“UNIÃO na comunidade?”
Sem filosofias nem palavras difíceis: sou contra qualquer forma de preconceito. Matar pelo tom de pele, pela orientação sexual ou religiosa não se tolera. Toda a gente fala. A maioria não sabe o que é viver com uma espada sobre a cabeça. Todas as causas são importantes, mas não ponho por exemplo lado a lado a questão racial e a diferença salarial entre homens e mulheres. São realidades incomparáveis. Tenho de deixar isto claro. Assumo no entanto que há problemas por resolver dentro da própria comunidade. Cheguei de Moçambique na década de 1980. Luto pela união (como tantos outros) desde o arranque dos anos 90. Lamento que haja divisões entre nós. Que se tenha criado uma elite negra que se distancia dos restantes. Custa-me que rapazes e raparigas negros como eu ainda encham as cadeias. São provavelmente os que mais precisam do apoio dessa elite entretanto focada em tudo, com excepção no essencial e nas questões práticas dos dias que vivemos. Criar grupos de trabalho e resgatar estes jovens enquanto se vai a tempo é o que desejo e estou empenhada nesse sentido. Conheço a realidade por andar no terreno e ver de perto como se sobrevive trabalhando durante todo o dia para garantir o jantar da família ao entardecer. Quando a elite negra é incapaz de se aproximar, quando a elite negra não se compromete, não se mistura com os seus, quando a elite negra se cala perante injustiças, quando a elite negra confunde conceitos e atinge a comunidade está a ser altamente ofensiva. Está a desrespeitar a memória dos nossos antepassados que lutaram e morreram para que eles hoje se mantenham confortavelmente. Todos contam. A comunidade africana não merece ser esquecida pelos restantes que se conseguiram projetar. Estes, que não vivam por favor da validação e aprovação alheia. Não queiram levianamente agradar e pedir aplausos. Não julguem que tudo está ganho e conquistado. Todos contam. Estamos no mesmo barco, mas quando a elite negra se deslumbra perde a identidade e estraga tudo. Estarei sempre ao lado da comunidade africana, gente real. Por nós, não deixarei de lutar. Quanto à elite negra, que tenha em mente quem é na sua essência e quando fizer uso da voz que seja para discursos responsáveis. O medo só atrapalha. Aproximem-se. Sabem porquê? O sucesso individual de nada serve. Para onde vamos e quem somos sem essa força de conjunto?