QUANTO CUSTA COMPRAR O QUE PODE ATÉ NEM ESTAR À VENDA?
Como É Que O Bicho Mexe?, no Instagram, agitou o mercado. Com convites da RTP e TVI, Bruno optou pela SIC.
Uma destas noites estava a ouvir
Nuno Markl – personagem que muito estimo pela postura, talento e cultura urbana que tem demonstrado publicamente – num daqueles lives em que se diz o que se diz “tudo como os malucos”. Contava o Markl ao meu amigo e realizador Alexandre Montenegro que tinha chegado a falar com Bruno Nogueira sobre como seria ter o Bicho a sair do Instagram e a chegar a um canal de televisão. Os dois (Bruno e Markl) concordaram que não tinha nada a ver. Como É Que o Bicho Mexe é um produto da e para a Internet – isso já sou eu a dizer – diferenciado, para uma imensa comunidade alternativa que existe em Portugal, que cruza gerações, também ela urbana, mas que está ali. Não está no sofá a ver novelas. Está de telemóvel na mão a consumir o que lhe diz alguma coisa.
A questão, continuo eu a pensar, é que quem está de telemóvel na mão, no sofá, a deslizar o dedo pelo ecrã, em busca do que “está a dar” nas redes sociais, pode parar naquilo que até nem lhe diz nada, mas do qual se fala. E fica. E comenta. E assim o alternativo se vai tornando, lentamente, banalizado, obrigatório, tendência. Foi assim que Ricardo Araújo Pereira, contratado pela SIC e com o seu programa em horário nobre, se tornou líder de audiências numa televisão generalista. E é assim que o homem que banalizou uma asneira cabeluda que não me atrevo a escrever aqui se prepara para seguir o mesmo caminho, no mesmo canal, (espero eu) à sua maneira.
Será que Markl se enganou? Será que o Bicho pode ter o seu lugar, sim, num canal generalista? Com público fiel? Os tais 100 mil que seguiam o live sem pestanejar? Não sei se se enganou, mas sei que tudo tem o seu preço e o seu momento. E se o momento é o de Bruno Nogueira, não há televisão que não quisesse chegar a um entendimento com ele. Mesmo que não estivesse à venda. Mesmo que não acreditasse. Mesmo que tudo isso junto. Mas com promessas de “fazes o que queres”, não há quem resista. Afinal, se até Moro aceitou ser ministro de Bolsonaro... por que não há-de Bruno voltar à SIC? Com votos de que seja como ele gosta e sabe. E nós aplaudimos.