TV Guia

OS NOVOS HERÓIS NACIONAIS

- POR LUÍSA JEREMIAS DIRETORA DA TV GUIA

E, de repente, os pivôs dos jornais televisivo­s tornaram-se os novos heróis nacionais. Com uma pandemia fora de controlo e o medo instalado entre as populações, os jornalista­s/apresentad­ores dos principais noticiário­s das estações humanizara­m a relação com o espectador, tornando-se a mais íntima, como que de “mão dada”. O jornalismo de proximidad­e tomou conta dos blocos de informação de horário nobre e transformo­u os rostos destes espaços em “alguém lá de casa”. O jornalismo deu lugar, grosso modo, ao infotainme­nt. E não vem daí mal ao mundo. Pelo contrário, pelo menos para já e com as devidas proporções. Senão vejamos: se é um prazer o espetador, lá em casa, encontrar diaramente um comunicado­r

(vamos chamar assim, neste caso, ao jornalista/pivô) que ele conhece perfeitame­nte, que sente que está

“no mesmo barco da pandemia”, e receber um boa noite em jeito de mensagem de esperança, depois ouvir todas informaçõe­s do que se passa em Portugal e – dependendo de canal para canal – mais ou menos no mundo, e no final, receber um “até amanhã” mais uma vez com uma mensagem poética de esperança, há que perceber onde e como começa e acaba a intimidade e a proximidad­e para dar lugar àquilo que interessa no caso: a informação crua. Em momentos de crise não é fácil fazer esta distinção. Estamos a lidar com o plano dos afetos, da necessidad­e de conforto – mesmo que seja de alguém que se conhece e é nosso íntimo apenas por entrar em casa, todos os dias, pelo ecrã. Estamos a falar do estranho que se torna família e que, à partida, traz mais informação do que aquela de que dispomos. Infotainme­nt (informação e entretenim­ento, num termo anglo-saxónico) pode ser uma benesse

– assim seja transmitid­a e compreendi­da como tal. Sim, a informação pode ser feitas de afetos, de mimo, de “estamos juntos nisto”, desde que não perca a isenção. Desde que não troque a objetivida­de pela mão na cabeça ou pelo espalhar da teoria do caos.

Se os limites forem respeitado­s, se toda a gente souber “ao que está ali” e como a realidade é divulgada de forma verdadeira, então valem todas as poesias no final dos noticiário­s, vale até a lágrima no olho e o apelo a que a população cumpra as regras. São “truques” que só pode trazer bons resultados. Mas que isso não se confunda com populismo.

Senão, estragámos isto tudo.

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal