TV Guia

“Fiquei sem NADA!”

José Cid vive sufoco financeiro e parte a loiça toda

- TEXTO JOÃO BÉNARD GARCIA I FOTOS COFINA MEDIA E D.R.

Gastou 20 mil euros num disco que vai ficar na gaveta até ser viável usar mais 30 mil para o editar. Teve mais de 30 concertos cancelados, na sua maioria com mais de 10 mil pessoas a assistir. O consagrado cantor, que conquistou um Grammy Latino, volta a atacar Tony Carreira e explica como trataria os jovens irresponsá­veis que andaram a disseminar covid-19

“Isto está a ser um desastre!” É desta forma que José Cid, de 78 anos, sintetiza o que os artistas estão a viver por culpa da pandemia da covid-19. “O Governo determinou que não haverá mais espetáculo­s ao ar livre até setembro e acabámos por apanhar todos por tabela. Estamos todos tramados. Falei ontem com o [Jorge] Palma e ele está revoltadís­simo”, revela o cantor, preparando-se para mostrar aos leitores da TV Guia a hecatombe financeira que esta travagem artística brusca está a provocar na sua carreira.

“Eu e a Gabriela [Carrascalã­o, a mulher] vivemos das nossas poupanças, não temos offshores nem fortunas em bancos”, dispara, explicando onde gasta hoje em dia o dinheiro: “Tenho um jardineiro que me toma conta da quinta e ganha o ordenado mínimo. Pago a um primo que me trabalha fisicament­e os três cavalos de competição porque eu já não monto, perdi o gosto. E tenho um jockey que vive dos prémios que ganha nas competiçõe­s. As restantes 17/18 pessoas que dependem dos meus espetáculo­s estão paradas e não é uma coisa insignific­ante: só para terem uma ideia, de cada vez que cruzo o portão da minha quinta para ir fazer um concerto, já gastei 17 mil euros com todos os meus colaborado­res.”

APOSTA NA INTERNET

José Cid tinha mais de 30 concertos marcados e, no início da pandemia, viu os organizado­res, um a um, a desmarcare­m-lhe “todos os concertos”. “Fiquei sem nada! Fiquei sem trabalho. Zero!”, lamenta.

Com os temas do álbum Vozes do Além (que já lhe custou 20 mil euros a compor, e para o qual precisará de 30 mil para editar e por ora ficará na gaveta por falta de fundos), o cantor natural da Chamusca que vive em

Mogofores, nos arredores de Coimbra, tem-se resignado, para não enferrujar o piano e os dedos, a gravar um programa caseiro de 30 minutos, a que chamou Lusco-Fusco e que, nos seus melhores dias de emissão (“os do confinamen­to”, segreda-nos), chegou a ter 100 mil seguidores na Internet. “A Gabriela incentivou-me a fazer o programa para não estar parado. Eu estimulo-a a pintar para não perder a criativida­de”, conclui. Com um megaespetá­culo agendado para setembro no Altice Arena, em Lisboa, José Cid mostra-se disposto, se necessário for, a desdobrar atuações: “Não me importo, por uma questão de segurança e saúde pública, a fazer dois concertos. Só quero que as pessoas estejam e se sintam seguras. Com esta idade consigo estar três horas seguidas a cantar, sempre a transmitir felicidade. Dou cinco a zero ao gajos da minha geração.”

ATAQUE A TONY E CRÍTICAS AOS MÍUDOS

Questionad­o sobre a hipótese de ter de cancelar a atuação dentro de meses na na Altice Arena, à semelhança do que fez Tony Carreira a 14 de março, o compositor ribatejano sublinha que são “duas situações muito diferentes”. E deixa um lamento: “Perdeu-se a oportunida­de de, finalmente, apreciar o primeiro álbum de canções originais de Tony Carreira, aquele em que, em princípio, deixará a receita pérfida de copiar composiçõe­s dos outros.” Relativame­nte ao facto de os casos da covid-19 estarem a aumentar na região de Lisboa, José Cid explica o que faria aos inconscien­tes: “A rapaziada de Lisboa e Sul do Tejo, que anda em borgas em festas privadas nos hotéis, devia ser regada a tinta azul, como aquela com que nos regaram em 1968 em Coimbra, para ficarem marcados com a porcaria que andam a fazer às escondidas.” 

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“Refugiado” na quinta de Mogofores, o cantor tem 18 funcionári­os.
Casado com Gabriela Carrascalã­o, o artista estimula-a a pintar.
José Cid garante que perdeu o gosto por montar, mas mantém os cavalos por paixão. “Refugiado” na quinta de Mogofores, o cantor tem 18 funcionári­os. Casado com Gabriela Carrascalã­o, o artista estimula-a a pintar.
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Lusco-Fusco e assim combate o confinamen­to.
O Grammy Latino de excelência musical que conquistou a 14 de novembro de 2019.
Em setembro deverá voltar aos grandes concertos, se a pandemia não piorar.
No seu estúdio, lançou o programa Lusco-Fusco e assim combate o confinamen­to. O Grammy Latino de excelência musical que conquistou a 14 de novembro de 2019. Em setembro deverá voltar aos grandes concertos, se a pandemia não piorar.

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