depois, senti-me culpado porque os meus pais pagavam as propinas. Aí comecei a estudar, mas, no fim, e mais uma vez por causa de um amigo, fui fazer um curso de Verão de Expressão Dramática... E apaixonei-me perdidamente por isto. Entretanto, comecei a estudar na área, mas a trabalharem parttimep ar apagar os estudos. Além disso, acabei o curso de Economia ... Era giro porque tinhafaculdade que depois me iam ver ao teatro, porque rapidamente comecei a trabalhar.
Os seus pais não se assustaram?
Não! Mostraram-se um pouco preocupados, claro, mas sempre me apoiaram. Queriam era que tivesse a certeza de que estava a fazer a escolha
“Para fazer a novela, tive cursos intensivos de malabarismo e trapézio. Havia dias que era um desespero. Tive várias nódoas negras e arranhões.
Aquilo é duro”
certa. Hoje, ficam todos orgulhosos, quer me vejam no teatro, na televisão, onde for. E guardam todas as entrevistas que dou [risos]. Eles gostam que haja reconhecimento porque sabem que eu me dedico a isto 100 por cento.
Já que falamos do passado... Está casado há 10 anos...
Sim, há praticamente isso. O engraçado é que se conheceram muito antes disso. Sim, aos 13 anos. A Joana tinha 11. Foi numa festa de anos de uma amiga dela, numa matiné de discoteca [risos]. A Joana e a amiga estudavam na altura num colégio só de raparigas e pediram ao irmão deu ma amiga paralev arrapazes, porque, a ver vamos, uma festa só com raparigas não dava nada[ risos ]. E eu fui. Vi a Joana e ela era, sem dúvida, amiúdam ais girada festa. Eu, armado em chico-esperto, pedi-lhe para dançar... Ela deu-me uma nega [risos]. E acabou a festa. Reencontrámo-nos mui tomais tarde na Comuna, quando lá trabalhava, numas festas conhecidas. Subitamente, lá apareceu a Joana com a irmã e eu não me tinha esquecido dela, nem do nome. Daí até namorarmos foi um instantinho. E o que posso concluir é que aJoanaéamul herda minha vida, a par das minhas filhas.
O que é que vos une?
Somos muito diferentes, mas temos um respeito enorme um pelo outro. E gostamos mesmo a valer um do outro. Não é uma relação perfeita, porque isso não existe... Quem pensar isso, tire o cavalinho da chuva. Temos as nossas discussões, as nossas coisas, mas tem havido uma vontade e um sentimento muito fortes para estarmos juntos. Isto nãoéciência,é gostar e amar.
PAI PRESENTE
Ser pai, para si, era essencial?
Nunca foi algo falado, nem programado. Mas eu e a Joana queríamos muito.
Tem duas filhas, Luísa (6 anos) e Teresa (3). Pensa num terceiro filho? Eh pá, eu e a Joana gostávamos, mas não vivemos no País ideal para isso. Temosduas meninas lindas eperfeitinh as. Mas o nosso País... O ensino, sabemos como é, os transportes públicos têm muito ainda para resolver, o Serviço Nacional de Saúde, que já me salvou avida, também tem muitos problemas… Salvaram-lhe a vida? O que aconteceu?
Ainda a Luisinha não tinha um ano, tive uma pneumonia grave atípica.
Não sabiam bem qual era a bactéria que estava a atacar-me, e por isso fiquei internado durante três semanas. Foi no Hospital de Santa Marta que me salvaram. Esteve em risco de vida? Não estive ligado à máquina, mas, enquanto não se sabia como combater aquela bactéria, não foi fácil. Estive numa ala onde morreram pessoas que estavam ao meu lado. Portanto, não era um brincadeira, mas acho que não estive em risco de vida. Felizmente, fui sempre bem tratado e acompanhado. Fala muito das suas filhas. Tem tempo efectivo para elas?
Sim, sim. E tento organizar-me para tal. Aprendi com a Rita Blanco e a Cleia Almeida a gerir o meu tempo com os filhos. Por elas, já dei muitos nãos, inclusive a trabalhos, porque sei que o tempo não se multiplica. Preciso de duas ou três horas com elas e com a minha mulher.
É impossível não perguntar como vai ser o vosso Natal?
Cheio! Nós vivemos muito esta época, como é natural. A Teresinha é que não gosta, porque o Natal e o aniversário (20 de Dezembro) são juntinhos [risos]. Nós praticamos muito aquela coisa do desapego, mas dá gozo ver as minhas filhas desembrulharem presentes [risos]. Mas é uma altura muito feliz.
Família reunida?
Toda! E com muita comida à mistura, como deve ser.
SER FELIZ
Apesar deste ar de miúdo, já tem 41 anos. Custou-lhe a entrada nos entas? Nada. E estou a ser sincero. Gosto muito de fazer anos e não me pesa... Talvez algumas dores como a ciática [risos]. Skate a mais.
Trata mais de si agora?
Mudei alguns hábitos. Não ando tanto de skate, por exemplo. E mudei hábitos alimentares, mas nada de transcendente.
Isso deve-se a ter um espaço na Internet, o Mini-Atleta, apenas dedicado ao desporto?
Não. Sempre gostei de desporto. Eu acho é que o digital é uma oportunidade para todos nós... e barata. Tem é de se criar conteúdos originais, produtos
melhores e o segredo é fazer o que se gosta. O meu produto não é para massas, mas dá-me muito gozo fazer. O engraçado é que as minhas filhas adoram entrar nos vídeos. Quando estão doentes ou ficam em casa, por alguma razão, pedem logo para ajudar [risos]!
É feliz?
Tenho os meus dias, mas sou. E tenho motivos para tal: uma família linda, sou saudável, faço o que gosto em termos profissionais... Mas não o sou todos os dias. Também há dias não! Mesmo assim, regra geral, sou mesmo feliz. ●
“Tive uma pneumonia grave atípica e fiquei internado durante três semanas, em Santa Marta. Estive numa ala onde morreram pessoas que estavam ao meu lado”