Desaparecimento vira CASO DE JUSTIÇA
As autoridades deixaram de procurar Nuno Batista: os polícias do mar esperam que este o devolva. Os que patrulham em terra não gastam gasóleo para o encontrar. Resta um processo judicial que pode ser arquivado
Ocapitão Vasco Toledo Cristo, o oficial que comanda a Capitania do Porto de Peniche, hesita por uns segundos quando a TV Guia o questiona sobre se as marés podem dar uma resposta quanto à possível localização do corpo do cantor Nuno Batista, de 40 anos, o artista musical que desde 2009 se popularizou com a figura Zé do Pipo e que está desaparecido desde 5 de novembro de 2018. “Quem falou em corpo foram vocês… Um suposto corpo, com as correntes, pode ser levado para alto mar e aí encontrar vários fatores que determinam como e quando reaparece, se alguma vez reaparecer”, avança. No caso do misterioso desaparecimento de Zé do Pipo, as “buscas em água” realizadas pela Polícia Marítima duraram “apenas uma semana e terminaram” .Já as buscas em terra “nunca acabarão”, assegura o responsável pelo vasto espaço marítimo na região centro do País. Ainda segundo o capitão Vasco Toledo Cristo, o processo de Nuno Batista já não está na Capitania do Porto de Peniche. “Também deixou de estar sob a tutela da PSP de Peniche e foi entregue, para investigação, a um procurador do Ministério Público do DIAP no tribunal da comarca de Peniche”, informou. Sem novos indícios, este processo que corre agora na justiça portuguesa pode ser arquivado dentro do prazo legal.
Quanto ao tipo de trabalhos que estão sobre a sua tutela, a deriva de um – e reforça sempre - “suposto corpo” depende de inúmeros fatores, tão díspares quanto “as
correntes, a temperatura da água, o peso e a constituição física da pessoa ou até o tipo de roupa que enverga no momento do afogamento”, esclarecendo que “os corpos, por norma, afundam numa primeira fase, depois emergem à superfície e depois podem voltar a afundar. Mas pode haver variantes, como ficarem presos nas rochas, no fundo do mar, e é por isso que há casos em que as pessoas nunca aparecem”, disse, relembrando a tragédia de Entre-os-Rios, em Castelo de Paiva, em 4 de março de 2001, em que morreram 59 pessoas com a queda da ponte Hintze Ribeiro, mas em que 36 corpos nunca foram resgatados.
FAMÍLIA JÁ DESISTIU
As autoridades deixaram de procurar Zé do Pipo e a família e amigos do cantor também perderam a esperança de o encontrar com vida. Os pais, Rosa e Carlos Batista, são a expressão da resignação e mostraram-na, numa entrevista que deram a Manuel Luís Goucha, que foi emitida no passado dia 10 de janeiro, no programa Você na TV, na TVI. Nessa conversa, segundo o pai do artista desaparecido, a fé no seu regresso com vida é nula. “Não alimentamos esperanças devido à doença bipolar que tinha muito avançada. Derivado a certas coisas a que recorreu, como ver as marés na internet, e chegou a dizer ao psiquiatra que faria o que temos no pensamento que fez”, relatou Carlos Batista.
Rosa, a mãe de Zé do Pipo, relembra que o filho falava em perdão, e que o pediu antes de desaparecer. Várias vezes: “Chegou a
dizer à mulher, se um dia fizesse, que… era para o perdoar”. A família foi reagindo, contam os pais, fazendo o que podiam: “Não o deixando sair de casa, não o deixando conduzir. Dentro do possível fomolo resguardando e dando a assistência médica que precisava”, contou o pai Carlos, acrescentando como se sentiu enganado por supostas melhoras ditas pela boca do filho. “Uma semana antes do desaparecimento foi um grande ator. Deunos a entender que estava a melhorar”, descreveu o pai, secundado pela mulher, Rosa, que acrescentou mais uma camada de informação e adiantou que o filho “até falava em ir para França”, depois de em outubro último o psiquiatra que o assistia o ter aconselhado a pôr termo à carreira artística devido aos estados depressivos que, supostamente, se agravaram com a vida ativa itinerante em cima dos palcos.
SURTOS DA DOENÇA DURANTE O VERÃO
A bipolaridade de Nuno Batista terá sido, segundo revelam os pais, diagnosticada no verão de 2016, quando o cantor terá tido um surto da patologia. “Antes de 2016 não tinha sido detetado nada, depois esteve parado quatro meses, derivado a uma depressão e era acompanhado e medicado pelo psiquiatra. Em 2017, no início, abandonou a medicação por auto recriação. Cortou com a medicação de um dia para o outro, não fez desmame e teve uma recaída no verão de 2018”, descreveu Carlos Batista, sendo interrompido pela mulher para dizer a Goucha que o filho lhe dizia sempre que se sentia ●