COMO AS COISAS MUDAM APÓS O APLAUSO LÁ FORA
Vamos falar de duas histórias de talento. Começamos pela mais imediata. Nuno Lopes é um caso de sucesso há muitos anos. Fez sorrir os portugueses nos sketches “secos” de Herman José, enlouqueceu as brasileiras, há quase 20 anos, na novela Esperança, da Globo, decidiu que não queria ser famoso, queria era ser feliz e tornou-se DJ nas horas vagas, e voltou (de vez) para mostrar que é um ator do outro mundo no cinema, no filme português São Jorge, no qual faz um boxeur decadente. O boxeur deu lugar ao Boxer, de White Lines, novo sucesso de popularidade da Netflix, uma série em que dá corpo a um porteiro “bonzão” (no duplo sentido da palavra) de discoteca em Ibiza. O mundo rendeu-se, Portugal rendeu-se e Nuno Lopes transformou-se num fenómeno planetário. Profissionalizou (e de que maneira) a sua comunicação nas redes sociais (Twitter, em especial) mas, sendo vedeta, nunca ganhou tiques de tal. Pelo contrário. Continua o Nuno
Lopes que gosta de paz e sossego, que não quer ser estrela (sendo-o) pois mais do que vida pública tem talento. E isso é o que fica quando tudo passa. Hoje, não há quem não queira trabalhar com Nuno Lopes. E é ele quem escolhe o que quer fazer. Não como antes. Com o poder de o fazer sem correr riscos.
Esta semana tornou-se público um segundo caso. José Condessa caiu no goto dos brasileiros com a novela em que participou (também) na Globo. A covid-19 e uma série de trapalhadas atrapalharam essa internacionalização da carreira e do talento para a delimitar, de novo, às fronteiras nacionais. Isso é necessariamente mau? Não, se Condessa, ator jovem e talentoso, estiver seguro do que quer para o seu futuro e não se deixar manipular por vontades terceiras. Se assim for, a vida segue. Nuno Lopes também fez as suas opções e não se arrependeu delas. Mas Condessa ainda não é Nuno Lopes. Poderá vir a ser se trabalhar para isso. Muito. Se privilegiar o talento em vez da imagem. E se souber crescer. A verdade é que há uma vida antes e depois dos aplausos internacionais. Uma coisa é trabalhar “lá fora”, outra é ter sucesso. Como aconteceu (também) com Pêpê Rapazote. Depois das palmas há que sustentar. Esse é o segredo. Aguardemos.