AGORA A CULPA É “DOS SUPERMERCADOS”: OS NÚMEROS DA VERGONHA
Se o que se faz neste ‘meu sofá’ é ver televisão, então esta semana esta crónica é sobre aquilo a que se assiste em tempo de pandemia: ao horror e à vergonha em que se transformou este País que mente, descaradamente, a si próprio sobre comportamentos, sobre a sua saúde e a dos outros.
Ver televisão transformou-se num flagelo, num ato de masoquismo, de questionamento sobre “como chegámos aqui”. O que vemos? Hospitais em caos, depoimentos desesperados de profissionais de saúde, gritos de ajuda, dedos esticados a indicar culpas e mais culpas. Culpa do Governo, culpa do Natal, culpa dos restaurantes, culpa até dos supermercados. Culpa de toda a gente menos de nós. Menos dos encontros que se mantiveram dos quais se postaram fotos nas redes sociais com a legenda “só tirámos a máscara para a foto”. Que falta de amor-próprio! Que falta de respeito pelos nossos. Ah, pois é, o Governo não proibiu tirar selfies... por isso continuámos a tirar, não foi? Também não proibiu os jantares em casa. Só com grupos grandes. Por isso fizemos. Afinal, a Polícia não entra numa casa particular, não é? Vivemos num País – concluo no dia em que escrevo esta crónica e, sentada no meu sofá, assisto à catástrofe de haver 218 mortos num só dia, num País minúsculo, com menos de dez milhões de habitantes – de burros. A culpa não é do Governo, nem dos profissionais de saúde que já não têm mãos a medir nem capacidade para salvar todos. A culpa é destas bestas em que nos tornámos, incultos, estupidificados, paus-mandados que só sabemos obedecer a proibições e não conhecemos o sinónimo de liberdade de escolha e de pensarmos. Que não raciocinamos no certo e no errado. Que nos tornámos analfabetos pretensiosos, sempre prontos para pôr a cabeça a funcionar para arranjar um “esquema” para enganar “a lei” mas incapazes de perceber a gravidade da situação, a não ser, infelizmente, quando “bate à porta.”
E agora queixem-se do desemprego, e da falta de apoios e do raio que parta. Acordem! Percebam o valor da liberdade e do respeito. É só.