Crónicas muito SENTIMENTAIS

São páginas singulares de reflexão, puro pensamento crítico sobre a realidade e a memória íntima. As palavras são atuais, espelham os medos e as alegrias da humanidade. Uma compilação das suas semanas na rádio

Dois anos de crónicas semanais de Lídia Jorge, que a 18 de junho completa 74 anos, na RDP Antena 2, estão na génese deste projeto literário que vê a luz no período pós-Covid-19. Em Todos os Sentidos, assim se chama o livro e também o programa de rádio onde a escritora lê os seus textos, em podcast de entre 7 a 10 minutos, espelha as ansiedades e medos e reflete as suas alegrias e conquistas. São 40 crónicas de análise do mundo, introspeções do pensamento humano.

Numa delas, A Cidade Invisível, a romancista de Boliqueime, no Algarve, explica que esta cidade é, para si, “a cidade digital”, aquela pela qual se tinha batido 20 anos antes com entusiasmo e inocência, entretanto perdidos. Nesse escrito, Lídia Jorge enuncia os perigos que a nova realidade digital trazia. “O receio de que as pessoas perdessem a sua intimidade (...) Pois todo o ser humano precisa de manter os seus segredos”, mas também “o receio de que se mudasse a relação de procriação, sem beijos ou mordidelas, apenas através de meios artificiais, prescindido de um ventre (...), que se perdesse a singularidade do ser humano e as crianças fossem simplesmente gado, bando perdido na cidade.”

Na apresentação da obra, autora e editora anunciam qual foi o maior desafio metafísico: “Como não podemos vencer o Tempo, escrevemos textos que o desafiam a que chamamos crónicas.” 