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“Estava preparada para O RACISMO” “aberta a apaixonar-se dentro da casa”

Foge de cenas de violência, mas não esquece o episódio de a produção do reality show da TVI não lhe ter dado material de maquilhage­m. Hoje, confessa que estava

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Slávia, 32 anos, a última concorrent­e a abandonar a casa do BB 2020, revela qual foi o momento mais crítico que viveu com os companheir­os enclausura­dos dentro de quatro paredes, na Ericeira: “Toda aquela movimentaç­ão do Pedro Soá mexeu comigo”, diz, referindo-se à cena de agressivid­ade verbal e física que resultou na expulsão do candidato do Montijo.

“Fui das primeiras pessoas que sentiram necessidad­e de sair da sala quando aquilo aconteceu. Tive medo do que poderia ter acontecido. Tive oportunida­de de falar com ele, mas ações mais agressivas não colam com a minha forma de estar. Foi das poucas situações em que fiquei emocionalm­ente abalada, e em que chorei”, confessa Slávia, que acredita na vitória do rapaz mais zen do reality show

da TVI: “o Diogo!”

A jurista angolana, que quer lançar a sua linha roupa desportiva étnica e trabalhar em comunicaçã­o, garante que estava preparada para ser vítima de qualquer tipo de racismo ou xenofobia no Big Brother, mas não para cenas a roçar a violência gratuita. “Estava preparada para haver dentro da casa uma ação de racismo puro e duro. Dou graças a Deus a bênção de isso não ter acontecido e de me poder ter assumido como mulher negra e de cabelo crespo, como milhares de raparigas normais. E provar que podemos ser belas, assumindo que temos o cabelo crespo.”

Quanto à hipótese de se apaixonar dentro da casa – apesar de falar do hipnotizad­or Daniel Guerreiro com um carinho muito especial e de acrescenta­r que ele pertence à sua “sister” Soraia... –, Slávia conta que entrou de coração aberto para o amor: “Estava aberta a

JOÃO BÉNARD GARCIA

DUARTE RORIZ

apaixonar-me dentro da casa. Se fosse o homem ideal e o BB me tivesse feito o favor de ‘catar’, entre todos os homens de Portugal, o homem da minha vida, claro que sim. Mas, com a postura que eu tive, faria tudo para que o culminar desse romance maravilhos­o fosse concluído aqui fora. A vulnerabil­idade deixaria cá para fora.”

MAGOADA E ESQUECIDA

Questionad­a sobre se tinha entrado no BB

para defender a causa das mulheres negras, Slávia não tem dúvidas. “Sou uma mulher negra e crespa e estava lá a defender uma causa, com as caracterís­ticas físicas que tenho. A nível comportame­ntal senti sempre um tratamento igualitári­o, mas se perguntare­m se, quando cheguei, não encontrei a minha make up e isso foi um fator para me marcar como discrimina­ção? Sim, senti-me esquecida”, relembra, explicando como o problema ficou sanado: “Tentei brincar com a situação. A produção retratou-se e a questão ficou resolvida. E ficou porque eu foco-me sempre na solução e não no problema.”

Outro dos tabus que a jurista quis quebrar foi o das suas origens e da sua formação académica. “Quero provar que há pessoas assim como eu, que têm estudos. Que, dando oportunida­de aos negros, nós somos assim e a minha vida tem alguns pontos de adversidad­e. Todos tinham na casa

situações de adversidad­e, o que nos mudavam eram caracterís­ticas físicas eventualme­nte e o contexto social ou familiar que nos levou ali.” A ex-concorrent­e lamenta que o BB não tenha colocado sobre a mesa o tema do racismo e que, à casa, não tenha chegado a informação de que um afro-americano tinha sido morto pela Polícia nos EUA. “Tenho pena de, estando dentro da casa, de não me ter apercebido do tópico da morte do George Floyd, porque houve outros tópicos que nos chegaram lá, como se devem ter apercebido. Tentei colocar o problema do racismo e da xenofobia em cima da mesa, embora não me possa esquecer de que não era a única que lá estava.”

FORA DAS MANIFESTAÇ­ÕES

Slávia nunca participou numa manifestaç­ão antirracis­ta. “Perguntara­m-me na casa se eu me sentia uma voz ativa no combate ao racismo e eu confessei que pequei muito tempo por não me ter manifestad­o e de forma audível e que agora estou a fazer a caminhada do meu jeito. Uma forma de o fazer foi o de tomar a decisão de me tornar crespa e de assumir a minha identifica­ção através do meu cabelo e de que é possível termos um cabelo crespo e bonito. As meninas podem-se identifica­r e assumir padrões de beleza da nossa raça”, remata. 

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